quinta-feira, 30 de julho de 2009

Pollyana.

Era uma vez uma garota. Ela costumava odiar tudo que podia ser odiado nela, era um costume, uma defesa, assim não se decepcionava, costumava dizer: "Das minhas decepções o resto do mundo já dá conta". E assim o era. Todos que ela conhecia a decepcionavam mais cedo do que o normal. Ela sempre deu o melhor de si: "Não que você mereça o meu melhor, é muito pouco" e por isso esperava o melhor dos outros, que até tentavam, mas o melhor nunca era suficiente. Uma pessoa que não se ama tampouco consegue amar outro alguém, pois, todo bom movimento em prol da felicidade alheia é só uma tentativa de parecer amável pra si. Ela gostava de ballet e música clássica. Tinham muita coisa, mas sempre faltava, estava sempre se sentindo completamente desamparada e vazia. Conheceu Miguel no dia que pensou seriamente em suicídio pela terceira vez, ele disse: "Gosta do que você tem e ignore o que te falta". Ele só falou isso porque é o que costumava fazer. Pollyana pensava um bocado. E soltando bolhinhas de sabão se perguntou de onde vinha a tristeza e por quê? "Ignora o que te falta", ela estava sempre querendo outra coisa, se jogava xadrez queria bolhas de sabão e vice-versa. Então ela viu as bolhas e viu que naquele momento soltar bolhas de sabão era o que ela mais queria, amou o que tinha. Desde então: "tédio", "tristeza" e "ódio", foram banidos do seu vocabulário. Passou a sentir vontade de viver. E por não esperar nada, não decepcionava nunca. Entendeu que não era uma menina qualquer e passou a amar o que podia ser, não que fosse o bastante, jamais será para ninguém, mas: "É o que temos por hoje". Passou a dizer bem humorada para seus amigos, que passaram a achar o de hoje muito mais atraente que o de antes. Miguel era cego e estava no ponto de ônibus: - Você precisa de ajuda? - Que voz triste! - A minha? - Sim. - Hum.. eu sou triste. - Você É triste? Que raro, a primeira pessoa assim que conheço! - Você não deve enxer.. hm.. existe um bando de gente infeliz pelo mundo. - Sim, temporariamente, claro, você é a primeira que é assim, como uma condição. Eu, que estou cego, nunca disse que era, por menor que sejam minhas chances de recuperar a visão. - Bem, você não precisa de ajuda, ? Vou indo. - Gosta do que você tem e ignore o que te falta. Ela nem olhou pra trás.

terça-feira, 28 de julho de 2009

A atriz escreveu aos prantos.

Pela vida e pela vontade, Pelo sal e pela saudade, Pelo amor e pela verdade, O que foi e o que poderia. Pela paixão e pela revelia, Chorava por sua solidão - bem - acompanhada, Por seu sentimento reciprocamente esmagado, desgastado.. acabado! Por mim, por ele, chorava pra si, Encenava a vida encolhida no sofá, Escutava Méliès falar da dor em francês, Desejava um registro, um olhar, que alguém a surpreendesse. "Por que você não come?" Por que eu não posso ser honesta? Pra que magoar? Por que se confundir tanto? "Por que você precisa de 'por quês'?" Queria que passasse e passou. Foi pra onde?

domingo, 26 de julho de 2009

Você devia mesmo ver quantas alegres cicatrizes..

