Eu tava aqui depois de uma noite de suor e frio, ainda atordoada pelo estranho ritual que é pra mim acordar, quando ouço chamarem meu nome na janela.
Eu moro no centro da minha cidade, minha família mora há mais ou menos 15 minutos dali, o que torna me chamarem na janela muito pouco usual.
Houve um tempo em que o principal meio de comunicação entre eu e minha família era pela janela mesmo, tempo esse em que vivíamos eu, minha mãe, meu irmão e meu pai num apartamento que dava com a janela pra casa da minha vó, nesse mesmo prédio moravam mais duas tias, na rua de baixo outro tio, na do lado dois primos e, enfim, minha família morava toda na mesma cidade, em bairros muito próximos.
Quer queira, quer não, eu via pelo menos 10 membros da minha família todo dia.
Dentre esses membros, sempre a tia Darcy.
A tia Darcy nasceu debaixo de uma árvore na frente do hospital porque não deu tempo de entrar.
Ela se preocupava com a educação de um jeito que eu raramente vi em outras pessoas, por isso, claro, foi professora de Biologia, minha mãe foi aluna dela e até hoje diz que nunca aprendeu mais.
Além de professora foi também diretora, inclusive da minha escolinha, eu me sentia super protegida, sobrinha da diretora, e por isso até as crianças me tratavam melhor, mas ela nunca fez distinções.
Um dos sonhos da minha tia era ter sido médica, ela tinha toda a vocação, mas os estudos eram caros e desde cedo ela ajudava a família com dinheiro.
Aliás, ajudar com dinheiro é uma coisa que ela fazia pra todo mundo, era você precisar de ajuda que antes de você pedir ela te oferecia.
Sempre gostou de presentear todo mundo, quando eu era pequena ela ia toda semana em uma loja de departamento específica e voltada cheia de roupas, uma pra ela, as outras pra mim, pras minhas primas, primos, tias, ela era realmente generosa.
E amorosa.
E palhaça.
Por exemplo:
A tia Darcy também sempre foi muito elegante, falava francês que aprendeu no colegial e nunca esqueceu, se emocionava com as belezas da vida e me chamava de "Sua Negra", de amor.
É muito surreal pra mim acordar com a notícia que uma das tias mais presentes na minha vida não vai mais estar lá.
Quem vai sentar na ponta da mesa?
Quem vai fazer um monte de salada de maionese gostosa nos churrascos porque eu sou vegetariana?
Quem vai ter o pé do tamanho do meu e trocar sapatos comigo?
Quem vai me confortar quando eu for lá chorando?
Ela tinha me emprestado um livro de botânica esses dias e disse "mas é vai e volta, amo muito esse livro", esse aqui:
Eu moro no centro da minha cidade, minha família mora há mais ou menos 15 minutos dali, o que torna me chamarem na janela muito pouco usual.
Houve um tempo em que o principal meio de comunicação entre eu e minha família era pela janela mesmo, tempo esse em que vivíamos eu, minha mãe, meu irmão e meu pai num apartamento que dava com a janela pra casa da minha vó, nesse mesmo prédio moravam mais duas tias, na rua de baixo outro tio, na do lado dois primos e, enfim, minha família morava toda na mesma cidade, em bairros muito próximos.
Quer queira, quer não, eu via pelo menos 10 membros da minha família todo dia.
Dentre esses membros, sempre a tia Darcy.
A tia Darcy nasceu debaixo de uma árvore na frente do hospital porque não deu tempo de entrar.
Ela se preocupava com a educação de um jeito que eu raramente vi em outras pessoas, por isso, claro, foi professora de Biologia, minha mãe foi aluna dela e até hoje diz que nunca aprendeu mais.
Além de professora foi também diretora, inclusive da minha escolinha, eu me sentia super protegida, sobrinha da diretora, e por isso até as crianças me tratavam melhor, mas ela nunca fez distinções.
Um dos sonhos da minha tia era ter sido médica, ela tinha toda a vocação, mas os estudos eram caros e desde cedo ela ajudava a família com dinheiro.
Aliás, ajudar com dinheiro é uma coisa que ela fazia pra todo mundo, era você precisar de ajuda que antes de você pedir ela te oferecia.
Sempre gostou de presentear todo mundo, quando eu era pequena ela ia toda semana em uma loja de departamento específica e voltada cheia de roupas, uma pra ela, as outras pra mim, pras minhas primas, primos, tias, ela era realmente generosa.
E amorosa.
E palhaça.
Por exemplo:
Mãe, vó e tia Darcy |
É muito surreal pra mim acordar com a notícia que uma das tias mais presentes na minha vida não vai mais estar lá.
Quem vai sentar na ponta da mesa?
Quem vai fazer um monte de salada de maionese gostosa nos churrascos porque eu sou vegetariana?
Quem vai ter o pé do tamanho do meu e trocar sapatos comigo?
Quem vai me confortar quando eu for lá chorando?
Ela tinha me emprestado um livro de botânica esses dias e disse "mas é vai e volta, amo muito esse livro", esse aqui:
E de repente nem vai voltar, minha mãe disse que pode ficar pra mim porque ela deixou tudo que tinha pros sobrinhos.
Pros sobrinhos.
Ela nunca teve filhos e sempre tratou todos nós como se tivesse tido vários.
Nem dá pra descrever o quanto a vida me magoou por tirar a tia Darcy de mim.
Eu sei que as pessoas morrem e a vida continua, mas... eu me sinto injustiçada.
Primeiro a tia Alzira, depois o Marcel, depois a vó, depois a tia Darcy, tudo isso em dois anos e, nossa, odiei.
Quero voltar aos 7 anos e ter todas as pessoas que eu amo de volta.
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