quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Das três cidades.

Quando a gente nasce num lugar e cresce no mesmo, todas nossas lembranças, memórias, medos e amigos estão atrelados a essa localização geográfica.
"Quando eu aumentava o raio da localização eu parava de gostar das pessoas".
E é claro que nem sempre, mas estar com alguém que entende a dinâmica e as implicações da cidade em que você se formou é importante.
Dito isso:

Ele nunca conseguia se encontrar.
Com nada.
Ele passeava e dava oi pra dezenas de milhares de pessoas.
Estava sempre sozinho e procurando um outro lugar, um outro estado, um espírito específico.
Romance a distância.
É sobre a ansiedade, a solidão, o ninguém te incomodar e ao mesmo tempo o sentimento, a atenção que um parceiro te daria.
É ideal quando você precisa se enganar que você precisa de alguém, quando não, mas o carinho, o carinho é sempre importante.
Dar carinho deveria ser obrigatório em todas as relações amistosas que a gente cultiva.
Como não é, a pessoa média tá sempre um pouco carente, sempre querendo um abraço que ela não pode pedir.
Se organiza, ele me pediu, mas não existe organização num fluxo continuo de palavras que você precisa exorcizar de você.
"Mas desse jeito talvez ninguém compreenda, talvez você não comunique nada", aquela vozinha atrás da orelha me falou.
Isso era pra ser um conto, sobre um amigo imaginário, sobre essa situação e essa busca e essa luta que é estar sozinho num mundo indiferente, mas virou, mais uma vez, o que eu faço.
E o que é que eu faço?
Não existe uma categoria literária que eu conheça na qual eu me encaixe.
É sobre fruição, não artística, mental.
Deixa ele relaxado, deixa ele livre e escuta o que ele tem pra te dizer.
Só lembra sempre quem você é e como é mágico ser um mágico.
Ninguém precisa saber.
Acontece eu querendo ou não. Pena que nem sempre há registros.
Extra extra, hear me now!
É claro que eu tenho capacidade de concatenação, mas me incomoda que tudo precise ser tão mastigado, as mensagens estão sempre aí pra quem souber entender.

Um dia ele conheceu essa pessoa, saída de um sonho, todos saem de um sonho (do nosso sonho) quando a gente se sente sozinho.
Mas ele não sabia disso ainda e foi até lá, lá era longe, era outro contexto, era confuso, só que não era, todas as cidades são iguais quando não são.

sábado, 25 de novembro de 2017

Gabriéis.

O amor da minha vida se chama Gabriel.
Meu irmão.
Ele nasceu eu tinha doze anos.
Eu não fui a melhor das irmãs, mas sempre amei ele mais que tudo.
Desde que ele nasceu, nunca passei uma hora sem pensar "espero que o Biel esteja feliz".
Conheci o Renas há quatro anos.
Ele tinha dezoito. Um outro bebê.
O Renas era filho único.
Ele não gostava particularmente de ser filho único, tanto que adotou meu irmão.
Mesmo.
Nas nossas primeiras semanas de amor, eu fui sair com um amigo e ele pediu pra, na mesma tarde, sair com meu irmão (que na época tinha 9 anos).
Melhores amigos desde então.
E no começo desse ano uma surpresa.
O Renas vai ter um irmãozinho.
Vinte e dois anos de diferença. Menino.
O nome dele: Gabriel.
Mais um anjo.
E eu não vejo a hora dele chegar, pra poder agora eu, adotar mais um irmãozinho pra amar pra sempre.


sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Nervoso.

