Recebi boas críticas da minha família sobre minha arte, é engraçado, eu sempre penso que todos eles me detestam mesmo todos sempre fazendo coisas boas por mim.
Acho que era a culpa.
Porque, sim, eu sou culpada (ou era) e sei disso e quando somos culpados vivemos achando que os outros estão sempre a nos olhar como se nos julgassem assim, por vezes até estão, mas nem sempre.
Então eu não gostava de passar muito tempo perto deles, primeiro porque não tenho lá muita paciência e ás vezes é bem necessário e segundo por achar que não era bem-vinda.
Agora os almoços (que eram uma tortura) me parecem tão incrivelmente rápidos, eu gosto tanto daquela horinha a mais que fazemos e ficamos trocando todos segredos e risadas.
Não sinto mais que o primo que mais admiro me detesta, não tenho mais (tanto) medo daquela minha outra prima, hoje nós até fomos passear no parque juntas.
E no nosso passeio descobri que meu irmãozinho não sabe brincar de balança. Eu achava que era instintivo, que nós nascíamos sabendo ir na balança, porque comigo foi mais ou menos assim e, no entanto, meu irmãozinho (que é um prodígio em tantas outras coisas), não sabe se balançar.
Mas eu e minha prima sabemos e alternadamente nos balançamos, me senti viva e feliz, não tinha ninguém pra disputar balança, ninguém pra me tirar de lá dizendo que eu não tinha mais 10 anos, era um parque (muito) ensolarado, bonito e com todos os brinquedos disponíveis, como num sonho..
Sonho! Sonhos.. amanhã pressinto que será mais um dia de sonhos. Minha tia (que é mais minha mãe do que minha própria progenitora) nos levará em algum outro lugar cheio de árvores e sol e nós poderemos mais uma vez brincar, como se eu ainda tivesse 10 anos.
Mas suspeito que no parque de amanhã terá muita gente pra me dizer que não mais tenho idade de ir nos brinquedos, por isso vou me fantasiar de crianças.
Tamanho eu tenho, vou colocar meu vestido de criança e fazer duas tranças no cabelo, ninguém vai me reconhecer como adulta, infalível!
Às vezes eu fantasio que pra sempre poderei fingir que sou criança e convencer o resto do mundo, gostaria que assim fosse, mas não vou alto o suficiente pra acreditar que será.
Alto!
Você já esteve em qualquer lugar mais alto que uma balança lááááá na subida?
Acredito que sim, eu também, mas.. você já sentiu mais perto do céu do que nessa ocasião?
Não sei você, mas eu não.. balançar é pleno. Pleno.
Eu detesto ficar tanto tempo sem balançar, fico triste e velha, ainda bem que hoje tive essa sorte, sou criança e feliz de novo.
Criança que talvez carregue fardos grandes demais, mas, de qualquer forma, criança.
Eu carrego desde criança, sabe? Sou uma criança acostumada.
Acostumada mas amedrontada, eu não sei se já contei, mas morro de medo de ser abandonada.
Ontem, antes de dormir, eu jurei que nunca abandonaria meu irmãozinho porque ele disse que estaria sempre comigo, então ele perguntou:
- E se você morrer?
Eu disse que continuaria por perto, então ele perguntou:
- Mas e se eu morrer antes?
Ai eu disse que então seria a vez dele de se aproximar, ele sorriu, me deu a mão, abraçou-me, fechamos os olhos e dormimos, felizes e sem medos.
2 comentários:
Obrigado.
Ferdi, as vezes eu também quero ser criança pra sempre, correr naquele quintal com o sol a pino, descalço, brincando de balão de água. caixa de areia, balanços, ó, balanços. Balançar é Pleno² (queria ter escrito isso). E sobre o dialogo com teu bebê, eu achei lindo, lindo mesmo.
Eu também tenho um maninho em casa, e como eu digo pra ele C'est pour toujours, nom? Oui. Também quero estar sempre perto.
Que comentário gracioso de se ler, arrancou-me um sorriso mais de uma vez (já que o li mais de uma).
É, ser criança é tão rápido que quando sabemos o que é já não mais somos.
Mas nunca deixamos de ser por completo, digo, hoje um amigo do meu ermanito perguntou "Tia, você brinca?" e eu respondi que sim, então ele disse "É por isso que você é legal e sempre vai ser, não ficou toda velha", então eu abri um sorriso de orelha a orelha.
E que estejamos sempre perto :)
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