segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Vagalumes.

Estávamos em casa os três. Eu, na paz da minha leitura, eles dois jogando xadrez no quarto, até que o Marcos por mim chama, com uma ânsia de quem não quer deixar de compartilhar na voz: "rápido, rápido, vem ver", respondi que não queria, mas então Eduardo intercedeu dizendo, igualmente ansioso: "vem logo, você vai perder". Fechei o livro com calma, tirei meus óculos, apoiei-o, junto com o livro, na nossa mesinha de abóbora, ajeitei meu vestido e fui andando sem pressa, enquanto eles, cada vez mais ansiosos chamavam: "anda, anda", em coro. Chegando lá: um vagalume! Sim, um vagalume! E um vagalume verde, que, provavelmente se eu parasse para pensar um segundo, notaria que era, de longe, meu preferido. Verde é a cor da esperança, esperança essa que todos nós precisávamos naquelas épocas.. Abri um sorriso incrivelmente encantado e infantil, então eles puderam notar que obviamente um vagalume, para mim, não era só um vagalume, e eu pude notar que, para eles, importava muito que eu me importasse. Fechamos as janelas. Parece crueldade, dizendo assim, mas queríamos apreciar aquela beleza brilhante, só mais um pouquinho.. Deitamos na nossa cama tripla como se fossemos desabafar sobre um novo amor, olhando pra cima, enquanto ele dançava, evidentemente vaidoso. Ficamos assim, de mãos dadas, sorrisos atordoados nos rostos e olhos atentos por alguns minutos, quando aconteceu.. Eu esqueci de mencionar que esse vagalume cor de esperança surgiu na nossa casa em tempos de guerra. Marcos e Eduardo foram dispensados do alistamento por problemas de saúde física e mental, respectivamente. Então mais uma vez pudemos ficar juntos, nós sempre ficamos, sempre ficaríamos, se não fosse por toda aquela luz.. Aquela maldita luz que me persegue ainda hoje, tantos anos depois nos meus sonhos, a agressiva luz que de uma vez só levou os dois únicos homens que eu poderia amar e que me amaram e se amaram com a doçura de céu outonal. Com a beleza de um borboletear de um vagalume a luz se foi, ficou o pó e o sangue, nenhuma luzinha verde esperança se exibindo no quarto, nenhum quarto. É tudo que me permito lembrar daquele dia. Agora aqui, no lugar que me colocaram, não há vagalumes, claro que não, se estou num lugar que não há janelas, por onde eles entrariam? Eu já pedi, implorei, até chorar eu já chorei: "Se eles não podem vir espontâneamente, traz-me um vagalume?". Mas os homens por aqui são muito diferentes. Eles não me amam, não se amam e acredito que não queiram o bem de ninguém. Além disso estão sempre a fingir sorrisos esquivos e sarcásticos, que mais parecem um lamento. E com esses mesmos sorrisos de dor nos lábios é que sempre respondem a mesma coisa ao meu pedido: "sem vagalumes pra louquinha". Sabe? Antes das negações seguidas da palavra "louquinha" eu amava diminutivos, agora odeio-os, porque qualquer um deles me lembra que continuarei aqui, presa, sem saber porque e pior que qualquer coisa, sem eles ou meus vagalumes.

Votação de aprovação de lei do senado contra homofobia.

Readers! Readers! Votem aí e tentem divulgar? É que é o ultimo dia hoje: http://www.senado.gov.br/sf/senado/centralderelacionamento/sepop/enquete_agencia.asp?num=2138&optEnquete=45%240&nPerg=45&res=0 E o "sim" (por mais absurdamente imbecil que pareça) está perdendo :~ Quem votar ganha direito a um pedido, bjs

domingo, 29 de novembro de 2009

Patétca e Assustada ;

