Isso poderia fazer alguém pensar que, por ter apenas dois, Marlene seria melhor mãe que as outras.
As outras eram todas as mulheres que tiveram mais que dois filhos, as parideiras, as "que não tem televisão em casa", as que "na hora de fazer... quero ver cuidar". E cuidavam muito bem, obrigada.
Diferente de Marlene que, por ter apenas dois, ao invés de amá-los mais, se ressentia.
Como se fosse culpa das crianças todos os abortos espontâneos que Marlene sofrera ao longo dos anos, como se os meninos tivessem ousado sobreviver em ambiente tão hostil quanto o útero de Marlene e, por isso, ela os odiava. Odiava porque ter um, ter dois filhos, te faz pensar que você poderia ter quantos quisesse, mas não foi o que aconteceu.
E como ousavam aqueles dois fedelhos encher uma mulher de esperanças falsas?
Como ousavam iludir assim um coração?
Marlene não os perdoaria nunca.
Todo dia antes de dormir pensava na benção que seria ver os dois mortos.
Finalmente descansar.
O marido com certeza a abandonaria, que outra benção.
Finalmente ela teria todo o tempo do mundo pra ser ela mesma, amarga, triste e cheia de rancor.
Sem ninguém pra atrapalhar com sorrisos.
Bendito o dia que aquelas crianças fossem assassinadas.
Mas...
Não era tão comum assim duas crianças serem assassinadas, eles moravam em um "bairro bom", seguro, era contar demais com a sorte achar que simples negligência daria conta do recado, não, se ela queria os fedelhos mortos, ela mesma teria que agir.
Não poderia ser nada incriminador, não fazia sentido trocar uma prisão por outra, não.
Tinha que ser algo bem pensado, algo inteligente.
A primeira coisa que ela pensou foi em chamar a atenção de algum golpista, dar a entender que tinha muito dinheiro, parecer distraída perto das crianças, ser uma presa fácil, mas... onde arranjaria alguém disposto a sequestrar e matar crianças?
Infelizmente não é tão fácil achar alguém que esteja disposto a ajudar tanto assim.
"Criança eu não faço".
Ninguém ajuda.
"Dizem pra gente que ser mãe é a melhor coisa do mundo pra isso, agora a gente tem que gastar um tempão pensando como se livrar dessa situação horrível".
Marlene se sentia completamente injustiçada. Mordia as unhas.
"Não é como se eu soubesse que ia nascer só dois dessa minha barriga amaldiçoada, pensei que ia ter vários, um ajudando a cuidar do outro, não isso".
Um dia no parque pensou na solução, convencer as crianças a ir andar de pedalinho sozinhas, na cabeça dela os dois nunca conseguiriam, o problema é que as crianças eram inteligentes e sequer quiseram ir sozinhas pra começo de conversa.
Chegando em casa ela deu uma surra de cinta nos dois, quanto mais eles choravam e perguntavam por quê, mais ela ficava com ódio e mais forte batia.
Quando o marido de Marlene chegou em casa teve que levar as crianças pro hospital.
"Melhor coisa que já aconteceu na minha vida", contava ela.
"Depois daquele dia eu finalmente sou livre. Tudo aqui é bonito. E quando tem crianças são sempre muitas, nunca uma ou duas. Aqui eu fico no jardim e tomo sol todo dia. Ninguém me abraça e pede 'mamãe, mamãe, estamos com fome', não, aqui quem pede a comida sou eu, aqui quem tem uma mãezinha sou eu, eu e não aqueles diabos. Sabia que eles estão mortos? Os dois morreram, graças a Deus, Deus sempre me amou muito, muito, sempre fui muito boa pra ele e ele me recompensou, não é, meu Deusinho?" e continuava indefinidamente dizendo da sorte que teve.
Marlene tinha dois filhos.
Não mais.
As outras eram todas as mulheres que tiveram mais que dois filhos, as parideiras, as "que não tem televisão em casa", as que "na hora de fazer... quero ver cuidar". E cuidavam muito bem, obrigada.
Diferente de Marlene que, por ter apenas dois, ao invés de amá-los mais, se ressentia.
Como se fosse culpa das crianças todos os abortos espontâneos que Marlene sofrera ao longo dos anos, como se os meninos tivessem ousado sobreviver em ambiente tão hostil quanto o útero de Marlene e, por isso, ela os odiava. Odiava porque ter um, ter dois filhos, te faz pensar que você poderia ter quantos quisesse, mas não foi o que aconteceu.
E como ousavam aqueles dois fedelhos encher uma mulher de esperanças falsas?
Como ousavam iludir assim um coração?
Marlene não os perdoaria nunca.
Todo dia antes de dormir pensava na benção que seria ver os dois mortos.
Finalmente descansar.
O marido com certeza a abandonaria, que outra benção.
Finalmente ela teria todo o tempo do mundo pra ser ela mesma, amarga, triste e cheia de rancor.
Sem ninguém pra atrapalhar com sorrisos.
Bendito o dia que aquelas crianças fossem assassinadas.
Mas...
Não era tão comum assim duas crianças serem assassinadas, eles moravam em um "bairro bom", seguro, era contar demais com a sorte achar que simples negligência daria conta do recado, não, se ela queria os fedelhos mortos, ela mesma teria que agir.
Não poderia ser nada incriminador, não fazia sentido trocar uma prisão por outra, não.
Tinha que ser algo bem pensado, algo inteligente.
A primeira coisa que ela pensou foi em chamar a atenção de algum golpista, dar a entender que tinha muito dinheiro, parecer distraída perto das crianças, ser uma presa fácil, mas... onde arranjaria alguém disposto a sequestrar e matar crianças?
Infelizmente não é tão fácil achar alguém que esteja disposto a ajudar tanto assim.
"Criança eu não faço".
Ninguém ajuda.
"Dizem pra gente que ser mãe é a melhor coisa do mundo pra isso, agora a gente tem que gastar um tempão pensando como se livrar dessa situação horrível".
Marlene se sentia completamente injustiçada. Mordia as unhas.
"Não é como se eu soubesse que ia nascer só dois dessa minha barriga amaldiçoada, pensei que ia ter vários, um ajudando a cuidar do outro, não isso".
Um dia no parque pensou na solução, convencer as crianças a ir andar de pedalinho sozinhas, na cabeça dela os dois nunca conseguiriam, o problema é que as crianças eram inteligentes e sequer quiseram ir sozinhas pra começo de conversa.
Chegando em casa ela deu uma surra de cinta nos dois, quanto mais eles choravam e perguntavam por quê, mais ela ficava com ódio e mais forte batia.
Quando o marido de Marlene chegou em casa teve que levar as crianças pro hospital.
"Melhor coisa que já aconteceu na minha vida", contava ela.
"Depois daquele dia eu finalmente sou livre. Tudo aqui é bonito. E quando tem crianças são sempre muitas, nunca uma ou duas. Aqui eu fico no jardim e tomo sol todo dia. Ninguém me abraça e pede 'mamãe, mamãe, estamos com fome', não, aqui quem pede a comida sou eu, aqui quem tem uma mãezinha sou eu, eu e não aqueles diabos. Sabia que eles estão mortos? Os dois morreram, graças a Deus, Deus sempre me amou muito, muito, sempre fui muito boa pra ele e ele me recompensou, não é, meu Deusinho?" e continuava indefinidamente dizendo da sorte que teve.
Marlene tinha dois filhos.
Não mais.
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