quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Festividades inesquecíveis.

Festividades inesquecíveis podem custar caro. Dia 23, pela segunda vez, foi inusitado e cheio de ressaca sem bebida. Como lidar com seu jeito inseguro, Fernanda? Queria poder cantar "que se dane meu jeito inseguro" com mais sinceridade, mas não canto ou entendo, não entendo sequer meus questionamentos mudos, minhas lembranças com tapas na cabeça, inevitáveis tapas na cabeça. "Nem tudo que eu faço tem um porquê", mas deveria. Raios e trovões, maldições egípcias. Por quê? Maldição! Eu me ausento, me ausento por uns tempos e sinto muita falta daqui e de vocês, é verdade. Porém, antes do dia 3 estou de volta e atualizo todas minhas leituras.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Uma tarde de lágrimas e descobertas.

- Mas meu cabelo está sujo. - Ah, deixe de ser chata e vai logo. - Quer ir junto? - Pode ser.. Chegaram no local combinado e ninguém ainda tinha entrado, estavam esperando sabe-se lá o que, com rostos felizes: - Vamos entrar? - Estamos esperando. Então nossa protagonista deu a mão ao seu pequeno irmão e foi correr em volta da praça, viram uma estátua, se aproximaram e haviam vomitado na base dela. "Ew", disseram em coro e continuaram a correr. Quando se cansaram, juntaram-se ao grupo de músicos que já estavam prontos para entrar no bar, apesar de nada ter mudado. - Ah não, vai demorar, você disse que só daríamos um abraço, que saco. - Ai, filha, calma, as meninas nem chegaram ainda. A garota fez bico e se sentiu triste sem ter certeza do porquê, talvez fosse porque sua mãe tinha todos aqueles amigos incríveis e ela estava lá com eles, porém sozinha. - A faz teatro. - Faz, é? Interessou-se o trombonista. - Faço sim. - É a primeira peça profissional dela, mas todo mundo adora. Endossou a mãe, que costumava ser caixista. - É, é muito legal, estou adorando muito fazer. - A última peça não-profissional que ela fez o Biel participou também, , bebê? - Sim, eu era o filhinho. Disse o irmãozinho meio tímido, meio orgulhoso. - E você teve que ir assistir com uma toalha de mesa, ? Babador não serviu. Comentou a sorridente tubista. A partir de então a menina não se sentiu mais sozinha, sentiu-se um deles, embora não fosse. Falou de suas ambições musicais, recebeu conselhos, fez um monte de projetos mentais, conversou, conversou e conversou e notou o quanto era tola por desperdiçar tesouro tão importante que tinha dentro da família, toda aquela sabedoria musical, toda aquela alegria. A banda.. a banda.. tinha uma outra caixista na banda e ela estava com câncer de mama, careca, extremamente alto-astral: - Ah, só é um saco que quando você começa a melhorar da químio, chega o dia da próxima. - É de quanto em quanto tempo? - 21 dias. Mas graças a Deus já foram 2, são 6, faltam só 4. - Ah, pelo menos já foi a metade. - Como, mãe? Riu-se a menina. - Sim, oras.. ah.. eu nunca fui da matemática. - Sempre foi, se é da música, é da matemática. - Mas paro por aí. E até esse assunto era leve naquela mesa onde cada um bebia um suco colorido diferente. Então começaram as lembranças: - Posso contar sua mal criação? Perguntou a primeira caixista pra segunda, que sorriu. - Pode. - Na frente do seu marido? Riu-se a outra. - Pode. E fez expressão fingida de vergonha carinhosa. - O Mané (maestro) é como um pai pra mim, mas era bravo! E o pessoal da cozinha (bateria) sempre ficava de castigo, toda a molecada ia pro parque brincar nos brinquedos de graça, mas como tinha alguém ? E nesse momento ela sorriu um sorriso engraçado e repressor pra segunda caixista. Que errava nós nunca tínhamos intervalo e ficávamos lá, tan, tan, tan tarara, tan, tan.. Então nossa querida Ingride, depois do intervalo, pediu pra ir no banheiro, o Mané "não", "mas eu estou apertada", "toca e fica quieta". Ela olhou pra mim e disse "vou fazer nas calças" eu comecei a rir e falei "tem coragem?" quando vi começou a se formar uma poça gigante, o Mané ficou louco.. Pra você ver como desde sempre era geniosa. - , eu precisava, ele não deixou. Se defendeu ela sorridente. O assunto fluía com naturalidade entre todos eles quando a saxofonista (e filha do maestro) chegou com a bombardinista. Depois das devidas apresentações e acomodações, mais lembranças: - Você foi pra Brasília com a gente? Perguntou a mãe da menina para a saxofonista. - Quando? Em 80? - 18 de abril de 1980. Exatou o tocador de baixo-tuba. - Que exatidão! É, pra comemoração dos 20 anos de Brasília, você foi? - Claro, nossa, quantas lembranças.. Respondeu a saxofonista. - É, uma que me ficou muito nítida foi o seu pai. Eu fui sentada do lado dele no ônibus e a viagem foi longa, ? Lembro que de noite fazia muito frio e meu blusão tinha ficado no maleiro, aí eu comecei a sonhar com minha blusa, diz seu pai que eu ficava tentando agarrar alguma coisa no ar, hahaha, tanto frio que até sonhei, mas depois que seu pai reparou que era frio ele tirou a blusa dele e me aconchegou, aí eu dormi o resto do caminho. "Com o que extavax a sonhares, mênina? Tentavax agarar all-guma coisa no arr". Imitou desajeitada um sotaque português e riu-se depois. Eu amo muito seu pai, ele é meu mestre e maestro. Continuaram a falar mas um aperto no coração da menina a fez parar de ouvir. Abriu seu celular e escreveu: "Estou com um bando de músicos - amigos da minha mama - e lembranças, acabaram de contar uma história de agasalhos e me veio até lágrimas nos olhos lembrando de você.." O resto do conteúdo da mensagem não nos importa agora, mas era verdade, aquelas conversas quase a fizeram chorar. Esse amigo da mensagem era um enigma pra ela, um enigma sim, ela o amava muito, muitíssimo e por amá-lo tanto queria estar por perto, mas era sempre complicado demais, desgastante demais e isso a machucava, nunca duvidou da reciprocidade do sentimento, porém, não entendia muito bem tanta distância e às vezes considerava ignorar pra sempre aquela amizade. Mas era de verdade e portanto, impossível de esquecer. De qualquer forma, a questão foi o cobrir em um ônibus frio de noite enquanto ela dormia, ele fizera isso um dia, coisa que a enterneceu tanto, mas tanto que um dia contaria aos seus futuros sobrinhos, voltou a musicalidade. Falaram agora de uma surpresa que certa vez fizeram pro Mané: - Nós ensaiamos "Solfejando" (era uma das composições do Mané, uma espécie de hino) durante um mês, sem que ele soubesse, claro e quando fomos tocar debaixo da janela dele.. A Isabel diz que quando ele ouviu, quando reconheceu a música dele começou a se trocar emocionado e falando "São meus meninos, são meus meninos". - Meninos, pra ele sempre seremos seus meninos.. - Claro. E da sacada ele nos regeu e nós ficamos repetindo até ele descer, se ele não enfartou aquele dia, nunca mais enfarta. A menina se emocionou com a emoção que o trombonista, que era também seu tio, contou a história e gravou pra sempre na sua memória quando, no meio da despedida, ele também, disse: - Nós nunca mais vamos nos separar. Em coro todos concordaram: - Nunca mais. Ela não pôde dizer nada, já que era uma convidada, mas desejou muito nunca mais se separar, nunca mais. Eles eram gênios, da música e da vida.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Como é ser..

um docinho mais doce que um dia cálido de outono, com vento nos cabelos, olhar apaixonado e crepe de nutella?

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Hobbits.

- Gente, por que em todo lugar que nós vamos nós somos os hobbits? - ? Até a Bia que tem 13 anos é uns 15cm mais alta que eu. - Isso é a alimentação. - Anh? - É, eles comem muitos hormônios em tudo, conservantes, nas carnes.. - Ah.. Mas.. se fosse assim eu seria alta. - Não, você seria menos baixa, já viu o tamanho das suas avós? - Ai.. O Mi, que tinha parado de escutar na parte da alimentação pra olhar pro teto de repente vira e fala pra irmã: - Quais são os alimentos lá, que fazem crescer? - Ah, essas coisas industrializadas, o frango tem muito hormônio.. - Frango? Vamos no Carrefour e avisa a mãe que mês que vem é só frango.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

500 metros pela vida.