Eu sou uma pessoa deveras excêntrica, ás vezes. Mas só às vezes. Normalmente eu sou como todo mundo: Me encanto absurdamente por um novo conhecido comprometido, sigo ele por aí, descubro coisas que me encantam cada vez mais e tudo isso sabendo que ele tem namorada e jamais olhara pra mim. Completamente comum, diria até enjoativo. Ironias - nem tão grandes assim - a parte a grande questão é: Por que procuro apenas o que é impossível cultivando uma pontinha de esperança que não sei de onde surge? Não, eu não gosto de sofrer nem nada do tipo, juro mesmo. Diz meu psicólogo que justamente por não gostar nenhum pouco disso eu só encontro graça e encantamento em pessoas plenamente inacessíveis. Ele me deu muitos exemplos com histórias que contei, mas, resumindo, é assim: Estou incrivelmente, loucamente, absurda, doente, alucinadamente apaixonada eis que o infeliz se torna possível. NÃO, não se tornem possíveis, meus caros, se não quiserem ser esquecidos antes de conseguirem piscar. Eu lembro que um garoto fez isso comigo certa vez, foi tão, mas tão difícil me conquistar que quando eu estava plenamente apaixonada, acabou-se o sentimento. Ele me deixou viver a mentira por uns tempos ainda, talvez por culpa, talvez por amizade, de qualquer forma a questão é: quando eu descobri achei-o a pessoa mais pequena e desprezível do mundo. Somos iguais, talvez desde sempre e eu o desprezei com a maior força que tinha no meu coração. Será que todas essas feridas nas minhas mãos, essa tristeza que chegou calma e pequena e está crescendo devagar pra eu não me dar conta, essa sensação bizarra que eu não consigo definir e minha incrível vontade de ser qualquer outra pessoa em qualquer outro lugar são nada mais nada menos do que o resultado desse paradoxo terrível que é sentir falta de alguém que cuide - junto comigo - do meu coração e, ao mesmo tempo, morrer de medo que essa pessoa me abandone ou descubra que nunca foi verdade? Sabe o mas impressionante? Eu REALMENTE consigo transformar a pessoa mais maravilhosa da semana passada em alguém totalmente desinteressante assim que surge qualquer raio de sol. E não é fake. A melhor pessoa de todos os tempos da última semana.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Zoológico.

Hoje eu fui ao zoológico. Tristes semblantes contrastam com gritos estridentes. Esconda-se, cubra-se, esse sol.. Pessoas, vidros, jaulas. Cadê minhas presas? Por que tão pouco espaço? Contente-se: A-NI-MAL! Onde estão eles? Batam nos vidros! Cadê o leão? LEÃÃÃÃÃÃO APAREEEEEEEECE! Corram, chupem seus picolés, sorriam, vocês são livres. Vocês são CRI-AN-ÇAS! Cubículos: ESSE ANIMAL ESTÁ SENDO MALTRATADO DESDE 1972! QUE ORGULHO! Ele quase não se mexe, Nono. É, irmãozinho, acho que ele não está muito feliz.. é revoltante. Mas se eles não tivessem aí não ia dar pra gente ver, ? Podíamos ser nós. Batem e batem nos vidros, jogam lixo, lixo. "Com licença, esse animais estão em fase de adaptação e não sabemos que.." Adaptação. Adaptem-se. Morram vivos. Que crime esse animais cometeram e quem foi o juiz que os condenou a prisão perpétua?

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Fragmentos.

