domingo, 15 de novembro de 2009

A humanidade é desumana.

Voltava do trabalho, estava tranqüila mas provavelmente pensava na solidão. Era uma garota indefinível, mas, naquele momento, dela podia-se dizer: excêntrica, sonhadora e gentil. Sentada esperando seu ônibus um casal se aproximou, o homem sentou, ela sorriu pra ele, se afastou um pouco para que a mulher pudesse fazer o mesmo. Por um instante pensei que ela admirou de alguma forma o homem, mas não faria sentido e ela sempre faz. Pensei que ela poderia ter recuperado a fé na humanidade, me enganei. Um cego, um funcionário do metrô, uma promessa: "Eu cuido dele", a mulher do quase admirado falou. O ônibus do casal chegou, era o mesmo ônibus que ela pegaria, o casal foi embora, esquivos, quase se escondendo. Ela ficou, e disse: "Não estou com pressa, não se preocupe". Ela estava com pressa, mas ficou. E quando ele foi embora, ela lembrou da música que ouvia, falava da beleza, falava da visão, lágrimas quentes e salgadas escorreram, ela não chorava por ela, era pela humanidade que chorava. Tão cretina a ponto de prometer cuidar de um ser quase indefeso e fugir, se escondendo, provavelmente das próprias consciências.

Um comentário:

Desmanche de Celebridades disse...

Ferdi,
Não acho antiquado o que vc disse, e concordo com algumas das suas colocações. Como o próprio texto explica, criamos uma sociedade mais livre, e que nos oferece um leque variado de opções em todos os sentidos. É tanta informação, tanta diversidade, tantos caminhos possíveis, que o ser humano se perde por não ter uma idealização concreta de um objetivo que lhe dê sentido. Se isso tem aspectos positivos? É claro que sim. Mas problema é que ainda somos humanos, e dessa forma, ainda sentimos as dores da solidão, do distanciamento, e do individualismo que este tipo de sociedade fabrica.O individuo atual é o individuo das tentativas, mas nunca o individuo das certezas e das concretizações. Hoje ele está aqui, mas amanhã pode ter ido embora, ou pode estar no mesmo lugar mas de forma completamente diferente. Por isso ele experimenta, por que acredita que não precisa estabilizar-se numa situação se ela o torna infeliz, ao mesmo tempo cai na infelicidade de estar sempre buscando uma perfeição inalcansável. Não cabe a mim dizer qual desses individuos é o mais correto, por que penso que talvez isso dependa da própria pessoa. Talvez a experiencia compulsiva e a calmaria sejam duas fases pelas quais algumas pessoas precisam passar. Algumas vivem no eterno ciclo entre essas duas fases. Outras escolhem ou preferem uma delas e pronto. Mas na minha opnião, todos objetivam a calmaria, mas alguns tem medo dela. Medo de que ela saia pela porta e vá embora dizendo que tudo acabou.