João Manuel Fonseca, 52 anos. Casado há 32, dois filhos já criados, uma mulher que ainda conservava algum charme e muito carinho, tudo pra agradá-lo, nunca brigavam, quase nunca. Só talvez quando ele ficava bebendo sua cachacinha até um pouco mais tarde e ela tinha que ir buscá-lo no bar da esquina, preocupada. Acontece que esse negócio da mulher ir buscá-lo no bar o desmoralizava perante seus companheiros de sinuca e cigarro, mas nada que uns bons tapas chegando em casa não resolvessem. Era segunda-feira. Manuel - que costumava ignorar seu primeiro nome - já começava a semana cansado, tinha dado um churrasco em casa no dia anterior e ele já não era mais tão jovem, as brincadeiras, gritarias no truco, o vai e vem pra fazer todos se sentirem satisfeitos com a carne - já que ele que cuidava da churrasqueira improvisada - o fatigaram um bocado. Morava de um lado da Anchieta e trabalhava do outro, todos os dias saia de sua casa 20 minutos antes de começar o expediente, andava 50 metros até chegar na Anchieta, mais 500 até a passarela, atravessava-a e andava mais 40 metros até chegar na firma. Acordou sem despertador 30 minutos mais cedo do que de costume, beijou a testa de sua mulher ainda adormecida - que levantaria dali 10 minutos para preparar-lhe o café - não costumava ter desses gestos e não fora automático, ele só viu aquele rosto envelhecido que outrora tinha sido bonito o bastante pra que ele quisesse com ela se casar e se sentiu tão enternecido que teve que beijá-la. Foi até o banheiro lavar o rosto, urinar e escovar os dentes, quando terminou a mulher já havia levantado, ele então abraçou-a - coisa que muito a surpreendeu e disse com carinho que fumaria um cigarro enquanto ela fazia o café. Enquanto fumava pensou em seus filhos, o mais velho já se casara, tinha uma boa mulher e em breve, com certeza, lhe daria um belo neto. O mais novo passara em uma faculdade no interior, o que custou muitas lágrimas a sua mulher, mas estava se dando bem agora, o moleque, aprendendo a se virar sozinho.. Pensar aquelas coisas suscitou nele uma saudade, uma nostalgia que ele nunca experimentara antes, um nó na garganta o surpreendeu, segurou o sentimentalismo e foi desjejuar. Elogiou as torradas e o café da mulher - coisa que não fazia nunca-, escovou de novo os dentes e antes de abrir o portão pra partir beijou sua mulher como se ainda estivesse apaixonado, então se foi com sua sacolinha na mão.. Em 50 metros chegou na Anchieta, nunca fora muito bom de física, mas pelos seus cálculos hoje não teria que ir até a passarela e isso já era uma grande coisa, aquela subida íngreme sempre o deixava exausto logo de manhã. Correu ao mesmo tempo que Maurício, um futuro pai desesperado levando sua mulher pra maternidade, acelerou com um grito de Julia, sua mulher, que acabara de ter mais uma contração. Freada brusca, choque, queda, sangue.. Manuel morreu na hora. No acidente mais dois carros se envolveram, Julia desmaiou, mas ainda assim deu tudo certo no parto, tiveram uma menina, que coincidentemente batizaram de Maria Eduarda, mesmo nome carregava a viúva de Manuel, que no ato do acidente sentiu um aperto no coração, correu pra rua e viu tudo, como que em câmera lenta.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Há coisa mais triste que ficar feliz em seguida?

Tem coisa mais triste do que restaurar enfeites de natal feitos de madeira muito mais velhos que você pensando em ti? É claro que onde quer que eu olhe algo me faz lembrar e eu sei que pode te soar absurdo já que você não chegou a vir em casa, mas nós falávamos sobre tudo, inclusive sobre esse lugar, então.. E outro dia, lendo um texto seu, citas-te dois dos meus escritores favoritos, já lhe disse. Mas não sei se contei que acabo de completar minha coleção com todos os contos publicados do Hemingway.. Ou seja, sempre há um Hemingway a vista, sempre uma lembrança sua.. Aliás, sabe qual foi a primeira coisa que pensei saindo da Saraiva? "Se ele fosse ao menos meu amigo de novo, eu emprestaria pra ele". Não comprei na Cultura, lá estava mais caro e, de qualquer forma, desde que nossos vínculos foram definitivamente cortados eu evito qualquer coisa que possa me lembrar você quando estou por lá. Embora só o lugar seja suficiente pra me dar nó na garganta, lembrar conscientemente seria suficiente pra me fazer cair aos prantos e lágrimas não costumam me ajudar a ler melhor, então evito lembrar do seu sorriso tímido e catarinense, naquele puf azul, evito lembrar da sua camiseta do Strokes, o terninho que você usava e o primeiro abraço que me deu. Eu não ia confessar mas, já que estou aqui, a última vez que fui no Noitão do HSBC - sozinha, como de costume - chorei convulsivamente pensando na sua ausência e no quanto eu fui imbecil. Como eu pude, meu Deus, como eu pude? Se ao menos você tivesse sido um pouco mais claro.. se ao menos eu não sentisse tanto ciúme o tempo inteiro.. se ao menos eu conseguisse te dizer.. se ao menos essa maldita geografia não nos fosse tão ingrata.. se ao menos eu soubesse que a última vez que eu te veria você evitou-me não por rejeição, mas por medo da dor da partida, tudo teria sido absolutamente diferente. E agora eu não posso mais frequentar meus lugares preferidos sem me pegar falando com você ou choramingando "por que assim?", antes nós tivéssemos nos encontrados no Cambuci ou qualquer outro lugar que o valha. Eu sento na frente do Safra, naquele mesmo lugar, exatamente o mesmo lugar que você ficou bravo comigo pela primeira vez e fico olhando pra cada pessoa que passa e às vezes imagino que você vem ao meu encontro.. Você sai do metrô Consolação e vem andando com um sorriso, aquele seu sorriso.. é lindo, eu nunca te disse, mas acho a coisa mais linda.. Eu devo mesmo estar enlouquecendo, porque desde Av. Dropsie com você e sua tia não consigo mais entrar na FIESP e aquele lugar costumava ser minha casa. Eu não só perdi você, perdi o gosto por metade das coisas que mais amava. Voltar pra casa sempre teve um gosto amargo, mas quando eu volto necessariamente sinto um vazio horrível porque não é você que está do meu lado fazendo a incrível gentileza de me acompanhar até o Jabaquara.. Nem o André - que é um gentleman em carrara esculpido - nunca me cortejou de maneira tão gentil, me senti incrivelmente protegida e querida e nem assim consegui falar nada além de "Realmente, muito obrigada". E ainda há quem diga que sou boa com palavras.. Outro dia li o texto mais simplório e triste do mundo, do meu diretor. Ele dizia que não gostava mais de sair de casa porque São Paulo inteira lembrava-o da ex.. Então, de repente, uma pessoa que eu já não contava com, apareceu e me fez deferências, eu parei com esse texto, passei a rir e minhas lágrimas secaram. Eu esqueci porquê o escrevia..

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Bosta.

- Eu fui no sítio da minha amiga e o irmão dela pegou bosta de vaca e jogou nela, AAAAAAHAHAHAHAHA - Hmm.. - Você não acha engraçado? AAAAAAHAHAHAHAHAHAHAHA - Hmm.. não. - COMO NÃO? É BOSTA! BOSTA DE VACA, aaaaaaaaahahahaha Nessa altura os risos ecoavam por toda a cidade e Juliana estava já roxa. Carla olhava com indiferença. - Você não acha graça? Não mesmo? - Não. - Me dá sua mão. - Não quero. - O que você tem? - Não há como voltar atrás. - Você está chorando? Carla levantou, colocou seu casaco e foi embora. Não disse nada.. Além do que fizera, do que sua consciência seria obrigada a suportar a partir desse dia, era desumano que continuasse ao seu lado no momento final. Já na calçada ouvia o sorriso escandalosamente nervoso de Juliana, que sabia que aquela era sua última gargalhada..

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Fósforos.

Sempre me foram um mistério fascinante. Ele vêem, flamejam 10 seg. no máximo e se vão. A duração deles é às vezes menor que um suspiro prolongado. E no entanto eu nunca deixei de pensar neles e tê-los por perto. As chamas, as chamas sempre me fascinaram. Eu tinha uma coleção de revistas infantis e certa vez li que existiam chamas de todas as cores. Nunca esqueci ou superei. Contei pro meu irmão outro dia e ele disse que então viraria cientista e me daria todas as cores de chamas. Vivo mais feliz e ansiosa desde então.. Fósforos, sempre pensei que eles podiam ser coloridos, assim, quem não tivesse a minha sorte, poderia ter todas as cores de chamas que quisesse: - Uma caixa de fósforos, por favor. - Pois não. Qual levará? - Hmm.. hoje quero dos liláses e verdes. - 3 reais, senhor. - Aqui está. Muito obrigada! - Obrigada eu, adeus. Você já repararam que o fogo queima mais se você colocar o dedo bem em cima da chama? Queima mais do que se você encostar o dedo nela. Já fizeram esse teste? Queimaduras sempre me deram muito medo, mas meu fascínio pelo fogo sempre foi maior, por isso eu sou cheia de cicatrizes amarelas. Tudo bem pra mim, de verdade.. Mas imagina se elas fossem uma de cada cor? Ah, quanta magia a mais minha vida teria.. E sem medo, porque se de amarelo estou cheia, todas as outras desejaria.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Monólogo de (mais) um frustrado.