Recebi boas críticas da minha família sobre minha arte, é engraçado, eu sempre penso que todos eles me detestam mesmo todos sempre fazendo coisas boas por mim. Acho que era a culpa. Porque, sim, eu sou culpada (ou era) e sei disso e quando somos culpados vivemos achando que os outros estão sempre a nos olhar como se nos julgassem assim, por vezes até estão, mas nem sempre. Então eu não gostava de passar muito tempo perto deles, primeiro porque não tenho lá muita paciência e ás vezes é bem necessário e segundo por achar que não era bem-vinda. Agora os almoços (que eram uma tortura) me parecem tão incrivelmente rápidos, eu gosto tanto daquela horinha a mais que fazemos e ficamos trocando todos segredos e risadas. Não sinto mais que o primo que mais admiro me detesta, não tenho mais (tanto) medo daquela minha outra prima, hoje nós até fomos passear no parque juntas. E no nosso passeio descobri que meu irmãozinho não sabe brincar de balança. Eu achava que era instintivo, que nós nascíamos sabendo ir na balança, porque comigo foi mais ou menos assim e, no entanto, meu irmãozinho (que é um prodígio em tantas outras coisas), não sabe se balançar. Mas eu e minha prima sabemos e alternadamente nos balançamos, me senti viva e feliz, não tinha ninguém pra disputar balança, ninguém pra me tirar de lá dizendo que eu não tinha mais 10 anos, era um parque (muito) ensolarado, bonito e com todos os brinquedos disponíveis, como num sonho.. Sonho! Sonhos.. amanhã pressinto que será mais um dia de sonhos. Minha tia (que é mais minha mãe do que minha própria progenitora) nos levará em algum outro lugar cheio de árvores e sol e nós poderemos mais uma vez brincar, como se eu ainda tivesse 10 anos. Mas suspeito que no parque de amanhã terá muita gente pra me dizer que não mais tenho idade de ir nos brinquedos, por isso vou me fantasiar de crianças. Tamanho eu tenho, vou colocar meu vestido de criança e fazer duas tranças no cabelo, ninguém vai me reconhecer como adulta, infalível! Às vezes eu fantasio que pra sempre poderei fingir que sou criança e convencer o resto do mundo, gostaria que assim fosse, mas não vou alto o suficiente pra acreditar que será. Alto! Você já esteve em qualquer lugar mais alto que uma balança lááááá na subida? Acredito que sim, eu também, mas.. você já sentiu mais perto do céu do que nessa ocasião? Não sei você, mas eu não.. balançar é pleno. Pleno. Eu detesto ficar tanto tempo sem balançar, fico triste e velha, ainda bem que hoje tive essa sorte, sou criança e feliz de novo. Criança que talvez carregue fardos grandes demais, mas, de qualquer forma, criança. Eu carrego desde criança, sabe? Sou uma criança acostumada. Acostumada mas amedrontada, eu não sei se já contei, mas morro de medo de ser abandonada. Ontem, antes de dormir, eu jurei que nunca abandonaria meu irmãozinho porque ele disse que estaria sempre comigo, então ele perguntou: - E se você morrer? Eu disse que continuaria por perto, então ele perguntou: - Mas e se eu morrer antes? Ai eu disse que então seria a vez dele de se aproximar, ele sorriu, me deu a mão, abraçou-me, fechamos os olhos e dormimos, felizes e sem medos.

À la autobiografia de Bukowski.

