segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

SP/DF, DF/SP.

Brasília tem esse ar quente e duro que entra na sua carne e fica lá, entre pele e carne.
Tem essa falta de medo de encontrar quem quer que seja porque eu não conheço ninguém aqui que eu deteste, não conhecer as pessoas muito bem é uma dádiva.
Tem esse trânsito ordenado e um barulho calculado por quem projetou a cidade, meticulosamente cheia de falhas. Falhas de todas as outras cidades porque no final das contas, as tripas são as mesmas, os cheiros são os mesmos, os mijos estarão lá.
Toda grande cidade é uma repetição mal feita da primeira grande cidade, ou da segunda.
Brasília é boa porque não tem aquelas junkies paulistanas que eu tanto desprezo, mas é pior, porque tem as junkies brasilienses, que além de junkies fingem qualquer ideologia a respeito disso, esbanjando uma arrogância burquesa de se largar as tripas na cara de qualquer uma delas, que compra roupas hippies em lojas de grife. Tem essas garotas feias em todos os lugares, tantas garotas feias que dá saudade de São Paulo.
Mas aqui tem as comerciais, sempre pertinho e tem Champs-Élysées disfarçada de rua comum, cheia de ratos e escorpiões, mas os ratos daqui são melhores que os ratos de lá.
Os ratos daqui são selvagens no sentido não desbravado da palavra, são selvagens que constroem suas tocas e ainda tem grama de sobra.
Aqui tem grama e macacos nas ruas e a eminência de uma capivara por aí, eu não estou acostumada com bicho na cidade, não estou não.
E eu gosto dos bichos daqui, gosto da grama e da possibilidade de fazer uma guerra de bexigas em qualquer quadra, como bem entender porque eu posso e posso nessa terra fingidamente litorânea, sem minhas montanhas que são São Paulo circundando o vale inteiro, nessa cidade de brisa e torneira litorânea eu posso andar descalça e deitar no chão. Posso trepar nas árvores e comer frutas, se eu quiser.
Brasília é uma cidade do interior disfarçada de capital do país. Quem diz isso nem sou eu, brasilienses dizem isso, dizem isso com freqüência e sem lamento porque é como as coisas são.
Brasília é uma cidade de funcionários públicos, pessoas com gravatas.
De porteiros e empregadas, pessoas desleixadas, pobres, serviçais, todos serviçais que vem de outras capitas, que migram atrás de dinheiro e não sei se acabam melhor ou pior que lá.
Aqui é a cidade onde mora meu amor, mas meu amor mora por enquanto, um dia a gente volta pra São Paulo, porque amar Brasília é bom, mas eu sei que São Paulo é o meu lugar.

4 comentários:

Anny Cruz disse...

Quando vi vc na twitcan vc estava triste chorando...quando li este texto tive a mesma sensão de que vc estava triste...
Não fique triste vc é brilhante eu sempre anciosa p/ ler seus textos ou ver teus videos (que vc não posta mais),e vc ultimamente triste.Não quero q vc fike trite ...
como sempre seu texto genial!..parabens saudades da ferdiz felix...bjos**

Gallos disse...

Desejo felicidades p vc.
Aproveite bastante esse momento pq isso eh viver.

Victória Felicíssimo disse...

seguindo segue?

Lorenzo Tozzi Evola disse...

há várias são paulo. experiência de quem mora numa delas.

algumas aprazíveis, outras desprezíveis.

contudo, ainda assim, pretendo dar o fora daqui. há paulistanos repugnantes.