Flouxetina com Café? Sim, me agrada muito. Aliás, eu já comentei que minha mãe é propagandista? Sim, isso significa que temos muitos remédios empilhados na nossa garagem, montanhas deles, nossas gavetas também estão abarrotadas, paraíso dos pretensos suicidas que gostam de se matar aos poucos, até serem descobertos e verem - digo, não verem - todas as suas preciosas drogas escondidas, escondidíssimas, quanta crueldade! Me restou o café, que é um direito que ninguém me tira, matem-me, mas não levem meu veneno negro. Tem um buraco enorme e crescente no meu estômago, guardo-o e zelo por ele como faria com uma pelúcia querida, porque, sim, tenho muitas pelúcias queridas. Talvez seja outro vício, esse das pelúcias. É que eu finjo que elas são pessoas que posso manipular, como deveria ser mesmo no mundo, então faço-as passar pelas situações mais esdrúxulas e humilhantes que encontro. Mas não me considero um sádico, não. Sou só a porra do Deus das pelúcias. Não é isso que dizem que o todo poderoso faz com o pessoal daqui de baixo? Pois então, ele gosta de rir, eu também. E já que eu estou falando de mim, conto um costume que tenho: passar batom vermelho. Não é uma questão de ser viado, porra! Eu gosto de mulher - embora gostar não signifique ter. Mas gosto também de batom vermelho e vodka, não é uma coisa que se explique ou classifique alguém, eu falo pra quem quiser, foda-se! Fora isso eu gosto de ler contos pornográficos e Bukowski, mas só fico excitado com o segundo, contos pornográficos são só uma maneira de me sentir menos inferior, já que os porras que escrevem aquelas merdas devem ser bem mais fodidos que eu, ou não.. mas eu gosto de pensar que sim. Eu tenho 32 e moro com a minha mãe. Quando tiver 72, se ela estiver viva ainda, continuarei morando. As pessoas ficam independentes e ao invés de ouvirem encheção de saco da mãe ouvem do vizinho de baixo, da mulher, da porra do papagaio que comprou pra se sentir menos solitário e inválido, pra tudo isso, prefiro que alguém continue lavando minhas cuecas e cozinhando pra mim. Eu sei que uma mulher poderia ter a mesma função, mas eu nunca tive sorte com elas e no mais minha mãe não me enche o saco se eu não faço a barba e nem quer ter filhos comigo. Eu não entendo essa vontade que as pessoas tem de ter uma droga de um mini-você pendurado, gastando teu dinheiro, teu tempo, fazendo você limpar merda e virando mais um cretino pro mundo depois que cresce, não me entra na cabeça essa história de filho. Mas, dane-se, ? Eu resumo o prejuízo pro mundo com a minha existência, meus rolos e rolos de papel higiênico sujo, minha ingestão diária de tudo que eu conseguir arranjar, minha respiração gorda e afogada, minha emissão de gases.. E ainda faço favor de não sair muito de casa, porque tem limite pra aguentar repulsa e eu extrapolei o humano faz tempo.

Alzira e a vitrola.

Alzira nasceu em uma família aparentemente comum. Regina, sua mãe, era professora de uma escola pública, revolucionária quando jovem, quase fora exilada na ditadura, mas graças a uma incrível sorte e ótimos esconderijos, saiu ilesa. Essa mulher, cheia de sonhos e força, largou qualquer idealismo pelo sonho burguês, casou, teve uma filha, tinham um caro e apartamento próprios, era completamente comum. Não aceitava as coisas como eram mas não fazia - e muito menos falava - nada, era como se a Regina política tivesse morrido assim que passou a ser Regina noiva. Ainda era a mesma e vivia como seus pais, mas não queria que sua filha tivesse o mesmo fim, por isso, todo o tempo que podiam passar juntas, ela a instruía, sem querer mostrar sua insatisfação com suas escolhas, mas deixando claro que a vida era muito maior. E das maiores coisas que a vida tinha pra oferecer, a música era a maior delas. Educou musicalmente Alzira desde muito cedo, de Tchaikovsky aos mestres da Bossa Nova, Janis Joplin a Frank Sinatra, mil vertentes, muita qualidade. Músico de bar noturno, muito boêmio, conquistador.. Regina era admiradora da voz calma e dedos ligeiros daquele rapaz que parecia tão discreto a primeira vista. Conquistador.. Regina achava-o tão reservado, calado. E acima de tudo: um músico brilhante. Ele de fato o era, suas composições lembravam-a Bosco e sua intimidade com o violão era só dele. Pena que ele parecia tão distante. Não, não era. Regina é que sempre acabava indo embora cedo, até um dia que não foi. Ficou, só mais um pouquinho, "vai que a Claudia aparece daqui a pouco..", ela contava com essa possibilidade, queria dar um abraço na amiga que estava sempre por lá e fazia anos naquela data, então ficou. E por esperar a Claudia, acabou por conhecer o que tinha tomado só uma garrafa de cerveja quando foi avisado que ela estava ainda por lá. - Viu quem está aí? - Quem? - Sua bela.. - Ela ficou dessa vez? - Parece que sim.. - E a vida se mostra boa de novo. Estou bem? - Como poderia? - Ah, vai à merda! Porra, cara, já volto. - Volta? - É, espero que não. E não voltou mesmo. Roberto olhava e pensava naquela garota sorridente e misteriosa a cada música que tocava, que compunha, que cantava, alimentava a platônica paixão desde a primeira vez que reparou naqueles olhos amarelos, que nunca ficavam tempo suficiente. Por isso esse momento era grande pra ele, que estava tímido e simpático quando a abordou. Ela, que tinha esquecido o rapaz das ótimas músicas na sua espera e se sentiu como que se tivesse contado um degrau a mais quando ele veio sorrindo em sua direção. - SEU FILHO DA PUTA VOCÊ SABE QUE HORAS SÃO? - Cala a boca, me deixa dormir.. - VOCÊ É UM VAGABUNDO MESMO, SEU CRETINO, SEU NOJENTO! - Vai se foder, Regina, me deixa em paz. - ME FODER? VOCÊ QUE ESTÁ SEMPRE POR AÍ FODENDO, AQUELE BANDO DE VADIAS QUE VOCÊ... - QUE BANDO DE VADIAS? - AS QUE VOCÊ ESTAVA COMENDO ATÉ ESSA HORA! - NÃO ESTAVA COMENDO NINGUÉM. Alzira escutava do quarto, aflita, tinha cinco anos na ocasião e se escondia debaixo da cama. Enquanto a gritaria continuava ela roía a pouca unha que lhe restava, até começar a ouvir os choros e tapas, então não se aguentava e ia até a sala, chorava e se ajoelhava no chão, sabia o que viria a seguir, sabia que apanharia também, mas, se dividisse a surra a mãe no outro dia ao menos conseguiria andar, mas de qualquer forma sempre se sentia culpada por não interceder antes, se reprimia e castigava por ter sido tola o suficiente pra ter esperanças da pancadaria nunca começar. Ela já tinha cinco anos, como poderia ser assim ingênua ainda? -VOCÊ SABE QUE HORAS SÃO, PORRA? - EU ESTAVA TRABALHANDO E JÁ TE FALEI QUE NÃO É PRA ME ESPERAR. - TRABALHANDO O CARALHO, VOCÊ PENSA QUE EU SOU IDIOTA? Alzira, agora com 15 mal formados anos, não intercedia mais, estava cansada de se sacrificar por uma pessoa que parecia gostar da vida de surras e traições que levava. Por mais que amasse a mãe, tinha desistido, já conversara demais, já pedira demais, não estava mais ao seu alcance. A mãe se defendia dizendo que no fundo eles se amavam e que ela que devia parar de ser tão agressiva todos os dias. Esse discurso, quando proferido da primeira vez a enojou ao ponto de ter mesmo que vomitar, agora nem ele a fazia menos indiferente. Indiferente, mas sempre a roer unhas. - SUA CADELA IMUNDA VOCÊ ME XINGA TANTO MAS APOSTO QUE QUEM FICA DANDO POR AÍ QUANDO EU ESTOU TRA-BA-LHAN-DO É VOCÊ! - Agora você passou dos limites, sai daqui, VAI EMBORA, SAI DESSA CASA AGORA! Abriu a porta: - Se você encostar a mão nela eu chamo a polícia. Disse com tranqüilidade, com seus olhos - também amarelos - sempre fatigados, uma tranqüilidade absolutamente decidida: - Vamos, faz de novo, encosta nela! - VOCÊ PENSA QUE VOCÊ É QUEM PRA FALAR ASSIM COMIGO SUA CADELINHA MIRIM? - Bate em mim, vamos! Ele, que havia avançado, recuou: - Está com medo? É bom que esteja! Porque no que depender de vim VOCÊ VAI SE FODER MUITO SEU CRETINO e faz logo o que ela está falando, pega sua mala e vai embora, senão eu mesma taco todas essas porras pela janela. - VOCÊ.. VOCÊ.. VOCÊ NÃO TEM O DIREITO DE FALAR ASSIM COM O SEU PAI! - Pai o caralho, você sempre foi só a porra de um bêbado que encheu o saco de todo mundo, por mim você estava morto faz tempo. Duas lágrimas escorregam pelo rosto de Roberto, tão sensível como artista, tão cretino como pessoa. Regina soluçava no sofá com a cabeça entre as mãos. Ele não encontrou nenhuma palavra pra contestar a realidade e a dimensão que as coisas tinham tomado, só conseguiu abaixar a cabeça e dizer: - Eu não vou ter dinheiro pra pensão. - Ninguém vai precisar de esmola sua por aqui, pode ir agora. E deixa a chave com o porteiro. Ele não conseguiu responder nada, foi até o quarto fazer as malas. Enquanto isso Alzira se trancou no quarto com a mãe e colocou na antiga vitrola a valsa Kiss Waltz de Strauss, que era a preferida das duas, porque remetia a contos de fadas e o que se espera tocar quando se acaba o livro da vida, comentou: - Eu li esses dias que nosso corpo é composto por 70% de água e há pesquisas que dizem que dependendo do que ouvimos a água do nosso corpo pode ser saudável ou não, bonita ou feia, na Europa, essa música é receitada por médicos pra quem está com esgotamento nervoso, então calma, respira, escuta bem, que vai passar. E nossas águas vão parecer diamantes. Escutaram abraçadas, alto o suficiente pra não ouvir a porta se fechando e levando embora pra sempre o motivo das duas terem, por tanto tempo, águas parecidas com tumores.

Maria e João.