Um dia eu estava andando de carro com a minha mãe, eu estava com raiva dela porque ela nunca dava atenção suficiente pro meu irmão de 5 anos nem pra mim, que apesar de estar quase completando 18 anos queria ter uma mãe, e no entanto mimava a droga de um cara que não conhecia há nem uma semana como se dependesse dele pra viver.
Estava sem falar com ela de raiva, frustração e sensação de impotência, até que ela começou a me provocar:
- Eu fui com meu namorado num barzinho ótimo, você ia adorar.
- Foda-se.
- Que que é, hein, sua filha da puta? A gente faz tudo por você, todos seus mimos, enfio dinheiro no seu cu todo dia, é 50, 80, 300 reais, a quantia que você pede pra você me tratar assim?
Eu não respondi nada.
- Que caralho você nunca está satisfeita com nada. Eu namoro quem eu quiser, ele é um cara legal e eu estou muito feliz, viu? Estou apaixonada.
- Não está, só quer fazer o papel da adolescente rebelde, sua ridícula, a adolescente da família sou eu, sabe? E eu não sou escrota assim, você podia crescer um pouco, só um pouquinho porque já me deu no saco e ele não é uma boa pessoa, você só é burra e tacanha e quer se convencer que ele é por carência.
- Até parece, ? Que eu estava me jogando no colo de qualquer homem que aparecia, pelo amor de Deus.
- Mas é isso mesmo, o primeiro escroto que apareceu você se abriu toda, você é muito otária. Pra você ter ideia do quanto te repudio até do meu progenitor eu tenho menos repulsa no momento, ele pelo menos gosta de passar tempo com o meu irmão.
- VAI SE FODER! EU GOSTO DE PASSAR TEMPO COM O SEU IRMÃO. E não fale assim do seu pai, ele é só um doente, ele tem uma doença, isso não faz dele um monstro. E que que você quer que eu faça? QUE EU LARGUE A PORRA DA FACULDADE E DO TRABALHO E FIQUE CHOCANDO VOCÊS, É ISSO?
- É, exatamente isso. Aliás, meus parabéns, continue ironizando, deve ser mais fácil ignorar sua omissão, ?
- EU NÃO SOU OMISSA, eu não tenho tempo, puta que pariu. O tempo que eu tenho dedico todo a vocês, levo o menino na manicure comigo..

Eu ri com tanto ódio e tão alto nesse momento que ela parou de falar. - INCRIVEL é que você realmente pensa que cumpre seu papel, incrível que você acha que faz muito mais do que deveria, aliás, acha que faz um favor em passar 10 minutos com seu filho. Ele é SEU FILHO e por mais que eu faça ele sente a porra da sua falta. Sua patética. - PATÉTICA É A PUTA QUE TE PARIU. - Você é a puta que me pariu, otária. - VAI SE FODER! - Você é tão ridícula que não tem argumentos e ao invés de perceber que tem falhas e tentar corrigir, apela pra agressão moral, você me dá pena e é um ótimo exemplo de como não quero ser, obrigada. - O QUE VOCÊ QUER QUE EU FAÇA? E o que meu namorado tem a ver com isso? - Você está obviamente sendo enganada e está curtindo, mas, parabéns, se você gosta de se foder, em breve conseguirá e MUITO bem. - O que você sabe que eu não sei? - Descubra sozinha! Eu já te disse mil vezes e você não me deu crédito, então descobre sozinha, porque agora eu torço mesmo pra que você se foda e bem fodido, eu vou rir, rir muito e festejar, porque você merece. Ela ficou sem fala, estava completamente descontrolada ofegante e vermelha. - VOCÊ QUER QUE A GENTE SOFRA UM ACIDENTE, ? Já já eu vou ter um enfarto e a culpa vai ser sua! É stress de todos os lados e você não colabora. Eu faço tudo por você, estou sempre te dando dinheiro, te ajudando no que você quer. - Dar dinheiro é ser mãe? Então parabéns, você é a mãezona do ano, aplausos, gente, ela é ótima. - VAI SE FODER! Já já eu morro e você vai ver como vai ser fácil viver sem a PÉSSIMA mãe que você vive dizendo que eu sou. Eu sou uma péssima mãe, não sou? - É sim e gente como você não devia ter o direito de procriar. O resto do caminho nós fomos em silêncio, chegando no restaurante ela me tratou com cordialidade e doçura, na frente dos outros sempre foi um anjo. Entramos no carro de novo e ela comentou como era legal nosso rádio que mostrava o nome das músicas que passavam na rádio, eu permaneci muda. Ela me deixou no lugar que eu precisava ir e quando eu desci do carro disse "Te amo". Eu não respondi nem olhei pra trás.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Raios & trovões ;