Estava andando por um parque simpático, simpático, vi um senhor fumando um cigarro de palha, ele me viu também e eu sorri dizendo "Bom dia", ele respondeu "Bom dia, menininha" e sorriu simpático também. Eu parei. Olhei praquele senhor e senti um enorme carinho, fui até a árvore mais próxima e comecei a bater a cabeça violentamente nela, até desmaiar. Antes de desmaiar observei que o senhor me observava com uma expressão de educada curiosidade, pude ver que ele apagou o cigarro e se acomodou melhor no banco pra apreciar aquela cena nada usual. Quando eu acordei, umas 3 horas depois, ele não estava mais lá, agora uma menininha chupando um sorvete colorido me olhava com grandes olhos azuis e risonhos, eu levantei, limpei a roupa como deu, tentei ser simpática "Está gostoso?" ela perguntou se eu queria um pouco, neguei agradecendo e segui. Eu estava num estádio de futebol, o time pro qual eu estava torcendo fez um gol, eu, na minha empolgação juvenil, me joguei do alambrado, alguns torcedores deram risada no meio da comemoração e eu fiquei lá assistindo o jogo sem muita visibilidade já que quebrei as duas pernas e não consegui levantar. Meu time ganhou, valeu a pena até me arrastar pelos dois quilômetros que separavam meu estádio de casa pra voltar. Eu estava na escola, a professora me pediu pra fazer um exercício muito complexo na lousa, me levantei e não demorei três minutos para conseguir fazer, então eu peguei uma caneta e enfiei no meu braço com força, várias e várias vezes, fiz buracos fundos, sangrou muito, um que eu fiz na mão até atravessou a mesma. Meus colegas de classe e professora comentaram que eu devia ser alguma espécie de gênio pra saber fazer aquele tipo de exercício com tanta facilidade, até ligaram pra minha mãe pra que ela também soubesse o quão esperta sua filha era. Cheguei em casa e ela riu pra mim um bocado, minha mãezinha é muito bem humorada e orgulhosa, mas me mandou limpar as poças de sangue que ficaram pela casa quando eu passei. Eu tinha um namorado e um dia ele me deu um balão de gás hélio em forma de coração, era vermelho, ele sabia que aquele balão era meu sonho, eu fiquei tão feliz, mas tão feliz.. Pedi pra ele esperar um segundo, ele ficou sentado no banco da praça me esperando enquanto eu fui até uma lojinha de materiais de construção, acho que um metro e meio basta, "pra quê?" a curiosa vendedora perguntou, "uma surpresa pro meu namorado" respondi sorrindo, ela sorriu também e disse "seus olhos brilham tanto, que dure esse amor". Saí da loja e fiz tudo bonitinho, fui por trás dele, subi na árvore, ajeitei tudo.. "Hey, amor, olha pra mim!" gritei feliz. "O que você está fazendo?" ele perguntou intrigado e sorrindo. "Retribuindo seu gesto, seu bobo, o que mais? Obrigada", então eu coloquei a corda no pescoço e pulei.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Não é mais só sonho.

Na oitava série eu tinha um grupo de amigas, nós nos chamávamos de "Hippongas" por causa de uma idéia em uma redação. Na verdade só algumas de nós tivemos a idéia, mas éramos inseparáveis e todas toparam. Idéia: Assim que acabasse o ensino médio compraríamos uma Kombi (nós ainda temos uma pelúcia dela, está aqui em casa, aliás) e sairíamos pelas estradas ganhando a vida com arte de rua e favores. Teríamos um amor em cada cidade, bilhares de amigos, muita música e vento nos cabelos. Não precisaríamos de muito, dormiríamos na Kombi e em barracas, eventualmente conseguiríamos uma casa amiga, banhos e lavagem das nossas roupas no mesmo esquema. Só precisaríamos de uns trocados pra gasolina e alguma coisa pra comer. A oitava série se foi, ficamos com nossa pelúcia, combinamos que teríamos que nos ver (pelo menos pra ir passando a Kombi, que foi comprada em conjunto) pelo menos uma vez por mês. No primeiro ano até que conseguimos uma frequência aceitável, depois disso.. bem.. uma delas continua sendo meu grande amor, mas as outras eu nunca mais vi, anos que não vejo. Mas essa não é a história das meninas, é a história do meu sonho. Meu sonho: Ir viver todas as histórias que pudesse sem obrigações maiores, sem satisfações, sem tabelamento social, sem mente fechada, sem obsessão por trabalho, só.. viver. Em uma Kombi, com os cabelos ao vento e muita Janis Joplin gritando pra mim. Meu sonho até hoje esteve adormecido, vivo, mas dormindo em algum canto de mim. Hoje eu não sei se ele acordou ou foi acordado. Eu tenho um amigo, um grande amigo que eu nunca tive o prazer de abraçar pessoalmente, mas que ainda assim é um dos meus maiores amigos, ele se chama Alex. O Alex é minha versão feminina, estamos descobrindo isso há tempos, mas, hoje quando ele disse "Sou uma Clementine versão masculina", não sobraram dúvidas, respondi "E eu uma versão cabelo não-pintado". Minhas conversas com Alex são sempre legais, por mais tristes que possam parecer a olhos alheios sempre me fazem muito bem. Filosofávamos sobre a vida e a obtusidade da burguesia, com seus diplomas, dinheiro e viagens de uma semana pra algum lugar "hype" do mundo. Conversávamos sobre a bolha em que a sociedade tem vivido. Conversávamos sobre a vontade de largar essa vida burguesa que hipocritamente nós dois também vivemos e eu lembrei do meu sonho, que agora é NOSSO sonho. E tudo que é nosso é muito mais real. Quando eu falava empolgada para as "Hippongas" sobre nossa vida elas sorriam o sorriso dos que não levam a sério, ao falar pro Alex estabelecemos uma meta de daqui no máximo um ano aproveitarmos nossas férias e assim será. Não é mais sonho. E por mais que não formos levados a sério enquanto REALMENTE não colocarmos o pé na estrada, não tem importância, eu levo a sério daqui e ele leva a sério de lá. E olá mundo, olá histórias, olá vida!