Nem só de graça vive o palhaço. Nem só da emoção vive o artista. Nem só de cuidar vive a mãe. Nem só do carinho vive o filho. Nem só de amor vive o poeta. Nem só de poesia vive Chico Buarque. Nem só de letras vivemos os escritores. Nem só de alma vive a verdade. Nem só de corpo a vaidade. Nem só de promessas vivem os amantes. Ou de risos alegres os amigos infantes. Nem só do sangue vive o vampiro. A lua nem sempre vive do brilho. Nem sempre a atriz é mentirosa. Ou a rosa, necessariamente, vaidosa. Nem só de cor existe o traço. Ser protegida no seu abraço, nem sempre é o que posso querer. Se o universo não só de ciência é, por que eu viveria pra ser sua mulher?

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Katrina e a Fotonovela.

Admiro muito como escritora e amiga, eis que um dia ela propõe: - Quer protagonizar minha Fotonovela? - Claro! E cá estamos nós, no endereço mais irônico de todos os tempos: http://lixaodetextos.blogspot.com/2009/12/despindo-o-drama.html Espero que acompanhem e gostem de nossa Aurora, com seus saltos altos e auto-estima baixa. Fica a indicação e a alegria de participar do projeto registrados por aqui :)

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Vagalumes.

Estávamos em casa os três. Eu, na paz da minha leitura, eles dois jogando xadrez no quarto, até que o Marcos por mim chama, com uma ânsia de quem não quer deixar de compartilhar na voz: "rápido, rápido, vem ver", respondi que não queria, mas então Eduardo intercedeu dizendo, igualmente ansioso: "vem logo, você vai perder". Fechei o livro com calma, tirei meus óculos, apoiei-o, junto com o livro, na nossa mesinha de abóbora, ajeitei meu vestido e fui andando sem pressa, enquanto eles, cada vez mais ansiosos chamavam: "anda, anda", em coro. Chegando lá: um vagalume! Sim, um vagalume! E um vagalume verde, que, provavelmente se eu parasse para pensar um segundo, notaria que era, de longe, meu preferido. Verde é a cor da esperança, esperança essa que todos nós precisávamos naquelas épocas.. Abri um sorriso incrivelmente encantado e infantil, então eles puderam notar que obviamente um vagalume, para mim, não era só um vagalume, e eu pude notar que, para eles, importava muito que eu me importasse. Fechamos as janelas. Parece crueldade, dizendo assim, mas queríamos apreciar aquela beleza brilhante, só mais um pouquinho.. Deitamos na nossa cama tripla como se fossemos desabafar sobre um novo amor, olhando pra cima, enquanto ele dançava, evidentemente vaidoso. Ficamos assim, de mãos dadas, sorrisos atordoados nos rostos e olhos atentos por alguns minutos, quando aconteceu.. Eu esqueci de mencionar que esse vagalume cor de esperança surgiu na nossa casa em tempos de guerra. Marcos e Eduardo foram dispensados do alistamento por problemas de saúde física e mental, respectivamente. Então mais uma vez pudemos ficar juntos, nós sempre ficamos, sempre ficaríamos, se não fosse por toda aquela luz.. Aquela maldita luz que me persegue ainda hoje, tantos anos depois nos meus sonhos, a agressiva luz que de uma vez só levou os dois únicos homens que eu poderia amar e que me amaram e se amaram com a doçura de céu outonal. Com a beleza de um borboletear de um vagalume a luz se foi, ficou o pó e o sangue, nenhuma luzinha verde esperança se exibindo no quarto, nenhum quarto. É tudo que me permito lembrar daquele dia. Agora aqui, no lugar que me colocaram, não há vagalumes, claro que não, se estou num lugar que não há janelas, por onde eles entrariam? Eu já pedi, implorei, até chorar eu já chorei: "Se eles não podem vir espontâneamente, traz-me um vagalume?". Mas os homens por aqui são muito diferentes. Eles não me amam, não se amam e acredito que não queiram o bem de ninguém. Além disso estão sempre a fingir sorrisos esquivos e sarcásticos, que mais parecem um lamento. E com esses mesmos sorrisos de dor nos lábios é que sempre respondem a mesma coisa ao meu pedido: "sem vagalumes pra louquinha". Sabe? Antes das negações seguidas da palavra "louquinha" eu amava diminutivos, agora odeio-os, porque qualquer um deles me lembra que continuarei aqui, presa, sem saber porque e pior que qualquer coisa, sem eles ou meus vagalumes.

Votação de aprovação de lei do senado contra homofobia.

Readers! Readers! Votem aí e tentem divulgar? É que é o ultimo dia hoje: http://www.senado.gov.br/sf/senado/centralderelacionamento/sepop/enquete_agencia.asp?num=2138&optEnquete=45%240&nPerg=45&res=0 E o "sim" (por mais absurdamente imbecil que pareça) está perdendo :~ Quem votar ganha direito a um pedido, bjs

domingo, 29 de novembro de 2009

Patétca e Assustada ;

Eu sou uma pessoa deveras excêntrica, ás vezes. Mas só às vezes. Normalmente eu sou como todo mundo: Me encanto absurdamente por um novo conhecido comprometido, sigo ele por aí, descubro coisas que me encantam cada vez mais e tudo isso sabendo que ele tem namorada e jamais olhara pra mim. Completamente comum, diria até enjoativo. Ironias - nem tão grandes assim - a parte a grande questão é: Por que procuro apenas o que é impossível cultivando uma pontinha de esperança que não sei de onde surge? Não, eu não gosto de sofrer nem nada do tipo, juro mesmo. Diz meu psicólogo que justamente por não gostar nenhum pouco disso eu só encontro graça e encantamento em pessoas plenamente inacessíveis. Ele me deu muitos exemplos com histórias que contei, mas, resumindo, é assim: Estou incrivelmente, loucamente, absurda, doente, alucinadamente apaixonada eis que o infeliz se torna possível. NÃO, não se tornem possíveis, meus caros, se não quiserem ser esquecidos antes de conseguirem piscar. Eu lembro que um garoto fez isso comigo certa vez, foi tão, mas tão difícil me conquistar que quando eu estava plenamente apaixonada, acabou-se o sentimento. Ele me deixou viver a mentira por uns tempos ainda, talvez por culpa, talvez por amizade, de qualquer forma a questão é: quando eu descobri achei-o a pessoa mais pequena e desprezível do mundo. Somos iguais, talvez desde sempre e eu o desprezei com a maior força que tinha no meu coração. Será que todas essas feridas nas minhas mãos, essa tristeza que chegou calma e pequena e está crescendo devagar pra eu não me dar conta, essa sensação bizarra que eu não consigo definir e minha incrível vontade de ser qualquer outra pessoa em qualquer outro lugar são nada mais nada menos do que o resultado desse paradoxo terrível que é sentir falta de alguém que cuide - junto comigo - do meu coração e, ao mesmo tempo, morrer de medo que essa pessoa me abandone ou descubra que nunca foi verdade? Sabe o mas impressionante? Eu REALMENTE consigo transformar a pessoa mais maravilhosa da semana passada em alguém totalmente desinteressante assim que surge qualquer raio de sol. E não é fake. A melhor pessoa de todos os tempos da última semana.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Zoológico.

Hoje eu fui ao zoológico. Tristes semblantes contrastam com gritos estridentes. Esconda-se, cubra-se, esse sol.. Pessoas, vidros, jaulas. Cadê minhas presas? Por que tão pouco espaço? Contente-se: A-NI-MAL! Onde estão eles? Batam nos vidros! Cadê o leão? LEÃÃÃÃÃÃO APAREEEEEEEECE! Corram, chupem seus picolés, sorriam, vocês são livres. Vocês são CRI-AN-ÇAS! Cubículos: ESSE ANIMAL ESTÁ SENDO MALTRATADO DESDE 1972! QUE ORGULHO! Ele quase não se mexe, Nono. É, irmãozinho, acho que ele não está muito feliz.. é revoltante. Mas se eles não tivessem aí não ia dar pra gente ver, ? Podíamos ser nós. Batem e batem nos vidros, jogam lixo, lixo. "Com licença, esse animais estão em fase de adaptação e não sabemos que.." Adaptação. Adaptem-se. Morram vivos. Que crime esse animais cometeram e quem foi o juiz que os condenou a prisão perpétua?

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Fragmentos.