Minha vida é de todo tempestade. Tempestade das bravas! Quando penso que poderei acender meu cigarro.. mais uma onda na cara. Dizem que depois da tempestade vem a bonança e se isso for verdade, meu deus.. Estou com 34 anos e até hoje só levei bofetada, pra compensar terei 34 anos de calmaria? Que maravilha! Quero morrer aos 68, nesse caso. Estou sendo tão injusto.. em 34 anos (acumulando todos os dias) devo ter tido uns bons dois meses de calmaria, mas não me importo de morrer dois meses antes nessa matemática. Eu costumava ter um pai. Matei. Eu costumava ter uma mãe. Morreu. Eu tinha até um amor. Suicidou-se. Depois tive um filho. Sumiu. Um por um.. Todas as pessoas. Se vão. Para que? Que vãos? Eu.. Estou.. Der.. re.. ten.. do.. PLOFT! Uivos do vento ao luar. Som de trovões. Boa noite!

Chumaço de algodão.

Eu, que vivia implorando pra voltar a total ignorância, pra ter tempo de não me instruir nada, pra poder acreditar ainda que o mundo é um morango silvestre, eu, que sempre invejei secretamente as populares do colégio, porque suas maiores preocupações eram se descobririam que ela ficou com o melhor amigo do namorado quando se embebedou naquela festa ou não, eu, nesse exato momento, consegui o meu objetivo e descobri que com ou sem dor, prefiro a dor a chumaços de algodão tomando o lugar do meu cérebro.

Eu não sei como consegui tal proeza, sei que num dia eu podia conversar sobre 90% dos assuntos, a velocidade das minhas sinapses eram incríveis, minha lógica e interpretação de texto estavam ok e eu podia escrever um texto com coerência e, muitas vezes, até interessante ele saia, agora..

Talvez meu pedido desesperado tenha sido atendido, mas, saber que não se sabe é o grande problema. Talvez eu só tenha ficado menos arrogante e descobri que, afinal de contas minhas sinapses não eram tão rápidas assim, mas não acredito, porque nesse caso seria uma nova consciência e não uma dificuldade de processar um legado.

De qualquer forma fica meu aviso. Talvez essa burrice que me toma seja temporária. Talvez não.. De qualquer forma volto com mais notícias quando as tiver.

Atenciosamente, Joarez.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Trivialidades e inspirações de ônibus.

Adoro trivialidades e inspirações de ônibus. Pena que em casa elas parecem tão mais presas.. Talvez porque realmente fiquem, as paredes, sempre as paredes.. protegem mais prendem, é o preço que se paga hoje em dia. O preço do conforto, das roupas quentinhas e tralhas que gostamos de juntar, fingindo que tem uma importância e utilidade tão grande que, se por ventura, alguém abandona isso e decide viver na rua de certo é louco. Os mendigos, sabe? Todos loucos. Loucos e mentirosos! Como poderia um médico renunciar a sua vida de salvador de vidas pra sair por aí vadiando? Você não vê, minha filha? É tudo mentira.. Médico nada, esse aí já nasceu vagabundo. Ele tem um vocabulário extenso, ? Isso é estranho, concordo, mas, bem, hoje em dia qualquer um sabe o que quer ? É só querer, a internet está aí pra isso.. Argumentar hoje em dia é quase sinônimo de palavrões e possíveis socos. Eu adoro uma boa discussão, adoro mesmo, quase tanto quanto adoro trivialidades e inspirações de ônibus, mas às vezes é tão difícil discutir com alguém. É que as pessoas inteligentes estão cada vez mais raras então quando encontro uma pego pra mim, eu coleciono gênios, não posso me dar ao luxo de discussões maiores. Mas, bem, é claro que a gente discute muito, mas, de qualquer forma, nunca chega nos extremos que eu gosto, pela amizade, pela coleção. Então, por não ser adepta de nenhum tipo de violência acabo por discutir sem todo meu potencial argumentativo, provocações podem custar caro e apesar do preço quase valer a pena ainda fico no quase, quem sabe se eu não aprender alguma arte marcial.. Todos meus amigos que já fizeram ou fazem alguma gostam muito, porém eu não sei, sou um pouco pé atrás com orientais. Acho-os sábios, muito sábios em suas lutas, algumas crenças.. porém um povo que subestima a mulher, que a transforma em uma serva, um simples objeto decorativo.. De qualquer forma eu sou uma grande preguiçosa, atividade física fico com as que envolvem abraços, mordidas, risadas, correr atrás até cansar, subir em árvores, escalar telhados, bicicleta, pipas e coisas assim, bem adultas. Isso me faz lembrar de um livro que pretendo escrever, pretendo tanto que vou começar, nesse exato momento. Adeus.

