sexta-feira, 18 de novembro de 2016

7 horas da manhã.

Acordei.
Um frio na espinha e dor na cabeça.
Responsabilidades.
É difícil não concordar ou querer fazer parte do mundo em que você nasceu.
É difícil porque você tenta se adequar o tempo todo, mas nunca é suficiente.
Você nunca fica adequada, você no máximo finge alegria e depois passa horas rolando na cama e puxando os cabelos.
Os adolescentes estão sempre repetindo que não pediram pra nascer, mas eles também não podem se matar.
Poder poderiam, mas e minha mãe, meu amor, meu pai, meu irmão, minha tia, minha avó, meu avô, eles também não pediram pra passar por esse tipo de desgosto.
Eu obriguei eles a me amarem, você obrigou eles a te amarem e por isso não pode ir embora assim.
E a vida sempre pode melhorar, é o que te dizem.
Amanhã você pode arranjar uma coisa que ama fazer e ganhar dinheiro com isso e pronto, a vida faz sentido de novo.
Só que nunca fez e nunca vai fazer.
Não é esse o problema.
Não é porque você vive numa bolha de conforto e proteção que você não vê ou entende o que se passa com o mundo.
E você, que vive nessa bolha, se sente assim, triste, doente, amargurada, ansiosa e com vontade de morrer, imagina qualquer outra pessoa.
Imagina a tortura que é a existência pra alguém que além de tudo não tem conforto, não tem proteção, é visto pela polícia como ameaça, ou pelas famílias como um desgosto, ou pelos homens como alguém de menor valor, ou pelos humanos como puro instrumento de satisfação da gula.
Imagina você, você que não sofre de fato a dor na carne, sua dor é na cabeça, sua dor é espiritual e ainda assim ela dói tanto.
Às vezes eu paro o meu dia pra imaginar o que que seria um enforcamento.
Tudo isso por causa de uma conta pra pagar?
Tudo isso por causa de um mundo que privilegia o mau?
Tudo isso porque, cada dia mais, o mundo parece anestesiado?
A arte é só entretenimento e quando é de fato arte, ninguém para pra prestar atenção.
E se para, logo volta, porque a arte tá aí pra te fazer enxergar e refletir e tudo é tão destruído e errado, que não dá pra culpar a população por querer nem saber.
Cerveja, balada, selfie, pool party, drogas, consumo.
Qualquer coisa que te tire da cabeça a insignificância da sua existência, porque é isso.
Você vai acordar e sofrer cada dia da sua vida e pra nada.
Ninguém vai lembrar de você 10 anos depois da sua morte.
Ninguém vai citar seu nome.
A não ser que você tenha sido algum tipo de celebridade, aí sim vão lembrar de você, por mais 50 ou 60 anos e depois também você vai ficar no vazio, no limbo do nada, porque não existe nada, não existe propósito, não existe porquê.
Você poderia muito bem ser o robôzinho, do Rick and Morty, cujo o propósito da vida é passar manteiga e nada mais.
"Oh my good", com as mãozinhas pra cima.
Sua desilusão não torna as coisas melhores.
Então é melhor você aproveitar o hedonismo, quando for possível.
E poder, na verdade, é só o seu ego.


Desenho que eu fiz ontem, sobre o desalento de hoje