quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Belo.

Lembro que não queria sentar, ou até queria, mas senti vergonha e fiquei de pé. Lembro que fiquei um pouco chocada com a sua beleza, desconcertada, e ao mesmo tempo me senti orgulhosa. Adorava o cor-de-rosa e azul dos cobertores. Lembro que você, na segunda, levantou com muito cuidado, fazendo o mínimo de barulho possível pra me deixar dormindo enquanto ia trabalhar. Lembro que adorava olhar suas coisas quando você não estava por perto, ficar observando como você organizava a falta de organização do seu quarto. E te ver lendo Macanudo, com risadas espaças. Lembro do livro que você estava lendo, lembro da diagramação do livro. Lembro que, apesar de eu nunca ficar quieta, quando eu ficava, o silêncio não doía do seu lado. Me senti à vontade como se nos conhecêssemos desde sempre. Lembro de andar muito e de lugares bonitos. Lembro das batatas gigantes de ouro, de comer eternamente. Lembro de nunca achar nada naquela mala infinita. Lembro das decorações de Natal e da loira me chamando de loira em tom de ofensa. Lembro de chegar tarde e do moço com cara de criança. Lembro de falar do que eu não queria e queria secretamente. De você indo comprar comida, da gente na padaria estranha, de quindim, de você adorar quindim, da gente comendo na frente do computador, assistir um milhão e duzentos mil vídeos. "Caranguejo não é peixe, caranguejo peixe é, quem gosta de mim é ela, quem gosta dela sou eu". E da peça que a gente assistiu e nunca mais conseguia parar de cantar a música, depois de esquecer a música e sofrer tentando lembrar, então lembrar e nunca mais parar de cantar de novo. De você ser bonito até na foto 3x4, de fingir que precisava de um táxi comigo só pra ser menos constrangedor ficar esperando sem saber direito o que. De você nunca largar o celular. E uma semana depois perder ele. E todas as vezes que eu voltava a gente se abraçava. Lembro de adorar muito a sua companhia. E querer que tu venha também. De ter certeza que você seria um dos 100 sobreviventes. Lembro da sua voz e entonações. E eu lembro dos relógios e das praças e do seu senso crítico apurado, das nossas piadas maldosas e dos psicopatas que nos perseguiam, lembro da sua carinha dormindo e de assistir séries com você, lembro das praças e das águas que não eram águias. Me sentia em casa numa casa e cidade que estavam longe da minha; confesso ter chorado um pouquinho quando fui embora. Lembro de você carregando minha mala, vocês xadrezes, combinavam. Lembro dos aviões que eu tentei fotografar de tarde e de matar tempo achando camarões; Sei que é natural que eu lembre uma vez que não faz um mês que passamos esse tempo juntos, mas de qualquer maneira quero registrar tudo que eu lembro por aqui, porque por mais que saiba que muito em breve eu volto, não quero confundir as lembranças de uma ocasião e outra. Lembro que você se tornou uma pessoa importante de verdade, de mensagens de madrugada sem motivo e que ouve as maldades que eu faço com a vida. Sei que você é incrível, e merece todas as pedras estrelas do mundo. E todas as pesquisas do Google. Sei que você me alegra. E que o texto está péssimo. E que eu espero que você nunca na vida venha a lê-lo, sério, vergonha. Mas de qualquer maneira, escrever sobre torna as coisas mais leves e mais bonitas. Obrigada por ser belo, em tudo que essa palavra possa vir a englobar.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito belo, e útil para recordar após anos passados.