Queria escrever algo genial.

Como um diálogo amargo mas calculado. Mas amargura é o que eu não sou no momento e não há quem escreva sem totalmente não ser ou até há, mas quem o faz soa falso, porque assim o é. Eu nunca procurei nada, nas minhas palavras e nas que procuro por aí, muito além da sinceridade, porque, afinal, sinceridade até quando dói, é gostosa porque é viva. Mesmo quando se quer renunciar a verdade enche-se a boca (mesmo que em sussuros) quando se diz. Atriz que é atriz o sabe, mas por mais que tente, não enche a boca tanto quanto se fosse verdade. Aí entra a questão esquizofrênica do palco, a dedicação descabida. Eu volto a ter sete anos e procuro uma tristeza infantil de perda de pais que só perdi mais tarde pra poder agradecer um Capitão Gancho que me ameaça e depois faz honrarias. Tudo pelo teatro e sinceridade. Ser sincero é quase tão gostoso quanto convencer alguém de uma mentira absurda.

domingo, 15 de novembro de 2009

A humanidade é desumana.

Voltava do trabalho, estava tranqüila mas provavelmente pensava na solidão. Era uma garota indefinível, mas, naquele momento, dela podia-se dizer: excêntrica, sonhadora e gentil. Sentada esperando seu ônibus um casal se aproximou, o homem sentou, ela sorriu pra ele, se afastou um pouco para que a mulher pudesse fazer o mesmo. Por um instante pensei que ela admirou de alguma forma o homem, mas não faria sentido e ela sempre faz. Pensei que ela poderia ter recuperado a fé na humanidade, me enganei. Um cego, um funcionário do metrô, uma promessa: "Eu cuido dele", a mulher do quase admirado falou. O ônibus do casal chegou, era o mesmo ônibus que ela pegaria, o casal foi embora, esquivos, quase se escondendo. Ela ficou, e disse: "Não estou com pressa, não se preocupe". Ela estava com pressa, mas ficou. E quando ele foi embora, ela lembrou da música que ouvia, falava da beleza, falava da visão, lágrimas quentes e salgadas escorreram, ela não chorava por ela, era pela humanidade que chorava. Tão cretina a ponto de prometer cuidar de um ser quase indefeso e fugir, se escondendo, provavelmente das próprias consciências.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Apatia.

Apatia. A parte, tia. Eu odeio falar com ódio "cala a boca que você não sabe do que está falando", mas às vezes.. Às vezes eu falo. Me arrependo no instante seguinte e volto pra minha apatia, porque sei, na verdade, que eles têm razão, eu que procuro minha depressão.. Mas deixa estar que sempre me disseram que depois da tempestade vem a bonança e sabe do que mais? Isso só não funcionou melhor pra mim por falta de tempestade. Ou não.. Ou foi por mera falta de admissão de tempestade, de qualquer forma eu sempre acabo bem e bem melhor que você. Você, seu cretininho prepotente, seu nada. Eu não tive culpa alguma de não poder oferecer meu amor quando você o quis, essas coisas a gente não escolhe, mas, fazer o fizestes, foi imperdoável. E mais imperdoável é continuar a pensar nisso. Então eu paro. E me invade a apatia. A apatia eterna, que duvido que dure mais que um dia e meio.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Infinito.