Poder. Poder. Poder.
A mesma ladainha de que as pessoas só nos enervam quando a gente deixa ou se importa.
Só esquecem de dizer que não é opcional.
E que autoestima baixa não tem só a ver com se olhar no espelho e se achar feia, é todo um conjunto de valores que a gente atribui a si, ou não.
Quando você não se ama ou se respeita qualquer pessoa, por mais aleatória que seja, tem a capacidade de te tirar do sério.
Pessoas aleatórias.
Não acho que ninguém tem mais valor que ninguém, mas todo mundo se importa com pessoas e energias similares, complementares, não eu.
Não precisa ser interessante pra me magoar,
Não precisa ser legal ou gentil,
Não precisa de nada, é só tentar. E eu deixo.
Eu nunca vou atrapalhar os planos de alguém de propósito, mesmo que os planos me destruam bastante. Não vou mesmo.
Não atrapalhei, pelo contrário, fiz de tudo pra que desse certo, tirar a pressão de dois era muito importante, conhecer coisas novas, mas o jeito, a falta completa de consideração, respeito, amizade, feminismo ou qualquer noção de "provavelmente não gostaria que acontecesse comigo", foi muito brutal.
Brutal.
E eu não estava bem, não estou ainda, mas pelo menos estou tentando me recuperar, levantar e achar algum valor nessa cabeçona, tentando de verdade.
Na época tinha desistido, desistido e desabafado sobre desistir, sobre o quanto eu estava em um lugar de muita dor e miséria.
Achei que conseguiria gerar alguma empatia, talvez ganhar uma amiga e o que ganhei foi uma decepção e mágoas tão profundas que não consegui sequer falar com ninguém.
Meses e meses de dor e isolamento e zero perspectivas.
Foi duro, de verdade.
Nenhuma palavra, nada, nenhum gesto que demonstrasse qualquer arrependimento ou consciência do que tinha feito, muito pelo contrário, silêncio.
Silêncio.
Silêncio.
Como se nada tivesse acontecido.
Como se fosse normal ser recebida com amor, carinho e pizza na vida de alguém, depois agir com ampla e total irresponsabilidade.
"Mas ela é tão jovem"
"Não deve ter feito por mal"
"Mas você mesma foi embora, sabia que isso aconteceria"
"A culpa deve ser minha"
Dessa vez não foi, fiquei dentro da mesma caixa de agonia que antes, da mesma estrutura triste, quieta, sem incomodar ninguém.
E esse foi o resultado.
Meses depois, um pedido:
"Deixa minha consciência limpa, eu estou incomodada com o fato de que o que eu te fiz me faça sentir um ser humano pior"
E eu, sempre patética, há dias com medo de ser, de novo, gentil demais com alguém e ignorar todos os meus sentimentos, realmente pensei em dizer alguma coisa que confortasse aquela pessoa que tanto me magoou.
Não dessa vez.
Não é minha responsabilidade.
Arque com a dor na consciência de ter destruído de propósito alguém que só queria seu bem, sua amizade.
Lide com isso dentro de você.
Tenta entender porquê você faria uma coisa assim.
Não é meu papel consolar quem me magoou.
Eu lidei com a minha dor completamente sozinha.
Sua vez.

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Os planetas se alinharam.

Essas últimas semanas foram muito confusas.
A gente achou até que ia enlouquecer, que tinha enlouquecido, esqueceu o que era são.
O tempo passou de dois jeitos diferentes, o meu e o dele.
O meu sendo o de vocês e o dele um totalmente novo.
Sete dias em três.
"Ele ainda acha que tem um poder especial, que tem alguma coisa que só ele pode fazer".
Ele tem razão.
Você não conhece essa pessoa, como você pode atestar o que é são?
Dias e pessoas e peixes se passaram, até o álcool teve sua função.
Em qualquer outra ocasião eu teria adorado.
Deixa que levem, nossos bens materiais não nos importam.
Agora a gente pode usá-los. Eles finalmente têm uso!
Não mais um medo nauseante de perder qualquer coisa, são sempre experiências, o universo se encarrega, a matemática se encarrega, eu me encarrego, 22 anos em 4.
A matemática e os sistemas, como descobrir os padrões, quem está dentro de qual.
A concisão da minha escrita disléxica é o que faz esse e esse folharem.
Nada explicativo, é sobre as sensações, tentar agarrar um pouquinho da essência do que o outro tenta comunicar. É simbiótico.
A chave da cripta encripta a alma.
Estresse pós traumático em que o trigger são palavras.
O ponto é.
Eu nunca entendi o ponto, mas como ele bem disse, não é sobre entender, é sobre sistematizar pra se proteger, de tudo que virá a partir disso, dessa confiança, desse encantamento.
Tem que aproveitar o impulso do momento.
Aconteceu também em Berlim.
A confusão traz a produtividade.
E as pessoas já escutaram o sino das grandes coisas e querem ver de perto.
Venham!