Recebi boas críticas da minha família sobre minha arte, é engraçado, eu sempre penso que todos eles me detestam mesmo todos sempre fazendo coisas boas por mim. Acho que era a culpa. Porque, sim, eu sou culpada (ou era) e sei disso e quando somos culpados vivemos achando que os outros estão sempre a nos olhar como se nos julgassem assim, por vezes até estão, mas nem sempre. Então eu não gostava de passar muito tempo perto deles, primeiro porque não tenho lá muita paciência e ás vezes é bem necessário e segundo por achar que não era bem-vinda. Agora os almoços (que eram uma tortura) me parecem tão incrivelmente rápidos, eu gosto tanto daquela horinha a mais que fazemos e ficamos trocando todos segredos e risadas. Não sinto mais que o primo que mais admiro me detesta, não tenho mais (tanto) medo daquela minha outra prima, hoje nós até fomos passear no parque juntas. E no nosso passeio descobri que meu irmãozinho não sabe brincar de balança. Eu achava que era instintivo, que nós nascíamos sabendo ir na balança, porque comigo foi mais ou menos assim e, no entanto, meu irmãozinho (que é um prodígio em tantas outras coisas), não sabe se balançar. Mas eu e minha prima sabemos e alternadamente nos balançamos, me senti viva e feliz, não tinha ninguém pra disputar balança, ninguém pra me tirar de lá dizendo que eu não tinha mais 10 anos, era um parque (muito) ensolarado, bonito e com todos os brinquedos disponíveis, como num sonho.. Sonho! Sonhos.. amanhã pressinto que será mais um dia de sonhos. Minha tia (que é mais minha mãe do que minha própria progenitora) nos levará em algum outro lugar cheio de árvores e sol e nós poderemos mais uma vez brincar, como se eu ainda tivesse 10 anos. Mas suspeito que no parque de amanhã terá muita gente pra me dizer que não mais tenho idade de ir nos brinquedos, por isso vou me fantasiar de crianças. Tamanho eu tenho, vou colocar meu vestido de criança e fazer duas tranças no cabelo, ninguém vai me reconhecer como adulta, infalível! Às vezes eu fantasio que pra sempre poderei fingir que sou criança e convencer o resto do mundo, gostaria que assim fosse, mas não vou alto o suficiente pra acreditar que será. Alto! Você já esteve em qualquer lugar mais alto que uma balança lááááá na subida? Acredito que sim, eu também, mas.. você já sentiu mais perto do céu do que nessa ocasião? Não sei você, mas eu não.. balançar é pleno. Pleno. Eu detesto ficar tanto tempo sem balançar, fico triste e velha, ainda bem que hoje tive essa sorte, sou criança e feliz de novo. Criança que talvez carregue fardos grandes demais, mas, de qualquer forma, criança. Eu carrego desde criança, sabe? Sou uma criança acostumada. Acostumada mas amedrontada, eu não sei se já contei, mas morro de medo de ser abandonada. Ontem, antes de dormir, eu jurei que nunca abandonaria meu irmãozinho porque ele disse que estaria sempre comigo, então ele perguntou: - E se você morrer? Eu disse que continuaria por perto, então ele perguntou: - Mas e se eu morrer antes? Ai eu disse que então seria a vez dele de se aproximar, ele sorriu, me deu a mão, abraçou-me, fechamos os olhos e dormimos, felizes e sem medos.

À la autobiografia de Bukowski.

Um dia eu estava andando de carro com a minha mãe, eu estava com raiva dela porque ela nunca dava atenção suficiente pro meu irmão de 5 anos nem pra mim, que apesar de estar quase completando 18 anos queria ter uma mãe, e no entanto mimava a droga de um cara que não conhecia há nem uma semana como se dependesse dele pra viver.
Estava sem falar com ela de raiva, frustração e sensação de impotência, até que ela começou a me provocar:
- Eu fui com meu namorado num barzinho ótimo, você ia adorar.
- Foda-se.
- Que que é, hein, sua filha da puta? A gente faz tudo por você, todos seus mimos, enfio dinheiro no seu cu todo dia, é 50, 80, 300 reais, a quantia que você pede pra você me tratar assim?
Eu não respondi nada.
- Que caralho você nunca está satisfeita com nada. Eu namoro quem eu quiser, ele é um cara legal e eu estou muito feliz, viu? Estou apaixonada.
- Não está, só quer fazer o papel da adolescente rebelde, sua ridícula, a adolescente da família sou eu, sabe? E eu não sou escrota assim, você podia crescer um pouco, só um pouquinho porque já me deu no saco e ele não é uma boa pessoa, você só é burra e tacanha e quer se convencer que ele é por carência.
- Até parece, ? Que eu estava me jogando no colo de qualquer homem que aparecia, pelo amor de Deus.
- Mas é isso mesmo, o primeiro escroto que apareceu você se abriu toda, você é muito otária. Pra você ter ideia do quanto te repudio até do meu progenitor eu tenho menos repulsa no momento, ele pelo menos gosta de passar tempo com o meu irmão.
- VAI SE FODER! EU GOSTO DE PASSAR TEMPO COM O SEU IRMÃO. E não fale assim do seu pai, ele é só um doente, ele tem uma doença, isso não faz dele um monstro. E que que você quer que eu faça? QUE EU LARGUE A PORRA DA FACULDADE E DO TRABALHO E FIQUE CHOCANDO VOCÊS, É ISSO?
- É, exatamente isso. Aliás, meus parabéns, continue ironizando, deve ser mais fácil ignorar sua omissão, ?
- EU NÃO SOU OMISSA, eu não tenho tempo, puta que pariu. O tempo que eu tenho dedico todo a vocês, levo o menino na manicure comigo..

Eu ri com tanto ódio e tão alto nesse momento que ela parou de falar. - INCRIVEL é que você realmente pensa que cumpre seu papel, incrível que você acha que faz muito mais do que deveria, aliás, acha que faz um favor em passar 10 minutos com seu filho. Ele é SEU FILHO e por mais que eu faça ele sente a porra da sua falta. Sua patética. - PATÉTICA É A PUTA QUE TE PARIU. - Você é a puta que me pariu, otária. - VAI SE FODER! - Você é tão ridícula que não tem argumentos e ao invés de perceber que tem falhas e tentar corrigir, apela pra agressão moral, você me dá pena e é um ótimo exemplo de como não quero ser, obrigada. - O QUE VOCÊ QUER QUE EU FAÇA? E o que meu namorado tem a ver com isso? - Você está obviamente sendo enganada e está curtindo, mas, parabéns, se você gosta de se foder, em breve conseguirá e MUITO bem. - O que você sabe que eu não sei? - Descubra sozinha! Eu já te disse mil vezes e você não me deu crédito, então descobre sozinha, porque agora eu torço mesmo pra que você se foda e bem fodido, eu vou rir, rir muito e festejar, porque você merece. Ela ficou sem fala, estava completamente descontrolada ofegante e vermelha. - VOCÊ QUER QUE A GENTE SOFRA UM ACIDENTE, ? Já já eu vou ter um enfarto e a culpa vai ser sua! É stress de todos os lados e você não colabora. Eu faço tudo por você, estou sempre te dando dinheiro, te ajudando no que você quer. - Dar dinheiro é ser mãe? Então parabéns, você é a mãezona do ano, aplausos, gente, ela é ótima. - VAI SE FODER! Já já eu morro e você vai ver como vai ser fácil viver sem a PÉSSIMA mãe que você vive dizendo que eu sou. Eu sou uma péssima mãe, não sou? - É sim e gente como você não devia ter o direito de procriar. O resto do caminho nós fomos em silêncio, chegando no restaurante ela me tratou com cordialidade e doçura, na frente dos outros sempre foi um anjo. Entramos no carro de novo e ela comentou como era legal nosso rádio que mostrava o nome das músicas que passavam na rádio, eu permaneci muda. Ela me deixou no lugar que eu precisava ir e quando eu desci do carro disse "Te amo". Eu não respondi nem olhei pra trás.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Raios & trovões ;

Minha vida é de todo tempestade. Tempestade das bravas! Quando penso que poderei acender meu cigarro.. mais uma onda na cara. Dizem que depois da tempestade vem a bonança e se isso for verdade, meu deus.. Estou com 34 anos e até hoje só levei bofetada, pra compensar terei 34 anos de calmaria? Que maravilha! Quero morrer aos 68, nesse caso. Estou sendo tão injusto.. em 34 anos (acumulando todos os dias) devo ter tido uns bons dois meses de calmaria, mas não me importo de morrer dois meses antes nessa matemática. Eu costumava ter um pai. Matei. Eu costumava ter uma mãe. Morreu. Eu tinha até um amor. Suicidou-se. Depois tive um filho. Sumiu. Um por um.. Todas as pessoas. Se vão. Para que? Que vãos? Eu.. Estou.. Der.. re.. ten.. do.. PLOFT! Uivos do vento ao luar. Som de trovões. Boa noite!

Chumaço de algodão.

Eu, que vivia implorando pra voltar a total ignorância, pra ter tempo de não me instruir nada, pra poder acreditar ainda que o mundo é um morango silvestre, eu, que sempre invejei secretamente as populares do colégio, porque suas maiores preocupações eram se descobririam que ela ficou com o melhor amigo do namorado quando se embebedou naquela festa ou não, eu, nesse exato momento, consegui o meu objetivo e descobri que com ou sem dor, prefiro a dor a chumaços de algodão tomando o lugar do meu cérebro.

Eu não sei como consegui tal proeza, sei que num dia eu podia conversar sobre 90% dos assuntos, a velocidade das minhas sinapses eram incríveis, minha lógica e interpretação de texto estavam ok e eu podia escrever um texto com coerência e, muitas vezes, até interessante ele saia, agora..

Talvez meu pedido desesperado tenha sido atendido, mas, saber que não se sabe é o grande problema. Talvez eu só tenha ficado menos arrogante e descobri que, afinal de contas minhas sinapses não eram tão rápidas assim, mas não acredito, porque nesse caso seria uma nova consciência e não uma dificuldade de processar um legado.

De qualquer forma fica meu aviso. Talvez essa burrice que me toma seja temporária. Talvez não.. De qualquer forma volto com mais notícias quando as tiver.

Atenciosamente, Joarez.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Trivialidades e inspirações de ônibus.

