Puxei a manga da minha blusa pra ficar com duas "luvas", infantilizações, em momentos assim, me acalmavam.
O que mais que impressionou foi a falta de medo, consideração, hesitação.
"Ela é mais gostosa que você". Quê?
Nós dois estávamos em uma festa de família quando uma criança de quatorze anos me abordou, "Como eu sei se não estou perdendo uma oportunidade?", fiquei confusa com a pergunta, do que diabos ela tava falando?
"É que eu gosto desse menino e acho que ele gosta de mim", que fofa, pensei.
Continuou me contando sobre como ele olhava pra ela e o discurso não parecia coerente, mas eu não estranhei.
Meu marido, um homem de trinta e cinco anos, cansado, volta e meia vinha perto de nós, ficava lá conversando, comigo e com a criança.
"Ela não parece criança, né? Tem um corpão".
A garota devia pesar no máximo trinta e cinco quilos, ela não "tinha um corpão", era uma criança, um bebê, "Que que você tá dizendo?".
"Agora eu tenho que ir, tia", claro, respondi com um sorriso maternal odiando a ideia de ser chamada de tia.
Me distraí com os outros convidados da festa, com o vinho e com alguma bobagem que passava numa televisão de cinquenta polegadas.
Hoje em dia as pessoas gastam tanto com televisão, alguém disse. E tudo que eu consegui pensar é que elas estão sendo monitoradas e nem sabem. Essas smart tvs usam o microfone pra gravar todas suas conversas pessoais, tá no contrato que as pessoas assinam sem ler.
Olhei na direção do banheiro e a criança saiu de lá, acompanhada do meu marido, descabelada, uma criança.
Arrastei ele pro andar de cima e começou ali não só a mais grotesca como mais preocupante das situações. "Eu quero o divórcio porque hoje encontrei o amor da minha vida", a criança? O amor da sua vida é uma pessoa que quando nasceu você já tinha se formado na faculdade?
"Não te interessa".
A menina apareceu no corredor "nós vamos casar, tia".
Era uma pessoa tão pequena que chamava os outros de "tia", pessoas que não eram da família dela.
Eu vou matar você.
Comecei a bater nele, tapa, soco, chute, ele só sorria e dizia "você não pode fazer nada".
O que você tá fazendo é inclusive crime!
"Por ela eu espero". Vou falar com os pais delas já!
Ela não tinha pais. Ela não tinha ninguém.
Uma criança desesperada por carinho, afeto e proteção.
Vem pra casa da tia, eu cuido de você.
Mas era tarde. A criança tava na festa convidada do meu marido, "estamos juntos há seis meses", ela disse. Uma criança.
Eu vou chamar a polícia.
Desci na festa "Não deixa o meu marido e nem a criança saírem, eu vou chamar a polícia".
As pessoas me olharam confusas. "ME ESCUTA, TRANQUEM AS PORTAS".
"Calma, calma, tá tudo bem", minha mãe me abraçou. Calma.
Eu tô calma, só preciso de ajuda.
Preciso de ajuda.
"Filha, você esqueceu de novo?".
O quê, mãe? O que que eu esqueci?
Que o homem que eu amava foi atropelado e morto por uma menina de quatorze anos que pegou o carros dos pais enquanto eles não estavam vendo "pra brincar"? É isso que eu esqueci?
Mas então quem é o homem com aquela criança?
O que mais que impressionou foi a falta de medo, consideração, hesitação.
"Ela é mais gostosa que você". Quê?
Nós dois estávamos em uma festa de família quando uma criança de quatorze anos me abordou, "Como eu sei se não estou perdendo uma oportunidade?", fiquei confusa com a pergunta, do que diabos ela tava falando?
"É que eu gosto desse menino e acho que ele gosta de mim", que fofa, pensei.
Continuou me contando sobre como ele olhava pra ela e o discurso não parecia coerente, mas eu não estranhei.
Meu marido, um homem de trinta e cinco anos, cansado, volta e meia vinha perto de nós, ficava lá conversando, comigo e com a criança.
"Ela não parece criança, né? Tem um corpão".
A garota devia pesar no máximo trinta e cinco quilos, ela não "tinha um corpão", era uma criança, um bebê, "Que que você tá dizendo?".
"Agora eu tenho que ir, tia", claro, respondi com um sorriso maternal odiando a ideia de ser chamada de tia.
Me distraí com os outros convidados da festa, com o vinho e com alguma bobagem que passava numa televisão de cinquenta polegadas.
Hoje em dia as pessoas gastam tanto com televisão, alguém disse. E tudo que eu consegui pensar é que elas estão sendo monitoradas e nem sabem. Essas smart tvs usam o microfone pra gravar todas suas conversas pessoais, tá no contrato que as pessoas assinam sem ler.
Olhei na direção do banheiro e a criança saiu de lá, acompanhada do meu marido, descabelada, uma criança.
Arrastei ele pro andar de cima e começou ali não só a mais grotesca como mais preocupante das situações. "Eu quero o divórcio porque hoje encontrei o amor da minha vida", a criança? O amor da sua vida é uma pessoa que quando nasceu você já tinha se formado na faculdade?
"Não te interessa".
A menina apareceu no corredor "nós vamos casar, tia".
Era uma pessoa tão pequena que chamava os outros de "tia", pessoas que não eram da família dela.
Eu vou matar você.
Comecei a bater nele, tapa, soco, chute, ele só sorria e dizia "você não pode fazer nada".
O que você tá fazendo é inclusive crime!
"Por ela eu espero". Vou falar com os pais delas já!
Ela não tinha pais. Ela não tinha ninguém.
Uma criança desesperada por carinho, afeto e proteção.
Vem pra casa da tia, eu cuido de você.
Mas era tarde. A criança tava na festa convidada do meu marido, "estamos juntos há seis meses", ela disse. Uma criança.
Eu vou chamar a polícia.
Desci na festa "Não deixa o meu marido e nem a criança saírem, eu vou chamar a polícia".
As pessoas me olharam confusas. "ME ESCUTA, TRANQUEM AS PORTAS".
"Calma, calma, tá tudo bem", minha mãe me abraçou. Calma.
Eu tô calma, só preciso de ajuda.
Preciso de ajuda.
"Filha, você esqueceu de novo?".
O quê, mãe? O que que eu esqueci?
Que o homem que eu amava foi atropelado e morto por uma menina de quatorze anos que pegou o carros dos pais enquanto eles não estavam vendo "pra brincar"? É isso que eu esqueci?
Mas então quem é o homem com aquela criança?
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