segunda-feira, 27 de junho de 2016

Vó.

A verdade é que ando pensando em tanta coisa que no meu turbilhão de pensamentos tudo fica meio vago, muito complexo, tão cheio que não consigo me concentrar em nada em especial.
Eu descobri  uma coisa nova sobre mim e contei para os meus pais.
Não demorou muito tempo, não custou quase nenhuma vida, um telefone numa festa, choro de dor que não era física.
Pronto Socorro.
Meu avô nunca pede ajuda pra ninguém, a vó....?
Vó?
Vó?
Posso ir ver a vó?
Mas ela ainda está viva?
Não.
Cada passo nessa rua eu já dei com minha vó do lado.
Ela me levava na pracinha, mas não só na pracinha, no lugar exato da pracinha que eu queria ir. No lago das carpas. E a gente ficava lá, olhando as carpas, eu sonhando com o dia que eu poderia nadar junto, na cachoeirinha, no meio das carpas.
Até 2013 eu tinha perdido duas pessoas da minha família. Em 21 anos, 2 pessoas que eu amava tinham me deixado. Desde então outras 3 pessoas morreram.
Antes a tia Alzira, depois o Marcel e agora minha avó?
Sério, a minha avó?
A pessoa que cuidava de mim como se eu fosse uma filha, me ensinou metade das coisas que eu sei, cortou minha franja pela primeira vez, me fez parar de roer unhas, sempre tinha um doce pra me dar, me amava até quando eu estava insuportável, cheia de feridas pelo corpo, sem comer a três dias, catapora, você me oferecia o chocolate da Turma da Mônica e nem esse eu queria, não dava pra engolir.
Perdi a referência dos seus olhos há mais ou menos 9 anos, o Alzheimer começou a te atacar, os seus olhinhos ficaram primeiro muito vivos, bravos, você não admitia que uma doença viesse e te tratasse assim, você sempre foi uma espanholhinha muitíssimo brava, mas por fim a força que te exigia era grande demais, pesada demais e você começou a cantar.
Hm hm hm haha hm hmhm.
Quando eu chegava se você tava bem humorada me enchia de sorrisos e até me dava beijo. Se tava brava resmungava toda fofinha, sempre cheirosa, penteada e muito muito bem cuidada pelo vô.
Sempre na sua cadeirinha, às vezes, com as suas bonecas, às vezes, só com uma mantinha.
Vai ser muito ruim e difícil entrar naquela casa sem você.
Espero que você esteja feliz.

Nessa foto, esse olhar, é assim que todo mundo tem que lembrar dela.
Pra conhecer mais sobre meus avós você pode clicar aqui.

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