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Suspiro.

Queria escrever sobre uma grande amiga, mas um suspiro bem fundo e cansado não deixou.
Não se escreve sobre quem a gente ama com a cabeça assim, emaranhada e chata.
Não se deveria escrever sobre nada.
Mas antes que se pare pra pensar os dedinhos já caminham sobre o teclado tentando extrair algum sentido dessa vida que tanto promete e muito entrega.
O inferno jamais são os outros, o inferno é nossa percepção dos outros e o poder que a gente dá pra eles.
É engraçado pensar como essa distribuição de poder é aleatória e o quanto a gente precisa de sistemas e técnicas pra não ficar completamente perdido em primeiras e terceiras impressões.
Talvez não seja tão difícil ou aleatório pra todo mundo, mas eu sou a pior descobridora de caráter que já vi na vida.
Basta um sorriso, um elogio e eu tenho certeza que aquela pessoa quer o meu bem pra sempre (porque, em geral, me basta isso pra querer o bem de quem for), não é saudável, eu sei.
É tão pouco saudável que por grande tempo eu me retraí, de tudo e todos que conhecia, entrei na minha concha transparente e não deixei quase ninguém interagir.
Essa amiga que eu vou escrever sobre amanhã ou mais tarde, ela eu deixei conhecer minha concha, tem algo na disponibilidade e alegria dela que genuinamente me acalmam.
Digressão.
Quando eu li O Apanhador no Campo de Centeio pra primeira vez achei um máximo que o Holden tivesse tanto attention span quanto eu.
Eu não era tão errada afinal de contas.
O problema é que eu era sim, o livro inteiro é sobre a não aceitação e eu não entendi nada, peguei os maneirismos e transfigurei numa pseudo lógica imaginária.
Digressão.
E novamente sobre eu.
É tão difícil ter uma perspectiva completamente neutra sobre a vida.
O outro está sempre em relação ao eu, contaminando, folgadamente esquecendo que nós somos apenas o centro do nosso próprio universo e ele só é de fato relevante para a nossa compreensão de mundo.
Rambling rambling rambling.
Imitando o meu trajeto.

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Voltando ou Meu Pai.

Há alguns meses ele foi,
aceitou que ia,
mas pela primeira vez não quis.

Vou ficar um pouco e ver como me sinto.
Mas o que vocês fazem aqui?
A gente nada, limpa a casa, colhe frutas,
brinca com os cachorros, come bastante,
tem reuniões, muitas reuniões, todo dia várias,
e a gente fala do que a gente sente e eu escrevo,
escrevo muito e o tempo todo.

Tanto que eu acho que ele deveria publicar um livro,
mas me deixa ler antes.

Ele me mostrou que no caderno dele tem a "Fê burra" e eu fiquei pensando quem será a Fê inteligente.

Ele contou pro meu irmão o que ele até já sabia, imaginava, deduzia, ele não era tão pequeno, o dobro da minha idade quando eu soube com certeza.

(No dia em que eu descobri tinha mandado a minha primeira e única cartinha anônima de amor, que foi lida, rasgada e jogada no lixo)

Tiveram relógios e carregadores de celular.
Engraçado pensar nisso, eu nem lembrava que na época a gente já tinha celular.
Vai ver que eu penso que sou mais velha do que sou.

Me senti assim desde então, velha e responsável
Tanto que anos de irresponsabilidade vieram me cobrar

Eu nunca vou me perdoar por ter te virado as costas, pode deixar
Você mesmo já perdoou, mas não é algo que se possa amenizar
Fui horrível.