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Gênios sempre tem problemas com amor.

Disse pra si mesma que a manhã só era boa enquanto fria e sem sol, andou sem rumo por algumas esquinas da sua cidade, o frio a deixava mais branca e suas bochechas mais rosadas, já sentia falta da mãozinha pequena que segurou até o fim de sua rua e pensava no chapéu que tinha deixado com ele "não esquece de trazer de volta", esperava que ele realmente não esquecesse, era um dos preferidos, mas de qualquer forma.. tinha arrancado sorrisos dele depois das lágrimas então tanto fazia.

Acendeu um cigarro. Tragou. Tossiu. Agora estava sentada num banco gelado e molhado de orvalho de uma praça desconhecida, ela só achou convidativa e sentou, pra fumar um cigarro. Fumar pra ela era um ritual.

Enquanto ela olhava as nuvens brancas que saiam da sua boca e as do céus começou a se perguntar o que estava acontecendo com seus sentimentos. Não soube responder. Ele era genial e ela sempre quis conhecer um gênio, tinha ouvido dois dias antes de um amigo "se acalma, pessoas geniais sempre tem problemas com amor", não era exatamente um consolo já que não via nada de genial nela mesma, mas achou de certa forma reconfortante que ele pensasse assim.

"Você é muito especial" ela leu e entendeu o que ele queria dizer, na língua dela "Você não significa nada pra mim, mas talvez possa ser útil" ou, sendo bem otimista pros seus padrões, "Eu não quero nada além da sua amizade".

Era tão dolorido que não doeu em segundo algum. Nenhuma lágrima pra ela. Nenhuma lágrima por ela. Na verdade pensou seriamente - o que demonstrou mais do que qualquer coisa seu desespero - em virar outra pessoa. Uma que realmente não fosse especial, pra que nunca mais fosse rejeitada com essa.. desculpa?

Ele não tinha culpa de nada.

Ela pensou em Berlim e em nunca mais voltar. Pensou em drogas, festas absurdas, corpos desconhecidos entrelaçados no dela. Sentiu aversão e medo.

Acendeu mais um cigarro. Tragou. Tossiu.

De qualquer forma ela sabia que toda a dor seria anestesiada. Quando nosso corpo não aguenta ele desmaia, quando é nosso coração, ele gela. Sabia que era a última vez que sentiria algo por alguém. Sabia que era a última vez que se deixaria iludir. Sabia que de qualquer forma viver os seis anos que lhe restavam sem ninguém não era tão ruim assim.

Aliás ela até gostava muito da solidão. Podia viver tendo amigos e amores quando estava com seus livros. Podia inventar amigos e amores imaginários. Já tinha um bocado deles. Não, não lhe chateava parecer infantil ou imbecil aos olhos alheios, não fazia diferença alguma quando eram olhos apenas curiosos.

Ela tinha ainda seis anos de vida. Sabia. E sabia que não mudaria nesse tempo, só dedicaria mais tempo às poucas alegrias que tinha e ignoraria todo o senso de rejeição, ignoraria toda a repressão expressa por olhos, ignoraria sua própria existência em relação aos outros e viveria no seu mundo.

"Ele é a porra do gênio que eu sempre quis conhecer." uma lágrima rolou antes que ela pudesse reprimir. Jogou o cigarro no chão, pisou nele. "E é o último que eu conheço". Ela não estava jurando como todas as vezes pra ela mesma, ela quebrava juras sempre que podia, jurou por ele, pela memória dele, pelo que ia restar.

Não teria como deixar de cumprir.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

"Meme" ou "Jogo jóia".

