sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Londres, São Paulo.

Eles tinham tédio e ele grandes olhos azuis. "Mostre-me seus seios", "Idiota, eu pensei que você fosse legal". Mesmo assim ela continuou o papo, é que ele era divertido e tinha um sorriso incrivelmente sincero, além da questão do tédio, que continuava. "Você é bonita". Ela o achou lindo, lindo, mas ficou quieta. Conversavam no idioma dele, ela se sentia insegura, não queria falar besteiras. Aquela empolgação doentia se apossou do coração dela, quais eram as chances dele aparecer? Quais eram as chances.. Minha nossa, que sorte tinha tido. Eles conversavam banalidades, se chocaram quando descobriram a banda preferida em comum, se chocaram quando começaram a falar de sentimentos, se chocaram porque não era nem ao menos chocante, era só coincidente, era só inusitado. "Quão entediada você estava pra entrar naquele site?", ela disfarçou a pontada de ofensa que sentiu por gostar do site e fingiu que era aquele o único motivo.. se ao menos ele conseguisse enxergar ela enrrubrecendo. Ela falou dos olhos e sorriso dele, ele disse que não gostava do segundo, ela não entendeu nada porque os dentes eram brancos e perfeitos, disse que ele não fazia sentido e ele riu. Como gargalhava aquele menino! Tinham a mesma idade, que engraçado, ela pensava, que engraçado ter a mesma idade.. ela sempre era mais nova e agora não era mais. Eles conversavam banalidades, a família dele morava na Califórnia, ela tinha brigado com a mãe, ele já tinha vindo pra São Paulo quando pequeno, ela era atriz. O tempo passou e o coração dela disparava cada vez que aquele sotaque e aqueles olhos se dirigiam a ela "Que sorte!", pensava. "Eu não entendi", ela falou mais vezes do que gostaria e ele sempre repetia paciente e sorrindo. "Eu tenho que ir, amanhã eu tenho coisas da escola pra fazer", três horas de diferença de um país pro outro, o dele escurrecia mais cedo e no dela já era tarde "Ah, não", ela disse, "Amanhã nos falamos, ok? Amanhã quero você aqui, amanhã de noite", "Então amanhã estarei aqui", ela respondeu sorrindo, "É sério, senão eu choro", ele brincou. E eles ficaram como um casal bobo dizendo "Não, eu que choro", até que ela disse "Ok, mas os dois estaremos aqui", "Estaremos", acenaram com as mãos. Ele foi embora e o coração continuava disparado, aquela sensação que há tanto tempo ela não experimentava, minha nossa, minha nossa! "Estou apaixonada de verdade", disse pra uma amiga. "Eu sei", ela respondeu. Sua cabeça girava e ela pensava no namorado que jamais chegou perto de destrancar a primeira chave do seu coração e agora esse estranho, esse completo estranho vinha e nem precisava de chave pra entrar, já estava lá, como se estivesse desde sempre. "Meu Deus", repetia, "Meu Deus". E colocou fotos novas para que ele pudesse ver e desmarcou compromissos que teria na noite seguinte pra estar lá como o combinado e começou a lembrar todas as perguntas que tinha deixado de fazer: "Será que ele gosta de Bowie? De Buñuel? De Bergman? E de Death Cab? Será que ele está pensando em mim? Óh, que tolice! Será que ele acharia meus desenhos bonitos? Será que ele realmente me acha bonita? Será que ele gosta de Burton? Será que ele vai gostar de Júpiter Maçã? E será que o Luis vai aprová-lo? Ora, que besteira, ele sempre aprova! Será que ele tem um perfume bom? Será que um dia ele volta pra cá?", ele ficou online novamente ao mesmo tempo que seu namorado falou com ela. Não tinha vontade de responder, não tinha vontade de fazer nada, queria conhecer ele melhor, queria ir pra lá. Ele: Londres. Ela: São Paulo. Eles..

10 comentários:

Erica Vittorazzi disse...

Como eu conheço esta história. Ela do interior de Sampa, ele de Sevilla...

Unknown disse...

Idem.

Ele de São José dos Campos, ela de Floriano - Piauí.

Abraços!

Anônimo disse...

Por favor, diz que essa história é verídica!!!

R. Barroso disse...

Diz que é verdade. Por favor.²

Tiburciana disse...

Ele Brasilia
Ela INteior de SP

Fernanda H.A. disse...

Se apaixonar é tão maravilhoso, a distância parece tão boba, os planos parecem tão fáceis de se realizar. Ah, eu ja estive nesse lugar. Um computador aqui e outro à milhas de distância, um atlântico inteiro impedindo a gente de morrer de tão feliz. Mas a gente tem sorte, a gente ponde sonhar!
Adorei aqui!

ps. Engraçado, alguns amigos também me chamam de Ferdi, acho bacana! :D

Anônimo disse...

Ai... até suspirei! Sou uma molenga viciada no "apaixonados way of living", sempre com esperança nas histórias felizes.

Uma vez, na era glacial, quase fui morar na Alemanha por causa de um amor.
A "personagem" tem que viver a história por todas nós que passamos algo remotamente parecido e suspiramos profundamente ao te ler.
Vingue os corações quebrados, Ferdi, please!
(era? verbo no passado??? não!!!!!)

Natacia Araújo disse...

E quem disse que existe distancia? Acabo de crer que não.
As retinas virtuais são as melhores quando dois distantes parecem estar no mesmo cômodo.
Adorei.

Érica Ferro disse...

Ah, Deus... eu tinha que ler isso, tinha!
Algo me chamava pra cá; não me arrependi, hehe.

Vivo uma paixão platônica e a distância.
E pra piorar, em silêncio.
Uma lasqueira só. =/

Enfim, obrigada pelo 'presente indireto'.

Gian Fabra disse...

é tão mais fácil abrir o coração para alguém que não se pode tocar, é quase um mecanismo de defesa... já caí nessa tb...
hj não caio mais, gosto de gente de carne e osso. Mas nada disso diminui o q se sente. O q é pior =)

escreve os próximos capítulos
bjs