quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Sou contra aspartame.

É burro trocar algo doce, por algo que te dá câncer e é amargo. É burro e infantil, porque o doce só é ruim quando muito, o amargo é sempre, mesmo que duas gotas e todo mundo põe dez, na esperança de deixar menos amargo. Não entendo certos costumes.
Quando eu era criança já detestava a religião católica (não que deteste hoje, acho que não sou tão mais criança para detestar religiões quaisquer, aliás, a única coisa que pode ser detestada na vida é a maneira como o homem lida com o que quer que seja, através do homem até o amor pode ter algo de abominável) e com essa detestância me pegava confusa ao gostar tanto das velas dos altares, sempre adorei o fogo, em todas suas manifestações que são sempre uma só, a sutileza (e capacidade destrutiva) do fogo sempre me fascinaram. O que eu detestava de católico eram aquelas missas tediosas, aquele fanatismo, aqueles gritos, toda aquela culpa, o fato de alguém ter sido crucificado por pecados que não cometeu, pra nos livrar do nosso, era tão injusto e sádico. Eu sempre preferi a justiça na frente de qualquer outra coisa, até hoje eu vivo com minha justiça inabalável, às vezes me pesa essa justiça.
Anos depois eu me senti tão menos conflitada ao descobrir que as velas, os rituais com as velas e tudo que tinha de mágico em poder ter luz quando não se tinha era algo muito mais antigo que essa religião chata e injusta que eu detestava. Me senti mais tranquila. Sempre que ia naquelas casas-de-artigos-religiosos-de-todas-as-religiões me sentia encantada com todas as cores de velas e queria ter um canto só pra acender todas. E depois quando eu li na Recreio que o fogo podia ter todas as cores resolvi ser cientista, só pra tê-los todos em volta de mim. Então esse não é um texto sobre fogo, embora pudesse.
Acontece também que esses dias (ontem de madrugada) escrevi essa oração (não sei se vocês sabem mas minha verdade é que cada verdade está em cada coração, então se você é muçulmano ou judeu, se ser terrorista ou hindu vale para você, com certeza é verdade, a sua verdade e fim) então eu escrevo coisas que eu acho que se eu programar no meu cérebro eu terei uma vida feliz e chamo essas coisas de oração. Então essa oração em dado momento dizia "Que eu saiba lidar e cuidar dos sentimentos das pessoas que amo cada vez melhor e que eu seja cada vez mais independente para cuidar dos meus" e esse negócio de querer ajudar e não precisar de ajuda pode parecer bonito e altruísta, mas não é nada, eu deveria pedir para que cada amigo, ente querido soubesse cuidar dos seus sentimentos sozinhos, mas enquanto eles não conseguirem, que saibam que eu estou aqui. E, olha, cuidar e ajudar pessoas queridas é fácil, traz prazer, quero ver é começar a pedir pra ajudar mesmo odiando.
Sabiam que eu odeio muita gente? Odeio mesmo, detesto, só de pensar em noventa por cento das pessoas que eu conheço meu estômago se embrulha e às vezes até em pensar nas pessoas que eu amo tenho só vontade de correr pra bem longe e nunca mais falar com ninguém. O mundo pra mim parece todo errado e ao mesmo tempo a coisa mais bonita. Tudo varia, nossos humores variam e comigo não é diferente.
Tive essa conversa sobre distanciamento literário, não sei como foi, sei que em dado momento eu disse que todo mundo deveria ler tudo e toda vez que eu penso nisso me vem um enorme melancolia por saber que não dá tempo, por pensar que se eu me enclausurar em leitura a vida passa e a gente não vê e por saber que é difícil delimitar saudável entre ler muito e ler demais e nem seria essa a questão pior, o pior é que mesmo se você passar a vida lendo, não lerá tudo que valha a pena ler e já tenha sido escrito, até porque você tem que aprender muitos e muitos idiomas e a vida é curta demais pra quem tem essa espécie de interesse.
Tem uma vela do meu lado enquanto eu escrevo e tinha um incenso também, num incensário de Auset, o incenso já queimou.
Estava numa tarde quente, uma chuva fina, chuva fria, porta aberta. Há quem fale de janelas e em mim é tudo enorme, gosto de como meu rosto é pálido na sombra, gosto de como as pessoas ficam fantasmagóricas no escuro.
Esses dias eu vi um pingente de unicórnio e não comprei.
É uma droga ter que sempre depender de dinheiro.
Queria que patrocinassem minha imaginação.
E nenhuma produção específica.
Durmam bem vocês.
Vale a soneca. lml

2 comentários:

Juliana Kalid disse...

cá com meus botões: a expressão "velar alguém" merecia ter um sentido mais feliz. definitivamente! :)

coisa boa ser levada assim, a uma hora dessas, a passear pelo seu mundo de braços dados com seu texto. adorei ambos: o texto e essa sua partezinha de mundo que se fascina por velas e odeia pessoas, sem perder a doçura.

Anônimo disse...

Nossa Ferdi! Sinceramente, estou admirado por sua bela escrita... Você é ótima, escreve com facilidade e consegue da mesma forma com muita destreza agarrar a atenção de qualquer que seja... (rs) Não tenho palavras, para expressar o quanto eu fiquei boquiaberto ao terminar a leitura desse post... Supimpa!

Se eu pudesse de alguma forma patrocinar a sua formidável imaginação... Não pensaria duas vezes rs.