Porque eu curto aliteração, mas enfim.. A Jennin do meu belo, puro e pessimista coração me indicou pra esses joguinhos jóias e tudo. Tenho que responder perguntas com frases de músicas de uma banda e escolher outras pessoas pra brincarem, escolho: Alexino, Katrina, Frango, Estelady e só porque não conheço mais ninguém realmente jóia - e que não tenha feito essa brincadeira - que tenha blog. q E, sim, serei óbvia, previsível e todo o resto e escolherei of Montreal. <3 É que eles descrevem toda minha essencia em música, né, so.. Já existem perguntas preestabelecidas porém vou fazer outras, hohoho. 1. Você é homem ou mulher? "I was just a kid"
  • Requiem for O.M.M.
2. Descreva-se. "She's not quite the conventional sister, no, she's not. [...] She's not like an ordinary person, no, she's not"
  • Fun loving nun.
"You can see me 'cause my shell is invisible"
  • Hell from inside a hell (zombies enter the harbor).
3. O que você acha que acham de você? "Your charms have become less charming, your sweetness decreases everyday"
  • My Darling, I've forgotten.
4. Como descreve seu atual relacionamento ou possibilidade de? "When you come around, everything else dissapears, my ears dissapears"
  • Everything Dissapears.
"I can hear your beautiful voice sometimes when I sleep, You've got a special gift, Can you see how you're changing the world just by hanging around?"
  • You've got a gift.
"I'm in love, I'm in love, Baby your magic is working, I lose control of myself when ever you're near me [...] All of my friends think I'm mad 'cause I talk of nothing but you [...] Anywhere with you girl is where I belong"
  • Your magic is working.
5. Como descreve a pessoa da sua atual ou possivel relação? "You're my muse"
  • A dreamy day of dreaming of you.
6. Onde você queria estar agora? "I love New York in june"
  • The problem with april.
"Along she saw a magnificently tall invisible tree and decided to climb up on it, She found the foliage covered branches so confortable.."
  • Nickee Coco and the invisible tree.
7. O que você pensa a respeito do amor? "I wanna dance so I don't have to think anymore".
  • Death dance of omipapas and songs for you.
8. Como é a sua vida? "Things could be different, but they're not"
  • The past is a grotesque animal.

"I'm in a crisis, I need help,

Come on mood-shift, shift back to good again, Come on, be a friend."
  • Heimdalsgate like a promethean curse.
9. O que pediria se tivesse um só desejo? "I wish you weren't such a paranoid actress"
  • Mingusings.
"Say the sweetest things, I wanna help you grow and for eternity, I wanna be your 'what's happening?' I wanna be your only friend"
  • Gallery piece.
10. Escreva uma frase sábia. "How will I ever know you enough to love you If you're hiding who you are?"
  • Don't ask me.
11. O que você pensa sobre amizade? "You see how you're changing the world just by hanging around?"
  • You've got a gift.
"That friend for me has to come from inside of me"
  • My friend will be me.
12. O que você pensa sobre homossexualidade? "I have nothing to say about the traditional ways, They're fine if they work well for you, But there is something so right so completely, Out of sight, With a man who's in love with a man, Or a woman who's in love with a woman, They should never feel ashamed because it's, So important to do the things we want with who ever turns us on"
  • When a man is in love with a man.
13. Você é hetero? "I don't care [...] I'm just not available"
  • The past is a grotesque animal.
14. Descreva um grande amigo. "Your world so bright and full of laughter"
  • Girl from New York.
"I've never seen her frown or hold her head down, I've never heard her say 'I'm bored' ou 'get away'. [...] She has so much fun has so much joy, And so much wonderful love for everyone"
  • Fun loving nun.
15. Descreva sua relação com sua mãe. "Making all kinf of mistakes. [...] I'm making rude comments to myself, Playing that I'm Mr. Invisible"
  • Dustin Hoffman offers lame posible explanation for missing bathtub.
"I was never youg even as a child"
  • I was never young.
"How can I explain? I need you here and not here too"
  • The past is a grotesque animal.
16. Descreva sua relação com sua/eu irmã/o. "You'll be my cutie pie until the day I die"
  • Cutie pie.

"I find joy in simple things ever since I meet you"

  • You've got a gift.
"Everything is beautiful and you're the reason"
  • Your magic is working.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Josenilda vai ser vovó.

Hoje eu acordei e minha empregada estava aflita pra desabafar: - Fernanda, eu tou aqui querendo que você acorde e nada de você acordar, eu querendo que você acorde e nada de você acordar. Ela me acordou dizendo que o almoço estava pronto e eu me troquei: - Fernanda, você não sabe, eu vou ser avó! - Parabéns, a Andressa então.. - Não, a Manu. E eu fiquei em choque. A Manuela tem 15 anos, eu vi ela crescer, aliás, crescemos juntas. Até hoje ela tem uma boneca que eu dei pra ela e foi a maior alegria da vida dela. Ela vem em casa às vezes e eu gosto dela: - Como a Manu? Ah, er.. HAHAHAHA, sua monga, sua sem graça. - Não é piada. Mas ela estava rindo, rindo de desespero, rindo com lágrimas nos olhos, ela não estava brincando: - E agora? - E agora eu vou amá-lo. - E que você falou pra ela? - Que ela tinha se ferrado, que ela não ia pra baladinha e nem nada, mas eu vou deixar ela estudar, eu vou cuidar dele enquanto ela está nos cursos dela, agora baladinha nem pensar. - Você brigou com ela? - Claro que não. Ela disse claro que não, como se o natural fosse esse, como se todos mortais tivessem o mesmo bom hábito: - Que eu faria? Jogar na rua? - É, todo mundo erra. - Sim e ela é minha filha que eu amo e agora vou amar meu neto, o pai dela também apoiou e disse que vai ajudar no que puder, mas ela só chora.. - Acredito que sim. - Me dói o coração ver. - Tadinha. - Tadinha mas na hora.. enfim. Ela foi no médico com a Andressa e o doutor perguntou 'Que essa criança tem?' e Andressa respondeu 'Outra criança' e o médico fez assim 'Oh'. Nessa hora ela fez uma cara de espanto engraçado. Ela estava rindo de nervoso, mas parecia realmente feliz. Eu não sei se teria a mesma reação, mas sei que se todos os pais do mundo tivessem, o mesmo seria muito menos problemático, muito menos cheio de complexos, de rejeições, de dores, se todo mundo fosse assim compreensivo não haveria tanto medo, tanta violência e desamor. Não que eu seja condescendente com a idéia de uma criança engravidar, muito pelo contrário, porém feito, que seja amado.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Look sad and over, I know.

