sexta-feira, 15 de julho de 2016

Outros mundos.

Ajuda que aqui nem sempre seja aqui mesmo.
Ajuda que a gente possa colher ingredientes, transformar em poções, vender tudo pra comprar nossa casa e, quem sabe, adotar uma órfã.
Não ontem, mas vou ler mais a respeito.
Ás vezes, é como se a vida lá fosse mais viva que aqui, sonhei com isso.
Quando as coisas ficam difíceis você pausa e abre outro, agora a história é terrível, bíblica, a mãe que recebe de deus a ordem de matar o filho, mas nesse jogo você ganha, você consegue lutar contra o que te assusta, até gold você consegue acumular.
A alternância de realidades me ajuda a suportar a main quest da vida, pena que aqui eu ainda não achei clairvoyance e o menu do mapa não está abrindo.
Mas o dos outros está e é um alívio.
Um garotinho de fazenda ajuda os vizinhos pela cidade pra ganhar o suficiente pra um presente pra irmã, um bonequinho que conforme supera obstáculos uma música e um arco-íris bonito se formam.
Cada personagem, cada cenário, cada corrida perdida por conta de uma tartaruga azul na linha de chegada, cada fuga daqui permite que eu viva aquelas horas que fugi todas juntas.
Quando eu era pequena eu tinha certeza que era uma bruxa.
Ainda não tinha lido Harry Potter, até porque ele ainda não tinha sido escrito, mas eu jurava que, toda noite, ao invés de dormir, eu entrava em um portal que ficava na árvore da casa da minha avó, tinha um escorregador que levava eu e todas as crianças do mundo pra uma escola, pra diferentes escolas, aprender magia.
Os diretores da escola que eu frequentava era o Zordan e a Carlotinha, eu tinha até um livro de receitas e magia, ganhei do McDonalds, me ensinava tudo, era de onde eu tirava minha lição de casa, passava a tarde inteira, deitada no tapete, com a sombra da Linda (pitangueira já citada nesse texto) incidindo sob o chão, escrevendo feitiços, receitas de poções, qualquer coisa que me permitisse viver longe desse universo.
Universo onde cabe matar 80 pessoas em um dia de comemoração.
Universo onde a representatividade feminina na política é tão pequena que o governo faz propagandas pedindo pras mulheres se candidatarem e ainda assim a gente não se candidata "não vale a pena", ser tão desrespeitada e calada dói bastante.
Universo onde é ok assassinar bilhões de criaturas inocentes e devorar seus cadáveres em nome da gula. E quem se recusa que é ostracizado.
Universo em que vítimas de estupro são chamadas de vagabundas.
Onde é normal invadir o país alheio e matar a população civil, deixar milhares de órfãos, milhares de pessoas partidas em pedaços.
Universo de gente que se acha tão importante que acha que o planeta é seu, aprisionamos baleias pra tirar selfies com elas, separamos mães de seus bebês pra parecermos ricos no insta.
Universo onde filhos tem vergonha do afeto dos pais.
Universo em que pessoas são assassinadas por amarem alguém do mesmo sexo, por terem a pele da cor negra.
Universo em que a hiperssexualização de crianças causa revolta contra a criança.
Em que é normal abandonar animais.  É normal escravizar animais. É normal vender os bebês de animais.
Universo onde o que é considerado bonita é a mulher despida de toda sua força, cadavérica, precisa se mutilar, passar fome pra ser aceita.
Universo em que homem amoroso é humilhado e ofendido.
Universo em que crianças odeiam outras crianças, se juntam pra machucar outras crianças.
Universo em que os absurdos são tão incontáveis que eu vou parar por aqui.
Eu prefiro a fuga.
Eu prefiro meu vídeo-game.


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