terça-feira, 1 de novembro de 2011

Sobre escritórios e jabuticabeiras.

Acho uma merda que as pessoas realmente acreditem que a única opção da vida é crescer, fazer uma faculdade e "se estabilizar".
Dia desses eu vi a seguinte tirinha:
(via esse blog)
No que minha tia deu um sorriso cansado e eu perguntei se ela não achava essa vida uma merda, a resposta foi "é só olhar pra minha cara", tudo em minúscula mesmo, porque não havia nenhum começo ali.
Agora a questão que fica é: Será que essa é a nossa única opção mesmo?
Ontem eu fui acusada (acusada sim, sem drama nem nada do tipo, mas sinto como acusação) de querer me "estabilizar".
A grande questão é que em dadas épocas da vida eu me conformo que é isso aí mesmo, que em dado momento terei uma cozinha com utensílios tecnológicos, churrasqueira e espaço gourmet. Acho deprimente alguém almejar um espaço gourmet. Me conformo por vezes, confesso, mas por puro conformismo (conforme o conformar), puro medo, pura apatia, sem nenhuma vontade.
Tudo bem você ter dentro de você esse espírito burgues que almeja uma vida tranqüila de escritório, tudo bem querer colocar teus filhos no Arqui Diocesano, tudo bem se você é assim, mas eu não sou. Não sou e não quero me conformar em querer coisas que eu não quero só porque esperam que eu queira.
Eu não quero vida de escritório, não quero ter um Ford Fusion e almejar uma Mercedes Benz, não quero usar vestidos da Collins e almejar Dolce & Gabbana, não quero receber meus amigos da aula de pintura com tinta a óleo e preparar um salmãozinho com molho de maracujá (ou hortelã, notem), não quero ser essa pessoa que passa a maior parte da vida fazendo alguma coisa chata e mecânica para ganhar um salário e gastar com coisas que além de não querer ela não precisa. Não quero casar de branco nem passar a lua de mel (sério isso, galera?) em Paris, Veneza ou qualquer lugar LINDÍSSIMO desses que a gente TEM que conhecer.
Eu quero acordar hoje e não ter certeza de onde estarei ou o que exatamente estarei fazendo ano que vem, eu quero conhecer lugares que ninguém quer, eu quero ver todo pôr-do-sol possível, quero ter um suco gelado, um violino, que ele tenha um violão, que a gente toque música ruim por diversão e use roupas horríveis, eu quero um alto padrão de vida, com dormir na rede e cabelo bagunçado, eu quero rir de verdade e comer jabuticaba do pé, não é uma questão de ser hippie, suja, fumar maconha ou coisa que o valha, eu não quero nada disso, só não quero viver minha vida sabendo que eu fui exatamente quem a sociedade demandou que eu fosse e me sentir uma merda porque não conheço nada, sei falar maleporcamente duas línguas, vivi a vida inteira na mesma cidade, passei a maior parte do tempo entediada e nunca fiz nada de realmente autentico, que EU realmente tivesse vontade.
Lembro que com quinze anos fiz esse tratado com minhas melhores amigas na ocasião, assim que nos formássemos no ensino médio compraríamos uma Kombi e viveríamos como Saltimbancas por aí, tocando violão e passando o chapéu, interpretando peças escritas por nós, teatro de rua, malabarismos e mágica, esse era o trato. Mantenho esse trato comigo mesma e me vou, me vou sempre, juro para mim que dia desses eu fujo, sem celular, sem computador, sem emprego e sem dinheiro. E quem quiser me acompanhar, que o faça se tiver espírito livre, que o faça se quiser passar a vida vivendo.
E fica o desabafo mal escrito, mal formulado, mas que por diversas vezes me aperta o coração. lml

16 comentários:

Ludmila @luudinthesky disse...

Yay, achei muito fofo seu texto. Na verdade é isso ai, as pessoas passam a maior parte do tempo se preocupando com coisas fúteis ao invés de verem as coisas bonitas da vida. Um beijo pra você;*

Juliana Kalid disse...

tá aí uma confusão dos diabos: saber realmente o que se quer (ou não), sem cair no conformismo de só querer porque/o que querem que queiramos, nem acabar trilhando um caminho rebelde-meio-ignorante de quem decide não querer o que no fundo até se quer, só para fugir daquilo que tantos outros querem que queiramos.

eita, bolo doido!

Anônimo disse...

Acredito em um MUNDO exatamente como a Ferdi descreveu. Acrescentando ainda que neste mundo não existirá o trabalho muito menos o emprego, mas todos possuirão condições suficientes para viver com subsistência e tranquilidade. Ninguém será melhor do que ninguém, todos com a mesma habilidade, não havendo qualquer tipo de discriminação; guerra e inimizades. Acordaremos ao lado das pessoas amadas, não teremos certeza de onde estaremos - conheceremos lugares que ninguém se quer imaginou - veremos o por-do-sol - com muitas gargalhadas verdadeiras...

Mundo esse, talvez irrealista e impossível de existência?

Acredito que não, pois este mundo refere-se ao paraíso. Lugar preparado para aqueles que creem na palavra de Deus!!!

O paraíso de Deus é, por assim dizer, o coração do homem.

Ferdi Mendonça disse...

UIHASIUODHASUIDHIAUSDHIAUSDHIUASDHA

Thiago Barbosa disse...

