domingo, 21 de abril de 2013

Diálogos imaginários.

Todas as pessoas do mundo, acredito eu, umas com mais frequência, outras com menos, costumam fantasiar diálogos:
- Então você me ama?
- Amo!
- Esse tempo todo você só queria saber se era recíproco, se eu ia lutar por você?
- Sim!
*se beija na chuva*
- Óh, eu te amo tanto!
- Eu também, você é a mulher da minha vida! Quantos filhos você quer ter?
- Três, a Tertúlia, a Afrodite e o Pelelon.
- Ué, serão filhos ou cachorros?
- Filhos, mas acho que eles vão gostar de ter nomes de cachorros, aí a gente dá nome de filho pros nossos cachorros.

etc etc etc

De qualquer maneira, em geral fazemos isso com nosso objeto de afeto romântico ou com pessoas que a gente sente muita falta.
Hoje eu me peguei fazendo diálogos com a ruiva.

A história da ruiva é a seguinte:

Um dia eu vi uma pessoa igual a mim respondendo o formspring.
Digo, muito auto-elogioso chamar de igual a mim, mas tudo que ela respondia me era familiar e agradável e eu pensei "eu preciso ser amiga dessa menina, como ela é adorável".
Nós nos adicionamos em redes sociais e nunca nos falávamos, exceto um eventual "vamos fazer um pic-nic?", porque era tão claro que nós deveríamos nos conhecer, era natural.

E um dia nos conhecemos, nada de pic-nic, só nos encontramos numa cafeteria em São Paulo e conversamos das 14h às 22h, só paramos porque eventualmente teríamos que voltar pra casa, caso contrário acho que ainda hoje estaria lá.

Pode parecer estranho até porque a gente não se conhecia, nem nunca tinha se falado, nada, nadinha, foi nosso primeiro contato, mas é como se a gente TIVESSE que ser amigas. Poxa, só sentar do lado dela e falar coisas da vida me deixava num estado radiante.
Quando a gente marcava de se encontrar eu ficava feliz desde o momento, mesmo que nos encontrássemos só dali uma semana, saber que a veria já me fazia sorrir e sorrir.


E nós fomos tão amigas e ela me apresentou amigos dela, a mãe dela, a gata dela, a casa dela, me emprestou roupa e sapato, me mostrou os LPs dela, eu dormi na casa dela, ela me apresentou uma das bandas que eu mais gosto até hoje, ela foi ver uma exibição de um curta que eu participei, a gente saiu juntas, eu estava lá quando ela voltou com o rapaz que ela amava, eu estava lá quando ela ficou triste depois, nós tomávamos café, nós tomamos bebidas, nós tomamos suco e água, "seu toque é Belle & Sebastian?", "Sim" e gostávamos de livros semelhantes "Eu estava lendo Idade da Razão e..", "Sartre, né? Eu tenho esse livro", e a gente amava a vida, a gente amava as coisas, mesmo que elas não andassem muito bem, e eu ainda tenho um cartão que eu deveria ter dado de aniversário pra ela e não dei.
Eu fui até metade do caminho mas não consegui chegar.
Eu juro que eu fui até metade do caminho.
Eu juro que foi o ônibus.
Eu juro!



Depois disso não deu.
Depois eu tinha uma prova.
Depois eu estava hospedando pessoas.
Depois justo esse final de semana eu vou viajar.
Depois eu - sem nenhum intenção ou saber que poderia - magoei ela.
E quando eu tentei pedir desculpas ela não quis me ouvir, então eu fui pior.
E agora eu perdi uma das amizades que mais me  foi cara.
Queria que as coisas voltassem a ser como eram.
E não sei o que fazer com tanta saudade.
E eu só queria saber
voltar no
tempo.


E depois - bem depois - eu percebi que essa amizade - e tantas outras - só existia na minha cabeça.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Nada demais.

É engraçado como tem dias que coisas já superadas parecem reaparecer e deixam seu dia cabisbaixo.
Hoje eu sonhei com ele, estudávamos na mesma faculdade e eu mudava o lugar do meu intervalo pra poder ver ele passando e em dado momento ele me via, me abraçava e dizia "a gente tem que marcar de se ver, né?". A gente não tem, a gente não vai mais, provavelmente nunca mais, inclusive.
Não quero fazer disso grande coisa, não é grande coisa.
A gente se conheceu, ele me deixou extremamente radiante durante algum tempo, às vezes eu chorava (porque eu sou assim), depois ele mudou de ideia, eu fiquei brava porque eu não tinha mudado de ideia, ele nunca disse que mudou de ideia claramente, eu sempre ficava brava (e radiante e rindo à toa e me sentindo a pessoa mais feliz do mundo) porque ele nunca dizia nada claramente. Até que a gente deixou de se falar. Ele parou de me procurar, eu continuei procurando um pouco, ainda, ele estava sempre ocupado e ocupado e ocupado e eu me conformei. Não é grande coisa, aposto que você já passou por algo assim e eu provavelmente passarei de novo.
Não é grande coisa.
Mas tem dias que eu sonho com ele, ou que eu acho essa folha cheia de equações tão incompreensíveis pra mim que eu nem sei se são mesmo equações, ou eu lembro do exato momento em que eu vi a carinha dele pela primeira vez, ou de como ele segurou no meu rosto e me perguntou se eu estava feliz, ou da gente correndo na chuva, ou de quando ele disse que ia chegar esse dia como se houvesse um futuro na nossa frente, ou quando ele me beijou pela primeira vez, ou como eu sempre quase caía toda desajeitada quando ele tentava dançar valsa comigo, enfim, às vezes eu lembro de toda esperança, de como ele parecia tão certo me dizendo um monte de coisa que eu não entendia e que eu sentia que um dia eu ia entender porque ele ia explicar pra mim.
Agora o universo me continuará incompreensível.
Mas não é grande coisa.
É só um dia cabisbaixo, é só mais um dia. Amanhã eu vou estar bem.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Nada.

Eis que me pego perfeitamente normal, achando tudo perfeitamente normal, nenhum coração partido, nenhuma rejeição que eu me importe, nada demais acontecendo, nada acontecendo, nenhum sentimento, nada.
Nem bom, nem ruim, nada.
Eu sinto, de verdade, como se tivesse morta por dentro.
Eu amo meu irmão, amo meu cachorro, amo as coisas que estão acontecendo, mas não tenho nenhuma paixão, nenhuma que dure mais de dez minutos, nenhuma com nenhuma perspectiva feliz.
Eu me apaixono por um ótimo fotógrafo que eu não conhecia e em dez minutos vira um amor morno, um nada no peito, eu não sinto nada, não consigo nem chorar minhas misérias, nem tristeza nenhuma eu consigo sentir.
Eu acho que eu estou brava por isso, mas nem a raiva eu consigo sentir.
Esses dias eu estava dançando, tropecei e machuquei minha perna e doeu, achei meio legal.
Eu não consigo nem revolta, eu me revolto, eu me revolto diariamente, mas apenas no meu cérebro, nada orgânico acontece, nenhuma reação química, nada nada, nada, eu entendo as coisas e ajo a partir daí, eu, justo eu que sentia tudo e tanto, me sinto morta, morta e sem perspectiva de ressurreição.