Os passarinhos emudeceram. As brincadeiras do meu irmão são motivo de irritação. A comida tem gosto de cinzas. Presenças - que não a sua - são uma perturbação dolorosa. Eu passei tanto tempo pensando que alguém me salvaria dessa tristeza. Eu passo tanto tempo pensando que você vai me salvar. Ninguém vai, eu comigo mesma talvez. Mas enquanto eu não acho as respostas que teimam em correr pra longe, seguirei desejando não ser assim, não carregar esse semblante e essa solidão, essa dor sem precedentes, esse gosto amargo na boca que só desaparece quando você aparece e não devia. Eu não devia entregar minha felicidade nas suas mãos, mas não vejo opções. É a adorável química mais uma vez. Meus amigos desaparecem, se omitem. Minha família quer saber o que há de errado comigo. Eu quero me trancar no quarto escuro e por lá ficar, até que algo aconteça. Que algo? Outro dia desses eu resolvi mudar esse quadro e me arrumei, olhei no espelho e me senti tão bonita que isso me deprimiu, deprimiu e eu tratei de me desarrumar rapidamente, coloquei meu pijama e pela cama fiquei. Então é só você dar um sinal de vida e minhas vontades de deixá-la somem. Por quê? Por que você não dá sinal de vida sempre? Cade nossos planos juntos que parecem que agora são só seus? Eu queria subir num palco e fazer todo mundo silenciar. Eu queria subir no dia 22 de julho e matar a platéia quase toda. Eu queria ter capacidade pra não ser risos numa tragédia grega. Público maleducado sim, atriz medíocre? também. Eu tenho minha consciência e noção da minha capacidade. Então na primavera eu só vejo flores mortas. No verão o sol frita minha carne. No outono eu não visito o campo. E no inverno morro de hipotermia. Cem anos de solidão. O García Márquez define minha vida em menos de meia dúzia de palavras. Cem anos de amargura. E eu nem posso jogar a culpa em alguém, nem posso dizer ironicamente "valeu vida". A culpa é minha. E como Kevin Barnes e amigos vêm cantando há mais de doze horas seguidas pra mim, Não adianta desejar que alguém me tire dessa agonia, Porque "My friend will be me". So well, enquanto não me acerto comigo eu durmo, durmo e deixo a comida no prato, durmo e não abraço ninguém, durmo e choro.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Eu invento.

Invento amores, tiros, drogas. Invento que gosto, que gostavam de mim, que deixei de gostar. Invento desenhos, passo a colorir, depois rasgo tudo. Eu invento. Invento que sou, que voltei, que falei. Invento a vida, desinvento a arte, finjo ser nada. Invento partidas que nunca partem, jogos que não existem, química anulada. Eu invento minhas xícaras e meus cafés, meus chás e meus chalés. Invento abraços, invento feridas, invento dores reprimidas. Invento de ser e de fazer, mal entendidos do acaso eu invento. Invento minhas lágrimas e meu carnaval, invento um você que passa e não volta. Eu invento motivo pra minha dor que dói sem motivo. Eu invento medidas que não cumpro e com vergonha volto atrás. Eu falo demais e invento, tudo que falo é inventado. E até inventar que inventei, eu invento.

domingo, 12 de julho de 2009

Meu avô é Deus disfarçado de gente.