Um aceno, um sorriso, um abraço, um como vai? um gosto de você, uma maneira de falar, um passar a mão no meu cabelo, falar que gosta do meu perfume, falar que gosta do meu sorriso, uma mensagem, um elogio qualquer, uma manhã fria e clara, o Gabriel falando qualquer coisa, uma perspectiva, uma ansiedade, vergonha saudável, grama verdinha, uma rosa, uma coquelicot, uma música incrível, filmes, cores, tontura, paixão, teatro, crianças com vergonha depois da peça, diz que vem e vir, não diz que vem e vem, um presente, um convite, me chama pra sair, me chama pra conhecer seus pais, dança comigo devagar, uma música que te lembra eu, fazer as pazes, pensar na plenitude dos amores breves e duradouros, talvez ficasse aqui enumerando tudo, se esse tudo não fosse infinito.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Muito fácil viver com fé.

Três pessoas estão dentro de um carro, calor: - Sonho que um dia alguém declare ter mantido uma paixão secreta por mim durante anos, alimentado, vendo tudo de maneira platônica, até que, ao me conhecer melhor, a pessoa percebe que: não, eu não sou pra platonismos, ela gosta de mim além disso. - Eu gosto de pêra. - Eu vi um mendigo ontem com a cabeça tão cheia de piolhos.. ele estava caçando-os com as mãos, arrancava e jogava-os no chão. - Só falar disso me deu coceira. - O que ele faz pra mudar? - Como assim? - Ele está lá porque quer, o que ele faz pra não conservar piolhos? - Ah, claro, foi uma opção, lógico.. na verdade acho que é uma coisa de sonho, ? "O que você que ser quando crescer?" "Eu? Mendigo caçador de piolhos", deve mesmo até ser um hobbie. - É fácil ser irônica, você sabe que é verdade, ele não faz nada pra mudar. - Que condições ele tem? - Ele fez escolhas, podia muito bem cortar grama pra alguém, conseguir uns trocados pra pelo menos tomar banho, ir pra esses lugares que ficam os mendigos. - Claro! Por que qualquer hotel admite mendigos, ? "O senhor quer apenas tomar um banho e pagará por isso? Pois não.. cá estão as toalhas", se liga.. E quanto aos "lugares", são praticamente hotéis, né? Uma delícia.. sendo mendigo a única coisa que se tem é a liberdade, abrir mão dela pra continuar na marginalidade não faz nenhum sentido. - Ele está exatamente onde devia estar. - Aham, não é o sistema que apodreceu, a culpa é dele, cada pessoa que dê conta de si, porque a vida é fácil, aliás, nós somos burguesas felizes por que merecemos, ? Porque somos melhores que 5/6 do mundo, porque cuidamos de nós mesmas e fizemos por merecer, ? Não tem anda a ver com a família em que nascemos e com a condições que fomos criadas, nada a ver.. - Mas nós nascemos na nossa família por um motivo, cada um passa pelo que tem que passar. - Que fácil viver, não? Que fácil viver com a sua religião.. onde tudo é justo, cada qual está passando exatamente pelo que merece, onde os malignos e injustos serão punidos, que fácil viver quando nada está nas suas mãos, quando se vive em um lugar ótimo, se tem dinheiro, boa família e amigos, que fácil viver quando nenhum problema social te afeta ou causa angústia, porque, afinal de contas, nada mais do que justo! Meus parabéns, achaste como não ter fluxos de consciência, achaste uma maneira de se acomodar, largar a bundona gorda na poltrona, assistir a desgraça do mundo e dizer "tudo merecido". Sabe? Eu também tenho minha fé, tenho sim.. mas essa minha fé não me faz torcer o nariz pra quem tem problemas e me omitir completamente, pelo contrário, se as coisas são como têm que ser, eu vou fazer tudo que puder pra ajudar elas a melhorarem, porque, bem.. se houver uma forma, aposto que vão querer, essa tal força superior, aposto que ela vai querer que eu ajude, independente de qualquer força, minha consciência. Então continuarei reciclando meu lixo, tratando as pessoas com compaixão, desligando a torneira pra tomar banho, achando uma bosta esse sistema decadente e falido, me sentindo impotente, discutindo política e aflorando meu lado "avante mundo", porque, se todos fossem e pensassem como você pensa, bem.. o mundo conseguiria estar pior. Você deveria mudar pra Índia, o sistema de castas vem da religião deles, prega exatamente isso que você me diz, cada um que viva onde "o destino" o colocou. Mude pra Índia e viva sorrindo, com seu dinheiro, beleza e consciência limpa :)

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Esse filme poderia se chamar "Filhos de Marx e da Coca-Cola".