Adoro trivialidades e inspirações de ônibus. Pena que em casa elas parecem tão mais presas.. Talvez porque realmente fiquem, as paredes, sempre as paredes.. protegem mais prendem, é o preço que se paga hoje em dia. O preço do conforto, das roupas quentinhas e tralhas que gostamos de juntar, fingindo que tem uma importância e utilidade tão grande que, se por ventura, alguém abandona isso e decide viver na rua de certo é louco. Os mendigos, sabe? Todos loucos. Loucos e mentirosos! Como poderia um médico renunciar a sua vida de salvador de vidas pra sair por aí vadiando? Você não vê, minha filha? É tudo mentira.. Médico nada, esse aí já nasceu vagabundo. Ele tem um vocabulário extenso, ? Isso é estranho, concordo, mas, bem, hoje em dia qualquer um sabe o que quer ? É só querer, a internet está aí pra isso.. Argumentar hoje em dia é quase sinônimo de palavrões e possíveis socos. Eu adoro uma boa discussão, adoro mesmo, quase tanto quanto adoro trivialidades e inspirações de ônibus, mas às vezes é tão difícil discutir com alguém. É que as pessoas inteligentes estão cada vez mais raras então quando encontro uma pego pra mim, eu coleciono gênios, não posso me dar ao luxo de discussões maiores. Mas, bem, é claro que a gente discute muito, mas, de qualquer forma, nunca chega nos extremos que eu gosto, pela amizade, pela coleção. Então, por não ser adepta de nenhum tipo de violência acabo por discutir sem todo meu potencial argumentativo, provocações podem custar caro e apesar do preço quase valer a pena ainda fico no quase, quem sabe se eu não aprender alguma arte marcial.. Todos meus amigos que já fizeram ou fazem alguma gostam muito, porém eu não sei, sou um pouco pé atrás com orientais. Acho-os sábios, muito sábios em suas lutas, algumas crenças.. porém um povo que subestima a mulher, que a transforma em uma serva, um simples objeto decorativo.. De qualquer forma eu sou uma grande preguiçosa, atividade física fico com as que envolvem abraços, mordidas, risadas, correr atrás até cansar, subir em árvores, escalar telhados, bicicleta, pipas e coisas assim, bem adultas. Isso me faz lembrar de um livro que pretendo escrever, pretendo tanto que vou começar, nesse exato momento. Adeus.

Queria escrever algo genial.

Como um diálogo amargo mas calculado. Mas amargura é o que eu não sou no momento e não há quem escreva sem totalmente não ser ou até há, mas quem o faz soa falso, porque assim o é. Eu nunca procurei nada, nas minhas palavras e nas que procuro por aí, muito além da sinceridade, porque, afinal, sinceridade até quando dói, é gostosa porque é viva. Mesmo quando se quer renunciar a verdade enche-se a boca (mesmo que em sussuros) quando se diz. Atriz que é atriz o sabe, mas por mais que tente, não enche a boca tanto quanto se fosse verdade. Aí entra a questão esquizofrênica do palco, a dedicação descabida. Eu volto a ter sete anos e procuro uma tristeza infantil de perda de pais que só perdi mais tarde pra poder agradecer um Capitão Gancho que me ameaça e depois faz honrarias. Tudo pelo teatro e sinceridade. Ser sincero é quase tão gostoso quanto convencer alguém de uma mentira absurda.

domingo, 15 de novembro de 2009

A humanidade é desumana.

Voltava do trabalho, estava tranqüila mas provavelmente pensava na solidão. Era uma garota indefinível, mas, naquele momento, dela podia-se dizer: excêntrica, sonhadora e gentil. Sentada esperando seu ônibus um casal se aproximou, o homem sentou, ela sorriu pra ele, se afastou um pouco para que a mulher pudesse fazer o mesmo. Por um instante pensei que ela admirou de alguma forma o homem, mas não faria sentido e ela sempre faz. Pensei que ela poderia ter recuperado a fé na humanidade, me enganei. Um cego, um funcionário do metrô, uma promessa: "Eu cuido dele", a mulher do quase admirado falou. O ônibus do casal chegou, era o mesmo ônibus que ela pegaria, o casal foi embora, esquivos, quase se escondendo. Ela ficou, e disse: "Não estou com pressa, não se preocupe". Ela estava com pressa, mas ficou. E quando ele foi embora, ela lembrou da música que ouvia, falava da beleza, falava da visão, lágrimas quentes e salgadas escorreram, ela não chorava por ela, era pela humanidade que chorava. Tão cretina a ponto de prometer cuidar de um ser quase indefeso e fugir, se escondendo, provavelmente das próprias consciências.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Apatia.

Apatia. A parte, tia. Eu odeio falar com ódio "cala a boca que você não sabe do que está falando", mas às vezes.. Às vezes eu falo. Me arrependo no instante seguinte e volto pra minha apatia, porque sei, na verdade, que eles têm razão, eu que procuro minha depressão.. Mas deixa estar que sempre me disseram que depois da tempestade vem a bonança e sabe do que mais? Isso só não funcionou melhor pra mim por falta de tempestade. Ou não.. Ou foi por mera falta de admissão de tempestade, de qualquer forma eu sempre acabo bem e bem melhor que você. Você, seu cretininho prepotente, seu nada. Eu não tive culpa alguma de não poder oferecer meu amor quando você o quis, essas coisas a gente não escolhe, mas, fazer o fizestes, foi imperdoável. E mais imperdoável é continuar a pensar nisso. Então eu paro. E me invade a apatia. A apatia eterna, que duvido que dure mais que um dia e meio.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Infinito.

Um aceno, um sorriso, um abraço, um como vai? um gosto de você, uma maneira de falar, um passar a mão no meu cabelo, falar que gosta do meu perfume, falar que gosta do meu sorriso, uma mensagem, um elogio qualquer, uma manhã fria e clara, o Gabriel falando qualquer coisa, uma perspectiva, uma ansiedade, vergonha saudável, grama verdinha, uma rosa, uma coquelicot, uma música incrível, filmes, cores, tontura, paixão, teatro, crianças com vergonha depois da peça, diz que vem e vir, não diz que vem e vem, um presente, um convite, me chama pra sair, me chama pra conhecer seus pais, dança comigo devagar, uma música que te lembra eu, fazer as pazes, pensar na plenitude dos amores breves e duradouros, talvez ficasse aqui enumerando tudo, se esse tudo não fosse infinito.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Muito fácil viver com fé.

Três pessoas estão dentro de um carro, calor: - Sonho que um dia alguém declare ter mantido uma paixão secreta por mim durante anos, alimentado, vendo tudo de maneira platônica, até que, ao me conhecer melhor, a pessoa percebe que: não, eu não sou pra platonismos, ela gosta de mim além disso. - Eu gosto de pêra. - Eu vi um mendigo ontem com a cabeça tão cheia de piolhos.. ele estava caçando-os com as mãos, arrancava e jogava-os no chão. - Só falar disso me deu coceira. - O que ele faz pra mudar? - Como assim? - Ele está lá porque quer, o que ele faz pra não conservar piolhos? - Ah, claro, foi uma opção, lógico.. na verdade acho que é uma coisa de sonho, ? "O que você que ser quando crescer?" "Eu? Mendigo caçador de piolhos", deve mesmo até ser um hobbie. - É fácil ser irônica, você sabe que é verdade, ele não faz nada pra mudar. - Que condições ele tem? - Ele fez escolhas, podia muito bem cortar grama pra alguém, conseguir uns trocados pra pelo menos tomar banho, ir pra esses lugares que ficam os mendigos. - Claro! Por que qualquer hotel admite mendigos, ? "O senhor quer apenas tomar um banho e pagará por isso? Pois não.. cá estão as toalhas", se liga.. E quanto aos "lugares", são praticamente hotéis, né? Uma delícia.. sendo mendigo a única coisa que se tem é a liberdade, abrir mão dela pra continuar na marginalidade não faz nenhum sentido. - Ele está exatamente onde devia estar. - Aham, não é o sistema que apodreceu, a culpa é dele, cada pessoa que dê conta de si, porque a vida é fácil, aliás, nós somos burguesas felizes por que merecemos, ? Porque somos melhores que 5/6 do mundo, porque cuidamos de nós mesmas e fizemos por merecer, ? Não tem anda a ver com a família em que nascemos e com a condições que fomos criadas, nada a ver.. - Mas nós nascemos na nossa família por um motivo, cada um passa pelo que tem que passar. - Que fácil viver, não? Que fácil viver com a sua religião.. onde tudo é justo, cada qual está passando exatamente pelo que merece, onde os malignos e injustos serão punidos, que fácil viver quando nada está nas suas mãos, quando se vive em um lugar ótimo, se tem dinheiro, boa família e amigos, que fácil viver quando nenhum problema social te afeta ou causa angústia, porque, afinal de contas, nada mais do que justo! Meus parabéns, achaste como não ter fluxos de consciência, achaste uma maneira de se acomodar, largar a bundona gorda na poltrona, assistir a desgraça do mundo e dizer "tudo merecido". Sabe? Eu também tenho minha fé, tenho sim.. mas essa minha fé não me faz torcer o nariz pra quem tem problemas e me omitir completamente, pelo contrário, se as coisas são como têm que ser, eu vou fazer tudo que puder pra ajudar elas a melhorarem, porque, bem.. se houver uma forma, aposto que vão querer, essa tal força superior, aposto que ela vai querer que eu ajude, independente de qualquer força, minha consciência. Então continuarei reciclando meu lixo, tratando as pessoas com compaixão, desligando a torneira pra tomar banho, achando uma bosta esse sistema decadente e falido, me sentindo impotente, discutindo política e aflorando meu lado "avante mundo", porque, se todos fossem e pensassem como você pensa, bem.. o mundo conseguiria estar pior. Você deveria mudar pra Índia, o sistema de castas vem da religião deles, prega exatamente isso que você me diz, cada um que viva onde "o destino" o colocou. Mude pra Índia e viva sorrindo, com seu dinheiro, beleza e consciência limpa :)

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Esse filme poderia se chamar "Filhos de Marx e da Coca-Cola".