É, que nem naquele filme que Deus resolve se disfarçar de gente e passar um dia na Terra e tudo, mas meu avô decidiu passar uma vida inteira, que isso, pra ele que é Deus, não é quase nada. Bem, eu que sou esperta, sempre soube, na verdade. Mas hoje ele mesmo me confessou. Disse, assim, entre risadas teológicas, que eu não deveria contar pra ninguém, aí eu disse “Vou colocar no meu blog e todo mundo vai saber”, ele riu, sabe, porque afinal de contas nem tem que prestar contas a ninguém. Eu sabia, sabia mesmo, mas a verdade não é que eu sabia porque sou esperta, sabia porque ninguém menos que Deus podia amar tanto uma menina que nem eu, que nasci assim, toda errada, toda estragada, ninguém além dele me diria o contrário quando eu afirmasse minhas fraquezas, nem me encheria de livros e mimos e não teria o sorriso mais sincero que uma pessoa pode ter. Hoje ele me deu um livro da Lygia Fagundes Telles, um livro de contos, então eu o abracei e disse que ele era o melhor avô do mundo, não por interesse, mas é que sou tímida demais pra falar esse tipo de coisa tão sincera sem ocasião. Sabe o que ele respondeu? “Ah, vá te catar” e depois me abraçou, sincera e carinhosamente. Que mortal faria o mesmo pra mim? Ele me disse que nunca jogou boliche, eu disse que tinha jogado uma vez e que era legal, ele disse que tinha vontade, eu disse que se ele tinha mesmo queria que ele fosse comigo e com um amigo meu que eu gosto muito um dia desses, que ia falar com ele e que aposto que ele toparia, então perguntei o que ele achava, ele respondeu “E sua mãe?” eu disse “Cedat. Mas eu até chamo..” então ele falou pra irmos sim. Meu avô, meu amigo, eu e boliche, qualquer dia desses, vou jogar boliche com Deus. Sabe? Eu sei que vocês devem estar achando que é exagero de amor de neta ou coisa parecida, mas, bem, o dia que conhecerem “Seu Milton” ou o “Vovô” saberão que ele não é um mero mortal. E eu sei que pra um Deus uma vida não é nada e que provavelmente ele não se lembrará de mim daqui alguns quinquilhões de anos – também não sou tão esquecível assim, ok – porque terá tido outras tantas netas e outras tantas preocupações e estará outros tantos cansado, mas eu, eu Ferdi, eu abóbora, eu gato preto, eu coquelicot, eu cottonflower, eu brownie, eu tree, eu robô, eu sentimento, eu espírito, eu imortal e minha eterna eternidade jamais esquecerão – nem em outras grandes vidas – que tiveram a honra e a sorte de ter um avô Deus, um avô Deus que me amou como só meu irmão anjo já o fez também. Amores celestiais, pra uma menina que só pode ser fruto do próprio diabo com uma assassina de criancinhas, pra uma menina que não merece nenhuma forma de amor. Amor puro e pleno pra mim.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Pontos de vista.

Ela não tinha nada além da vida. Na verdade havia mudado com os pais e irmãos para São Paulo dois meses antes da tragédia, procuravam moradia ainda. Tragédia: Todos indo para praia, um caminhoneiro alterado por cocaína bate no carro e mata todos, exceto ela. Mariella continua viva. Viva e sozinha. Sozinha mas feliz. Sim, é claro que houve o desespero inicial, a dor, a sensação de desamparo.. Mas agora, bem, agora já faziam 3 anos, ela sobreviveu de fato, mesmo sem nunca ter achado a moradia que procurara com os pais, agora achara uma espécie outra família, graças ao desamparo, os mendigos a acolheram como filha, com seus 11 anos - data do ocorrido. Não houve conselho tutelar, juizado de menores, abrigo ou nada assim, ela tinha medo, medo do que poderia passar, sempre assistiu filmes de orfanato, então preferiu se virar sozinha, mas não precisou.. foi acolhida, tinha o que comer graças aos trocados que recebia das pessoas.. caridosas? De qualquer forma estava viva e Mariella era feliz de todo coração. Tinha sonhos e perspectiva, tinha sorrisos sinceros e mais nada. Tim nasceu em uma família rica, na região dos Jardins. Frequentou as melhores escolas - mesmo detestando - e estudou tudo que seus pais quiseram. Era filho único, cercado de amores e cuidados. Tim era contra quem dava esmolas "isso incentiva esses vagabundos a continuarem na rua", por isso não dava nunca, mas aquela garota tinha chamado sua atenção por algum motivo. Talvez pela alegria, ele nunca tinha sentido aquele tipo de alegria, a alegria que parecia orgânica e imutável, a alegria que provavelmente devia ter nascido com aquela garota tão machucada pelas dificuldades da rua, que estava longe de ser bonita, mas era como se brilhasse e brilhava de alegria. De modos que quando ele recusou-se a ajudá-la tentou explicar o porque, Mariella era esperta e gentil, entendeu seus motivos e no final disse, irônica "mas agora tenho que ver se arranjo alguém menos instruído que você, sabe, vagabundos têm que comer. Com licença". Tim se sentiu desconsertado e por isso continuou tentando falar com ela e na medida que era ignorado, crescia a vontade de comunicação, mas ela era totalmente inacessível quando queria, de modos que ele voltou pra casa. Mariella poderia tê-lo escutado, mas depois de ouví-lo chamar sua "família" de "bando de vagabundos", seria hipocrisia dela. Não pensou mais em Tim. Em contra partida Tim procurava-a em toda esquina e queria encontrar um porquê, por que ela era tão alegre? Por que ele não era? O que lhe faltava? Tinha um futuro quase certamente bom, tinha amigos, pais carinhosos, não lhe faltava nada, todas as roupas e bugigangas que queria ele tinha. Tinha tudo, tudo.. De modos que ver alguém tão avesso a ele acentuou sua insatisfação com o mundo e com a existência, não era correto, era injusto, por que ela tinha algo que ele não podia comprar? Se tornou cada vez mais introspectivo e triste. Nunca mais tornou a ver Mariella. E quando resolveu que não aguentava mais uma infelicidade sem sentido, escreveu em um papel "Mariella", sem saber o porquê, já que nunca soube o nome da garota. Então tirou uma foto fazendo pose de cowboy com a arma do pai - ele tinha uma coleção de armar antigas - depois disso deixou a câmera gravando, sorriu pra a mesma e disse "foi ela e sua felicidade", posicionou a arma de maneira elegante de baixo do queixo e no vídeo se via a bala sair pelo topo de sua cabeça. suicídio Enquanto Tim terminava com seu sofrimento, Mariella, com uma margarida atrás da orelha, andava descalça sobre a grama verde do parque do Ibirapuera e soprava uma cottonflower, sorrindo o sorriso dos que sabem sorrir.