Você na minha peça e eu gritando que não ia falar com você do camarim
Uma cena que o público não assistiu, ainda bem

A mágoa que eu sinto é comigo mesma
Me foquei tanto por tanto tempo em querer te ajudar que não desenvolvi quase nada do que você tentou me ensinar
Não aprendi sua profissão
Sua confiança
Seu charme
Seu carisma
Sua rapidez
Sua caridade
Sua calma
Suas paixões
Escolhi ser uma loser
Com medo que parecer você me levasse a um lugar incomum
Os lugares incomuns aparecem independente de quem a gente seja
Escolhi? ser triste e ser diferente
Mas não quero mais, cansei, quero meu pai

E ele volta na quinta-feira
Vai fazer pizza pra gente
Ele sempre faz tanta coisa pra nós


Todo o tempo que eu perdi achando que você era mais errado do que o resto do mundo nunca mais vai voltar, mas pai, pode ter certeza, hoje em dia eu sei
Você é uma das poucas pessoas que tem um problema, reconhece esse problema e luta contra ele
Todo mundo fingindo estar bem, fingindo ser bom, estar no controle e descontando em todo tipo de comportamento repulsivo, você não
Você sempre quer ser melhor, como humano
Obrigada

Obrigada por todo amor, toda comida, todo conselho
Obrigada por me incentivar a ser sempre mais feliz
E me respeitar tanto

Não é culpa da mãe, mas entre vocês dois se alguém é machista é ela
Aliás, ela sempre me contou que quando ela tava grávida você queria uma menina

Cá estou eu

Desculpa se rebelde burra mesquinha mimada traumatizada assustada louca covarde e tudo que é defeito que eu ainda nem aprendi que tenho
Obrigada por não desistir da nossa relação

Te amo e volta logo, saudades.


segunda-feira, 20 de novembro de 2017

I lost it.

Há alguns anos eu era outra pessoa, adolescente, claro, ajuda, mas alguém com esperanças e sonhos e principalmente com algum senso de valor, de amor próprio.
Ao longo do tempo eu só perdi.
De repente tudo que eu falava ou pensava era só alguma frivolidade sobre alguma conversa que eu escutei na fila de algum supermercado sem rosto.
De repente, ao longo de longos anos, eu me tornei esse semi ser, esse vazio inconsolável de mentiras e mágoas que eu nem sei de onde apodreceram.
O tempo passou e minha essência volatilizou, sem me reconhecer eu fui aceitando cada vez menos, cada vez menos vontade, menos alegria, menos amigos, menos empenho.
Pouco a pouco eu fui cedendo meu eu e me tornando um alguém sem norte.
Eu desisti de mim por completo.
Viver em função.
Não posso me matar sempre por conta dos outros.
Os outros.
Meia dúzia de pessoas que nunca desistiram de mim, meu irmão, meu melhor amigo e amor, um ou outro amigo, meus gatos?
Esse tempo todo eu batia minha cabeça sem saber o porquê de tanta gente boa ainda esperar que eu esperasse algo da vida e, de repente, um lembrete: um texto.
Um texto juvenil que falava das minhas intenções de ser um espírito livre, sem nada a perder, vagando pelo mundo, procurando um canto pra abraçar uns animais e trocar umas histórias com quem aparecesse por aí.
Eu não sou a mesma pessoa que escreveu aquele texto (sequer sou uma pessoa no momento), mas lembrar dessa faísca reacendeu algo, ressuscitou em mim a vontade de ser.
O quê eu nem sei, mas buscar, me dar mais uma chance, ressignificar algum valor, algum amor pelo que pode vir a ser.
É muito difícil perceber que é tão fácil se perder e ficar assim, como um barco perdido no meio do mar, sem remos, sem perspectivas, só o vazio e a solidão.
Mas ao mesmo tempo essas palavras que saem de mim são como vida escorrendo dos dedos, não para mais ninguém, sem nenhuma pretensão, como sempre foi, mas pra eu não esquecer.
Nunca esquecer.
Ferdi, não esquece: tem vida dentro do seu peito, é só acordar e cuidar.