domingo, 25 de setembro de 2011

Nova velha.

Devem ter sido as más companhia que me deixaram assim, cansada, envelhecida.
Devem ter sido as pessoas tóxicas que me fizeram envenenar até a quase morte com sentimentos mesquinhos, ciúmes, julgamentos injustos, aflições.
Devo ter mesmo escolhido bem mal esses ditos amigos que eu contava pra cá e pra lá a vida e o modo como ela funcionava pra mim.
Deve ter sido o tempo em parte que me deu esse semblante de quem já franziu demais a testa, já chorou sem motivo concreto, por todos os motivos, pela vontade de se aposentar da vida e ao mesmo tempo saber que isso nem melhor seria.
Deve ser a falta que uma casa de campo me faz, com riachinho passando, cheirinho de pinheiros, gatinhos correndo, morangos silvestres, corujas piando, chaleira apitando no fogão, fumaça de bolo assando saindo da chaminé, deve ser a falta desse cenário que me apodreceu por dentro, me deixou assim descrente, fingindo amores e alegrias, escrevendo cartões e fazendo desenhos pra ninguém.

Engraçado mesmo é que nesses dias que estou assim, nessa mutação bizarra que me faz parecer a mulher que eu ainda não sou, meu irmão menor, deu de me apertar as bochechas falando comigo no tom de voz que eu falaria com ele, me chamando de neném, bebê esquilo, de fofinha da vida dele, de minha pequenininha mais fofa, tudo isso com essa cateterística voz que só usamos com bebês e animais muito fofinhos.
É estranho que a vida faça dessas com a gente e que nem revidar sequer a gente possa. 

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

10:09

Olhei pro relógio eram 10:09, disse "se da próxima vez que eu olhar for 10:10 ele me ama muito".
Olhei pro relógio eram 10:09.
Olhei pro relógio eram 10:09, disse "se da próxima vez que eu olhar for 10:10 ele me ama absurda, louca, desmedidamente".
Olhei pro relógio eram 10:09.
Olhei pro relógio eram 10:09 e eu disse "se da próxima vez que eu olhar for 10:10 ele não me ama".
Olhei pro relógio eram 10:10.
Eram 10:10 e eu resolvi que não acreditava nessa besteira, porque eu tenho a honestidade de deixar as coisas funcionarem só quando é pro bem. lml

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A lua ficou o dia inteiro.

Quarta-feira: acordou em lugar estranho e mesmo assim tomou leite com Sucrilhos.
- Hoje a lua ficou no céu o dia inteiro e isso precisa significar alguma coisa muito boa.
Sábado:
- O que você está fazendo?
- Sofrendo.
- Sofre comigo?
E entre provar pra si e pro resto do mundo, andou de cabeça baixa, tentou olhar ao redor, torceu o pé e entrou no carro.
Dirigia olhando pro lado, olhar correspondido e meio surpreso de quem espera ser tocado e sabe que olhar é toque.
Segunda e eu sei que você está ai.
Terça e onde ele está?
Quarta e espero que volte logo ou não volte nunca.
Quinta e eu espero o mês inteiro por uma bola, dois controles e esse cachorro babão e cheio de camomila que pula em mim e me faz sentir amada.
Amarga.
Bem sabia o que queria mais a culpa era forte demais.
Porque ela sentia que tinha uma obrigação, ela não ia gostar se tivessem feito isso com ela.
E não conseguia deixar de sentir, nesse coração tão pálido, um rosto tão bonito e um olhar tão sincero e simpático e tão distante daquele que minava suas energias.
E a culpa da confusão é claro que era do rosto tão branco, tão calmo e macio, a culpa era da pequenez e do sorriso tranquilo que exibia como se tudo estivesse certo e não houvesse medo de se machucar, porque embora nada estivesse de fato acontecendo, a vida passa no cérebro de quem tem.
Passou no meu.