domingo, 5 de julho de 2009

Adeus às flores. Olá, estrelas.

Eu tenho sempre errado por um.

E ao invés de ajudar, tenho sido a ajudada por amigos.

Tenho andado tão triste, com a cabeça tão baixa, os dentes tão fortes, nos meus braços tão fracos.

Não tenho me animado nem com festas, nem com música, nem com paixão não correspondida.

Tenho chorado pelo meu futuro, que não é futuro, é medo.

Tenho sido constante e agressivamente chicoteada psicologicamente, por quem devia cuidar de mim.

Tenho sido uma péssima e não requisitada companhia, não vejo filmes com amigos, nem rio com eles, meus maxilares há muito não ficam cansados de sorrir.

Tenho chorado de desamor e desesperança, não sou importante pra quase ninguém, nem faço as pessoas sorrirem ou sorrio com todo o coração.

Tenho esperado com paciência qualquer coisa que não chega, tenho sentido saudade até de brigar e fazer as pazes, porque hoje em dia as pazes não são as mesmas, não trazem paz.

Tenho ansiado até por perder a cabeça em qualquer coisa que abomino, qualquer paixão passageira, qualquer coisa que me tire desse fundo escuro e doente.

Tenho ferido com o que não penso e não têm entendido, não estou sendo eu.

Tenho adorado a idéia de uma explosão nuclear, algum ataque terrorista no meu prédio. Morte, tragédia, dor mundial.

Tenho visto a vida passar por cima de mim esmagando minha sombra de alegria inteira.

Eles dizem que eu sou uma pessoa diferente, que eu mudei, que sou pior, menos divertida, dizem que sentem falta da minha outra pessoa, mas ela morreu, eu sinto muito pela perda de vocês e pela minha, eu também sinto falta de ser contente e de acreditar em mim, eu sinto falta de prever um futuro maravilhoso ao invés de imagens grotescas de possíveis formas de não estar mais aqui.

Eu odeio o que me tornei e não duvido que vocês também, não duvido que a amizade de hoje seja compaixão, seja caridade e agradeço, boas pessoas, mas não com ironia, do fundo do meu coração. A possibilidade de conservar amizades mesmo no meu pior estado ainda me dá uma centelha de esperança, mas eu sou realista demais pra chamar de amizade e não fiquem bravos, dó é certa forma de bem querer, então sei que não mentem quando dizem que sou importante.

Sinto que sou um fardo sem utilidade para o mundo e com menos para mim e eu sei que vocês pensam o mesmo, não fazem questão de segredar quando o assunto é esse.

Sei que sou objeto de chacota e não admiração, há muito eu sei, há muito eu sou.

Eu só não sei porquê continuo aqui.

E viva.

Respirando.

Gastando água.

Alimento.

Dinheiro.

Roupas.

Reticências.. ... ... ... ... ... ...

Eu.

Po.

de.

ri.

a.

só.

es.

tar.

mor.

ta.

f

i

m

Mas quantas vezes, covarde que sou, já não decretei o fim sem fazê-lo?

sábado, 4 de julho de 2009

Well.. Well.. Well.. Gabriel!