Me fez muito bem ler seu texto Ferdi, mesmo. Pra mim a decisão de qual caminho tomar é tão incerta, e quando me sinto esclarecido consigo criar um argumento pra contradizer a mim mesmo, talvez eu não tenha claro o que seja de fato Qualidade de Vida pra mim.

Não sei se fez o menor sentido o que acabou de ler, mas gostaria muito que soubesse que achei esse texto sensacional.

Parabéns Ferdi.

natswh disse...

é o que eu repito pra mim mesma todo dia, junto com os argumentos, porque pra mudar de ideia nesse mundo tá fácil viu.

Anônimo disse...

Concordo infinitamente. Mas as vezes parece ser impossivel se ver livre desse mundo quadrado, não é? A gente se esforça, mas sempre se depara fazendo as coisas que esperam que nós façemos.. Tenho 14 anos, e, nesse momento, não há nada que eu possa fazer para estar livre disso tudo. Todos com quem converso são assim, e a prisão da escola me faz pensar como todos os outros. Queria poder ser, sem ser julgada pelo mundo.

Ferdi disse...

A verdade é que sempre há o que possamos fazer, mas é muito mais cômodo não fazer. Por isso a gente se sente preso, porque na verdade somos folgados.

Juliana Carrara disse...

Eu já escrevi muito sobre isso e concordo plenamente com vários de seus argumentos. Tem uma post no meu blog que é a parte de uma música que eu gosto muito, e que fala sobre coisas desse tipo. http://doce-artificial.blogspot.com/2010/04/fim-da-estrada.html

Anônimo disse...

Mas o sentido da vida é esse. Do mesmo modo que se faz necessário crescer, e se "estabilizar", se faz necessário VIVER com um alto padrão de vida.

Fujir, sem celular, sem computador, sem emprego e sem dinheiro, essa com certeza não será a melhor opção. Neste caso você estaria agindo somente com a emoção deixando de lado a razão.

O que eu quero dizer é que há de se balancear as manifestações da razão e da emoção para que se tenha uma vida equilibrada. Aquele que orientar sua conduta baseando-se somente nas emoções ou exclusivamente na razão provavelmente terá dificuldades.

Portanto, é possível manter uma vida conjuntamente, de forma balanceada, de "escritório", e comer jabuticaba do pé de jabuticabeiras. De forma igualitária, isso não é dizer "ser" exatamente quem a sociedade demandou que você fosse.

E quanto ao trabalho, ninguém na face da terra gostaria de ser aquela pessoa que perde a maior parte do dia fazendo alguma coisa mecânica e chata para ganhar uma remuneração e gastar com coisas que além de não querer não precisa. (apesar de existir muitos assim). Basta, simplesmente, fazer aquilo que gosta (tipo pintura, música, outros exatas), enfim, nunca isso se transformaria em uma coisa chata e mecânica... Não se faz necessário trabalhar todo santo dia; obedecer ordens de chefe e acatar ordens de superiores. Basta fazer o que gosta (talvez, abrir o seu próprio negócio ou prestar serviços, sei lá)... e com o salário do mês, caso não queria ser possuidor de carro do ano, roupas de marcas, você pode simplesmente ser consciente e ajudar aqueles que necessitam; aqueles que passam fome; sem subsistência e qualidade de vida.

Não devemos viver somente uma vida de "escritório", mas sim, VIVER a vida. Pois da mesma forma em que se vive de "escritório" é possível conhecer com as pessoas amadas lugares que ninguém imaginária conhecer, talvez dormir na rede, contar histórias incríveis aos filhos. Tudo isso é possível, basta querer e SABER VIVER.

Matheus Claudino disse...

Lendo esse texto lembro da minha epifania, de ver q esse mundo tá na merda. Os valores e morais impregnados na sociedade, são como uma maré q vai contra a sua liberdade (felicidade). Uns preferem manter alienados quando a td isso, pois é fato "Conhecimento traz medo".

Realmente mt proveitoso seu texto. Parabéns!

Déia disse...

Este é o primeiro post do seu blog que eu leio, gostei bastante e também já pensei as mesmas coisas que você.
Eu acho que não tem nada de errado uma pessoa querer levar uma vida normal e dentro dos padrões já estabelecidos pela sociedade, claro, se ela realmente quiser isto. Mas na maioria das vezes as pessoas não querem, elas simplesmente se acovardam diante das mudanças (e eu, infelizmente, também faço parte desta maioria).
Ah este seu texto me lembrou muito o filme "Na natureza selvagem”. Já assistiu?! Se não, assista! É ótimo e fala exatamente sobre tudo isso. Além de a trilha sonora ser excelente :)

Beijos

Anônimo disse...

muito bom!

Marcy! disse...

"Eu é que não me sento no trone de um apartamento com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar"

Lembrei dessa música com esse post.

Carlinhos de Jesus disse...

A minha única opção da vida é aperfeiçoar-se enquanto homem naquela atividade que me diferencia de todos os outros seres vivos. Vivendo segundo as sensações e a razão; justo meio-termo, entre os vícios e virtudes.

;D

Jefferson Reis disse...

Muitas palmas para você.
Estou quase morrendo porque não tenho um tema para minha monografia. Você nunca passará por isso. Ou talvez passe, se achar que estudar também é ter um pouco de liberdade, sei lá. Gostei muito do post :)