"De Janeiro a Março continuei realizando pesquisas de opinião. Aspiradores de pó vendem? Você gosta de queijo em tubo? Você costuma ler? O que é um arcabouço? Gosta de poesia? Jogos de Inverno? Minissaias? Como reage ante acidentes? Se seu namorado a deixasse por uma negra, você se importaria? Você sabia que existe fome na Índia? O que é um comunista? Prefere pílulas para evitar a gravidez ou usa algo na sua vagina? Onde você mora? Quanto ganha por mês? Por que as socialites são mais frígidas que as operárias? Sabe da guerra que está havendo entre o Iraque e os Curdos? Ao longo desses três meses, fui percebendo que aquelas perguntas, ao invés de refletirem, deturpavam a mentalidade coletiva. Minha falta de objetividade, até quando era involuntária, tendia a provocar previsivelmente respostas falsas dos interrogados. Sem querer, eu os enganava e era enganado por eles. Por quê? Talvez porque as pesquisas de opinião logo desviam do seu verdadeiro objetivo, a observação do comportamento, para enveredarem, traiçoeiramente, por juízos de valor. Descobri que as perguntas que eu fazia ao cidadão francês expressavam uma ideologia, que refletia não os costumes atuais, mas os passados. Eu deveria estar alerta. Alguns conceitos aleatórios serviam-me de referência: 'O filósofo posiciona sua consciência contra a opinião.' 'Ter uma consciência é estar aberto para o mundo.' 'Ter fé é agir como se o tempo não existisse.' 'A sabedoria é a capacidade de compreender a vida. Isso é a sabedoria.'" Feminino Masculino, Godard.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Surrealismo Litigioso.

- Eu ouvi você dizendo que não queria. - Eu ouvi eles te dizerem que eu não fazia nada daquilo, que era mentira. - Então você acha que eu duvidei? - Eu duvidaria. - De qual vertente? - Da sua alma. - Minha alma é nova pra você? - Se você quiser chamar assim.. - Você não conhece minha alma. - Acho que conheço suficiente pra dizer que você duvidou junto. - Eu mudei. - Mudou pra alguém que não duvidaria? - Não me importaria, nem pensaria em duvidar, não é problema meu. - Mas muda as coisas. - Você acha? - Mudaria pra mim.. - O que você tem que entender é que nós não somos a mesma pessoa. Não me importa nem se mudaria ou não pra você, porque eu te amo. E você diz que me ama, me pergunto o porquê da crueldade. - Porque eu te amo. - De que forma? - Detesto definições. - Você é previsível em toda sua pretensa diferença. "Detesto rotular" é uma maneira de dizer que você é covarde. - Talvez seja.. - Você é! - Quem é você pra dizê-lo? Nunca deixei você me conhecer, enquanto você se abria toda. - Ou fazia você pensar que sim.. eu posso manipular muito bem se quiser. - Mas acho que não deu certo, eu continuo te amando da maneira que você não quer. - Talvez eu queira. - Você reclama por que então? - Porque é tudo inconsciente.. - Me manipulas de maneira inconsciente? - Não, te manipulo conscientemente pra satisfazer meu inconsciente e fico seca. - Você nunca é seca. - Talvez eu seja sem o saber. - Seu coração? - O nosso.. Eles deram a mão, viram o pôr-do-sol e morreram por aí, sempre tentando voltar a ser o que um dia desejaram não amar.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Amigos e choros recentes.

Recentemente aprendi a guardar pra mim. Recentemente esqueci como fazia pra me recuperar de grandes tristezas. Recentemente mandei a merda tudo que aprendi. Recentemente voltei a sorrir, porque nada mais guardei. Recentemente revi o quão importante é distribuir amizade. Recentemente me ensinaram que não é possível sufocar muita gente, então ser intensa não é um defeito, é só uma questão de saber distribuir amor. Recentemente me descobri com o coração seco e os olhos inchados. Recentemente colhi todas minhas lágrimas pra guardar num potinho roxo, minhas lágrimas são florescentes, como as estrelas no teto do quarto da Nin. Recentemente colhi flores dentro de toda minha solidão, flores que falaram comigo e me mostraram que eu não estava sozinha. Recentemente peguei o telefone e disquei o número de uma amiga que eu muito amo e após desligar me senti reconfortada, como se tivesse tomado uma xícara de quente chocolate num dia frio. Recentemente eu descobri que o passado mais distante e o segundo anterior, são recentes ou não de acordo com a vontade do nosso cérebro. Recentemente vi uma menina sorrindo pra mim num porta-retrato azul e tive certeza de que nos amávamos. Muito longe, muito tempo, anos e anos de amizades cultivadas, que se perdem sem um abraço, num labirinto de novidades atraentes. Mas quando há amor, é como um imã, não há embrenhamento nesse labirinto que faça a gente se perder de fato. O imã nos puxa, nos trás de volta aos nossos amores reais, nossos amigos de vida e nos faz feliz de novo. Viver é uma questão de conhecer as pessoas certa.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Nesse exato marasmo.

Esse segundo é o melhor da vida de alguém. O momento que ela sempre esperou, nesse segundo alguém beija a boca do seu amado pela primeira vez e pensa na tolice que era imaginar que isso fosse impossível. Nesse momento uma senhora idosa conta histórias pro seu netinho em uma cadeira de balanço, ao mesmo tempo que um bolo assa no forno e a chaleira chia de alegria por tornar tudo quentinho. Justo agora um bando de adolescentes devem estar sorrindo por algum parque e desejando ter aqueles amigos pra sempre. Talvez eles estejam na praia ou na casa de campo do pai de algum deles.. Alguém está ganhando um anel de brilhantes que muito mais que um anel de brilhantes, significa a alegria de ter alguém que pensa que ela merece-o. Alguém volta pra casa de algum espetáculo muito bem sucedido e aplaudido, com um sorriso no rosto enorme, depois de ter ido comemorar com os amigos mais próximos. Alguma garotinha de longos cabelos castanhos presos num rabo de cavalo e olhos profundamente azuis solta bolhas de sabão num jardim bem iluminado e de temperatura agradável, enquanto sua mãe, sentada no banco do jardim, lê um romance do Gabriel García Márquez e suspira. Alguém está tirando a melhor foto de sua vida justo agora. Aquela que ele sempre se orgulhará e mostrará a todos. Alguns escritores, nesse momento, escrevem o último ponto final do livro de vai revolucionar pelo menos uma vida. Alguém sente e vê a vida de outra forma depois de terminar um desses livros nesse exato momento. Alguém recebe o resultado de uma prova que foi muito bem, depois de horas de estudo. Talvez uma menina de olhos bem verdes e dentes bem brancos, talvez um garoto de camisa xadrez, talvez uma senhora de coque e óclinhos.. Alguém de dieta sonha que come muito doces maravilhoso. Alguém ganha sua primeira partida de xadrez nesse momento. Alguém vê, despretenciosamente o resultado da mega-sena e, depois do pequeno atordoamento, percebe que ganhou. Esse alguém está provavelmente de chinelos e muito despenteado, quando recebe a notícia, esse alguém pode ter uns quilos a eliminar e ter acordado mal-humorado. Nesse segundo algum gênio inventivo inventa aquilo que a humanidade sempre quis mas até o exato momento ninguém sabia direito o que era.. Quem sabe um colchão que acomode seios e curvas, que acomode o braço que sobra no abraço na cama? Há uma menina escrevendo no seu blog, com a alegria que só um coração sabor geléia de morango e cheio de bons amigos pode ter. Uma ermã dá a mão pro seu ermão enquanto o guia pra escola, nesse exato momento. Tem alguém acordando de sorriso no rosto e notando que, não era sonho, ele de fato dormiu abraçando-a. Outra pessoa recebe uma mensagem linda, que a deixará de sorriso no rosto sempre que toda vez que lembrar. Alguém, de algum pais quente, mergulha numa cachoeira gelada e gostosa nesse exato momento. Nesse minuto alguém ouve uma "prece" de amor ao pé do ouvido. Alguém perdoa e faz as pazes. Alguém vai dormir, vestido com seu pijama e edredon mais velhos, porém mais confortáveis, sente aquele relaxamento que só sentimos indo dormir, depois de tomar um bom banho quente, esse alguém sente seu próprio perfume e oscila entre o quase acordado e quase dormido, o reino do sonhar. E você, o que está fazendo de grandioso agora? Dê a cada instante a oportunidade de ser o melhor da sua vida.

domingo, 25 de outubro de 2009

Domingos são sempre melhores.