- Gabriel, você é a favor de eu ir pra Alemanha pra sempre? - Não. - Por quê? - Porque se você for, quem vai cuidar de mim? Se você for, quem eu vou abraçar?

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Lobotomia, please!

Só quem sofre de depressão talvez possa entender a dimensão do desamparo, às vezes eu gostaria que existisse "depressão por um dia", pro resto do mundo entender e parar de achar que é manha. Pro resto do mundo entender e parar de achar que "é fácil ficar feliz". Pro resto, mais que sortudo, do mundo, não deixar a gente com essa sensação horrível de desamparo e desamor. É como com uma criança.. Se você gritar - mesmo se estiver dizendo que me ama - eu não vou me sentir melhor. Não adianta brigar, não adianta chacoalhar, é colo, é atenção, se for pra ajudar.. Essa sensação vem e vai quando quer, nós não temos controle. Jogar na cara nossas fraquezas - e tentativas de melhora - faz as crises só se demorarem mais um pouquinho. Não demonstrar tristeza pela nossa, arranca pedaço do coração. Por isso nessas horas eu adoraria uma lobotomia, viver sem sentir, sem pensar, sem saber. Lobotomia, por favor! E se for pra me deixar morrer, que seja de inanição! Eu queria que as pessoas entendessem a depressão como uma doença, não como uma frescura. E procurassem me cuidar, ao invés de me magoar e ficar magoado com as coisas que eu falo, não são coisas que eu pensaria sã e eu queria que as pessoas soubessem diferenciar esses meus dois estados, mas não..

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Denise.

Não era uma pessoa que passava desapercebido. Tinha lábios carnudos bem desenhados, um corpo -que pra quem já tinha dois filhos- demonstrava um bocado de zelo, olhos escondidos por um grande óculos de sol, um sorriso sincero e expansivo, nariz afilado, cabelos curtos e tingidos de maneira moderna. 30 anos. Costumava sorrir e ajudar sempre, foi por conta desse espírito altruísta que nos conhecemos: - Você precisa de alguma coisa? Onde você mora? Fica calma.. Me levou pra casa, cuidou de mim, eu não parava de chorar, o choque só me deixava fazer isso, depois emudeci, ela sempre gostou de cuidar. De forma que quando emudeci ela continuou me visitando e falando sobre tudo, me alimentava, entretinha, via filmes comigo, lia para mim, me banhava e trocava, não que eu fosse física ou mentalmente incapaz de executar essas ações sozinha, mas ela gostava de cuidar. E eu gostava dela. Um dia, depois de exatamente um ano de visitas diárias, notei que sua impaciência começou a aparecer, ela adorava falar, mas queria respostas, queria saber de mim, quantos anos eu tinha? O que exatamente tinha acontecido? O que eu gostava de fazer, ler, ouvir? Ela estava fazendo tudo certo? Como eu podia ser tão bonita? Então eu comecei a escrever pra ela: 17. Prefiro não falar - ou escrever - sobre isso. Calar. Livros. Música. Estava, obrigada. Obrigada. Ela me beijou suavemente na testa e começou a chorar, então me contou -enquanto me abraçava- que com minha idade engravidou pela primeira vez, o filho dela era sua maior bênção, aliás, os dois, tinha um de dez e um de doze, não amava seu marido, não sabia porque estava há treze anos com o mesmo, achava-o chato e não falava claramente, mas insinuava que tinha outra paixão. Ela foi embora nesse dia, dizendo que voltaria no dia seguinte, como fazia sempre. Passei dois meses sem notícia dela, até que um de seus filhos conseguiu então me encontrar -ela falava de mim, mas eles nunca se interessaram muito: "ciúme, me desculpe"- avisaram-me que faria dois meses no dia seguinte, havia sido estuprada e em seguida morta, não existiam suspeitos: - Lamento. Eu disse com a voz fraca de quem não fala há um ano, um mês e 30 dias. O filho mais novo me abraçou, um bebê, um bebê ainda mais bebê que eu, o outro -já com a malícia pré-adolescente presente- fez o mesmo: - Querem sentar? O menininho me pediu água e sentou, eu trouxe e sentei no sofá do lado, o mais velho sentou do meu lado e me abraçou enquanto chorava e percorria a mão pelo meu corpo, eu deixei, não falamos uma palavra até que percebi que o menor havia pegado no sono e então convidei-o ao meu quarto, quando acordei não haviam sinais de que qualquer um dos dois tivesse passado por lá. Eu ainda me pergunto se foi um sonho ou coisa assim, apesar de sentir o cheiro dele no meu corpo e o pesar de perdê-la, mais nada além da minha sensação. O copo -que eu não havia devolvido à cozinha- estava no escorredor como eu o havia pego. Mas foi por essa época que eu voltei a falar.