"De Janeiro a Março continuei realizando pesquisas de opinião. Aspiradores de pó vendem? Você gosta de queijo em tubo? Você costuma ler? O que é um arcabouço? Gosta de poesia? Jogos de Inverno? Minissaias? Como reage ante acidentes? Se seu namorado a deixasse por uma negra, você se importaria? Você sabia que existe fome na Índia? O que é um comunista? Prefere pílulas para evitar a gravidez ou usa algo na sua vagina? Onde você mora? Quanto ganha por mês? Por que as socialites são mais frígidas que as operárias? Sabe da guerra que está havendo entre o Iraque e os Curdos? Ao longo desses três meses, fui percebendo que aquelas perguntas, ao invés de refletirem, deturpavam a mentalidade coletiva. Minha falta de objetividade, até quando era involuntária, tendia a provocar previsivelmente respostas falsas dos interrogados. Sem querer, eu os enganava e era enganado por eles. Por quê? Talvez porque as pesquisas de opinião logo desviam do seu verdadeiro objetivo, a observação do comportamento, para enveredarem, traiçoeiramente, por juízos de valor. Descobri que as perguntas que eu fazia ao cidadão francês expressavam uma ideologia, que refletia não os costumes atuais, mas os passados. Eu deveria estar alerta. Alguns conceitos aleatórios serviam-me de referência: 'O filósofo posiciona sua consciência contra a opinião.' 'Ter uma consciência é estar aberto para o mundo.' 'Ter fé é agir como se o tempo não existisse.' 'A sabedoria é a capacidade de compreender a vida. Isso é a sabedoria.'" Feminino Masculino, Godard.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Surrealismo Litigioso.

- Eu ouvi você dizendo que não queria. - Eu ouvi eles te dizerem que eu não fazia nada daquilo, que era mentira. - Então você acha que eu duvidei? - Eu duvidaria. - De qual vertente? - Da sua alma. - Minha alma é nova pra você? - Se você quiser chamar assim.. - Você não conhece minha alma. - Acho que conheço suficiente pra dizer que você duvidou junto. - Eu mudei. - Mudou pra alguém que não duvidaria? - Não me importaria, nem pensaria em duvidar, não é problema meu. - Mas muda as coisas. - Você acha? - Mudaria pra mim.. - O que você tem que entender é que nós não somos a mesma pessoa. Não me importa nem se mudaria ou não pra você, porque eu te amo. E você diz que me ama, me pergunto o porquê da crueldade. - Porque eu te amo. - De que forma? - Detesto definições. - Você é previsível em toda sua pretensa diferença. "Detesto rotular" é uma maneira de dizer que você é covarde. - Talvez seja.. - Você é! - Quem é você pra dizê-lo? Nunca deixei você me conhecer, enquanto você se abria toda. - Ou fazia você pensar que sim.. eu posso manipular muito bem se quiser. - Mas acho que não deu certo, eu continuo te amando da maneira que você não quer. - Talvez eu queira. - Você reclama por que então? - Porque é tudo inconsciente.. - Me manipulas de maneira inconsciente? - Não, te manipulo conscientemente pra satisfazer meu inconsciente e fico seca. - Você nunca é seca. - Talvez eu seja sem o saber. - Seu coração? - O nosso.. Eles deram a mão, viram o pôr-do-sol e morreram por aí, sempre tentando voltar a ser o que um dia desejaram não amar.