Último sábado, antes da apresentação, eu vi meu ex. Faz quase um ano que ele me chutou, eu vi ele, não sei exatamente como me senti, mas atrapalhou minha concentração. Nosso público foi bom, até.. Eu cheguei ligeiramente atrasada, mas não teve nada não, meu diretor não brigou. Saí correndo pra uma festa a fantasia que foi bem legal, me machuquei, suei, dancei e.. não foi suficiente. Então liguei pros meus amigos e - não - dormi por lá, foi genial e engraçadíssimo, sabe? Fiquei sabendo que jamais teria uma segunda chance com uma pessoa querida. De qualquer forma, não dramatizemos.. No domingo cheguei no teatro meio cagada ainda por me sentir "por ter vendido a alma ao diabo..", tenho cantado essa música o dia todo, mas não era disso que eu falava, dizia que me sentia sonolenta, sem perspectivas - afetivas - mas não triste, enfim.. Cheguei no teatro mais cedo e por caminhos loucos que só autorizados do teatro conhecem fui parar na platéia superior de uma Cinderela.. engraçadinha? Não sei ainda o que achei do final daquela peça, penso que achei engraçadinha, não sei.. Sei que vi e quando fui pro camarim as meninas já tinham chegado. Ah, pra variar eu, antes de ir ver a Cinderela, já tinha levado todo nosso material para os camarins. Depois de cumprimentá-las e me trocar, o diretor avisou que ia abrir, abriu, fiquei distraída, sempre demora um tempinho a começar a peça, quando me dei conta já deveria estar no palco e estava conversando com um quase-coelho-loiro, corri e dei minha fala, ninguém percebeu.. Terminei a peça molhada de suor, feliz e decepcionada, um amigo platônico que tinha prometido ir não foi, mas.. foi melhor, teria ficado ansiosa e trêmula, acho. Domingos são sempre melhores, não sei bem porque, mas sempre tem mais público e energia. Andei pela rua dos Ingleses, olhei aquela vista e aquele show sem público com aquela colega de profissão que fumava elegantemente, ganhei uma carona na subida e resolvi ir pra estação Trianon-Masp do metrô ou invés da Brigadeiro e por isso - e só por isso - encontrei meu melhor amigo e sua linda e querida namorada na frente da Reserva Cultural, conversamos, conversamos com mendigos e foi bom.. Cheguei em casa e comi brigadeiro. Agora estou aqui, vendo Sr. e Sra. Smith, achando esses dois um tesão, pensando que filmes de ação são muito toscos, querendo pedir pra Má ler o tarô pra mim e achando que isso não faz nenhum sentido, porque tenho minhas respostas e me sentindo uma pequena frustrada. Porque errei e não serei perdoada. É! Essa semana num sonho estranho tinha voltado com meu ex e estávamos felizes, meu psicólogo e ogum disseram que quando estou carente me volto pros bons momentos. Engraçado..

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Hetero enrrustida.

[...] - Ninguém é totalmente hétero. - Não mesmo. - Acho que existem tonalidades, mas nunca um hétero absoluto. - Totalmente, eu não sou nem um pouco hétero, aliás.. eu sou lésbica, sabia? *insira histórias de tentativas frustradas de convencer sobre lesbianismo* [...] *insira aqui alguns sonhos relatados* - Desculpa, mas você não é lésbica. - Nem um pouquinho? - Nem se você tentar. - Sério? Mas assim.. não há nenhuma esperança? - Desculpa, não. Sabe? Você está sempre a deixar garotas pra fora e seguir no metrô sorrindo, ou desfazer seu namoro de anos com um gesto de mão pra em seguida namorar um garoto. - Então por que eu só gosto de gays? - Você só gosta de impossibilidades. Se é impossível, você gosta. - Mas.. mas.. - Você não consegue acreditar na felicidade de um casal hétero? Qual o preconceito contra hétero? - Ah, sabe, eles só são.. chatos. E sempre saem chorando. - Os gays também. - É nada, digo, sim, mas.. eles não são chatos quando juntos, eu poderia implantar um pênis? - Os implantes de pênis só são autorizados se for comprovado que seu hipotálamo é masculino. - Será que o meu não é? *cara de sem chances* - Droga! :( - E sem contar que os médicos nem chamam de pênis, ele não tem ereção, é chamado de canudo. - Canudo? Nossa, eu não quero ter um canudo! Mas.. quando a ciência estará evoluída o bastante pra solucionar problemas de pobres mocinhas como eu que só se apaixonam por homos? - Você não se apaixona só por homo, se apaixona por impossíveis. - E sabe de uma coisa? Eu sou super lésbica, é sério, acho mulheres lindas e umas delícias, ontem minha prima estava com um vestido que.. nossa.. eu pegaria, vou pegá-la um dia! - E ela tudo bem com isso? - Não sei mas.. Vou seduzí-la! - Viu? - O quê? - Você até não tem preconceitos, até realmente faria isso, mas não porque ela é mulher, porque será difícil. - Óh céus, que vida injusta. Como lidar? Como lidar?

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Tédio.

A mosca que passava irritava, A moça que pisava: ódio. O passo no corredor dava angústia, A mais meiga das vozes era tédio. Abandono, omissão, pra um bem maior, Pra não surrar ela ficou omissa, Ele dormiu um sono quase magoado, Acordou lindo. Ela tentou dormir, Tentando de novo só ficar sozinha, Ele falava e falava, Ela abraçava e respirava fundo. Era amor, óbvio amor, Mas haviam sentimentos inexplicáveis afligindo seu peito, Era quase enlouquecedor, Enlouquecia a dor, O seu grito sem voz. Ele não merece seu descaso, Seus pitis violentos e choros de solidão, Ele não merece vê-la daquele jeito e ela - que procura, sim, o equilíbrio - então respira. Respirou tanto que não quer mais respirar. Quer gritar, rasgar faces. O passo no corredor é ódio. E talvez ela só precise dar umas voltas por aí..

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A menina que via o mundo.

Ela acreditava em gnomos, duendes, em fadas, magia e coringas. E porque acreditava, eles existiam. Ela acreditava em energia, tarô, evolução e orixás. E porque acreditava, eles a ajudavam. Ela acreditava em pequenos gestos, em abraços verdadeiros e toques de almas. E porque acreditava, sentia. Ela acreditava em animais falantes, mundos extraordinários e que nada era impossível. E porque acreditava, nada era.. Ela pensava entender o mundo inteiro. E por pensar, entendia.. ou quase. Porque, na verdade, tinha uma coisa que lhe escapava a compreensão.. O amor! Ela não acreditava, entendia, procurava ou controlava. O amor sempre lhe escapou, mas a menina, sábia como bem era, sabia que do amor, a gente não precisa nada, além de sentir. E porque ela sentia, ele existe.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Entro nos seus sonhos e te acordo.

Eu venho estudando magia sem saber desde minha mais tenra idade. Coisas estranhas, boas e misteriosas, coisas que eu quero pra mim, vem sempre acontecendo, a vida flui fácil. Eu me apaixonei por você, você entrou na minha cabeça, saia e coração. Mas eu te repeli, como que por magia, qualquer estranha intuição de que algo bom o bastante pra me prender estivesse chegando, porque minh'alma é cigana, não quero que nada me prenda em lugar algum, por isso te repeli de uma forma bárbara, você não deveria mais me querer e eu não devia mais ter esperanças, porém.. O baralho, ele nunca mente, nossos abraços, muito menos. Já o seu nunca: mente! Eu continuo em você e você continua em mim.. Agora você dorme, naquela cama em que ficamos o tempo inteiro acordados, na mesma cama que nossos corpos apressados, sedentos e macios se sentiram completos. Você dorme tranqüilo, com a boca entreaberta, não sonha nada que se lembra amanhã, até que eu descido te violar, violar a paz do seu sono, entrar nele e te fazer querer-me mais. Fecho os olhos e mentalizo seu rosto, sua cama, estou do seu lado, pronta pra mergulhar na sua cabeça. Mergulho.. Estamos em um lugar tão neutro quanto uma praça, uso vestido e talvez você nunca tenha me visto usar um tão doce e ao mesmo tempo tão curto. Eu pego na sua mão. Você fica feliz e me beija, não mais com aquela ânsia sexual, não mais só com desejo, tem esperança no seu coração e por isso nossas almas se tocam. Você já tocou a alma de alguém? É uma sensação tão profunda que a qualquer momento pode ser revivida com um fechar de olhos, o toque de almas fica gravado pra sempre na nossa memória e sensação. E é assim que eu te acordo, com um beijo tocador de alma, uma sensação que você jamais esquece, a rara sensação que a partir de agora tem minha marca e sempre terá, só comigo sentirás isso.. E é assim que minha ausência na sua cama te desespera mais um pouco e você não sabe o que fazer. E é assim que você inocentemente volta a dormir e agora, sem influências minhas, sonha comigo de novo e continuará sonhando, acordando quase triste, perturbado com a minha falta.. Até que eu te fale tudo que tenho pra falar, depois disso: são sonhos realizados.

Viver é lindo e macio.

Você já sentiu vertigem de alegria? Você tem o costume de mandar beijo pro relógio e fazer um pedido ou pensar em alguém quando vê horário que - no meu caso - você gosta? E aí você estava lá, fazendo isso e seu labirinto faz 360º de pura euforia? Então você come bala de gelatina de morango com açúcar e pensa no quanto é bom estar só respirando? Como é bom estar só respirando. Receber a notícia de uma surpresa. Falar com uma ex-amante sem mágoa nem sentimentos. Conversar sobre o que é amizade e no que você falhou com verdadeiros amigos. Não saber se você está apaixonada por picles, vinas ou tunas, já que picles, vinas e tunas são incríveis o suficiente pra você poder estar apaixonada. Como é bom ver que nada falta agora. Assistir uma das suas séries favoritas com uma das suas pessoas favoritas e rir seu sorriso mais gostoso. Como é bom a balança mostrar seu progresso. Ter amigos que dizem que poderiam passar o resto da vida amando você. Trabalhar com o que se ama. Como é genial soltar bolhar de sabão e planejar qual surpresa preparar pro seu irmão menor, que costuma ser o ser mais incrível da Terra, quando buscá-lo na escola. Como é maravilhoso ver que sua mãe tem bons amigos, bom emprego, boa mente. Como é genial ler um livro e se debulhar em choro quando a "mãezinha", "a irmã" e "a noiva" de todos eles se deixa ser levada pela febre. ´ Como é incrível poder vir aqui e escrever todas essas coisas com a maior sinceridade do mundo, só porque você poderia dançar até os membros todos se soltarem do corpo, porque você é.. feliz! Plena e aprendiz. E pensar que eu já estive baixo o bastante pra ser chamada de pretensa suicida.