domingo, 7 de junho de 2009

Nosso muro que aproxima. Ou "Haveria eu que agradecer?"

Éramos eu e ele, sempre sozinhos. Naquele mesmo lugar, sempre eu, às vezes ele. Andávamos de mãos dadas. Não, não andávamos, mas ele deve ter me dado a mão alguma vez, se eu fechar os olhos eu posso lembrar do toque dele nas minhas mãos, mas talvez possa ter sido num dos tantos sonhos que me acompanham desde que ele foi embora, não me lembro. Eu fechava os olhos pra aproveitar melhor o momento e guardar aquela felicidade intacta dentro de mim. Não, eu não fechava os olhos, só os comprimia na hora de sorrir, mas deveria ter fechado e deveria ter pego na mão dele. Eu ouvia a voz dele, a voz que era simplesmente dele, não era diferente do que eu imaginará porque eu não tive tempo de fantasiar voz alguma antes do meu celular tocar e eu ouvir a voz dele, que era dele e pronto, exigindo minha presença. Eu não imaginei o sotaque, nem o toque dos cabelos, tudo ficou na minha memória porque existiu antes de ser imaginado, nenhuma decepção, nenhuma diferença do meu ideal, porque o ideal era o que estava na minha frente. Nenhuma barreira intransponível, nenhum computador separando nossas palavras, só duas pessoas juntas e sempre sozinhas. Eu nunca vou esquecer aquele sotaque nunca antes imaginado e aquele jeitinho quase tímido que não trazia timidez nenhuma. Éramos um menino e uma menina andando sozinhos no nosso lugar preferido. Era um garoto que eu sabia muito bem como era, eu o via toda semana, trajado sempre de maneira coerente e com uma beleza ideal. Eu não ousava imaginar nada mais, ele estava lá e era o ideal, ponto. É claro que eu gostaria de me aproximar de alguma forma, mas como seria possível? Nós não tínhamos maiores desculpas e eu até poderia dar "oi" pra ele se quisesse, mas tinha certeza que isso só me deixaria com mais vontade de entregar toda minha vida pra ele, fosse em palavras, em pedaços de papel, em sorrisos ou com meus olhos. Eu queria que aqueles olhinhos quase mestiços olhassem pra mim inteira e não pra uma garota. E começou como se começam amizades, não era de amizade exatamente que eu falava, era de algo a mais, eu queria que ele dependesse de mim, mesmo que outrora achasse isso impossível, eu queria ser única pra ele, ser a musa dele. E então eu comecei a entregar fragmentos da minha alma, através da intransponível barreira que o computador representa. E o que eu faria toda semana a partir de então? Eu veria ele falar e a voz dele soaria como? Ele ia sorrir olhando pra mim? Uma coisa é a gente ver alguém sorrindo, outra coisa é quando elas sorriem olhando pra gente. E se eu não conseguisse falar com ele? Essa coisa de computador ainda me deixa louca, apesar de me ajudar mais do que qualquer outra coisa, é através dele que eu posso deixar de ser só uma garota. Então ele estava lá e eu podia dizer o MEU "oi" agora e não o "oi" embalado por amigos em comum. Eu disse meu "oi" e parti rapidamente antes que ele visse a vermelhidão das minhas bochechas, fiquei frustrada comigo mesma e fui terminar de assistir a aula pensando o quanto eu era babaca. A aula terminou e eu fiz hora, eu sempre faço hora, eu queria ver ele pelo menos indo embora, mas ele era uma pessoa normal - falando de vermelhidões e falar com conhecidos - e falou comigo, ele perguntou pra onde eu ia e eu tive que me justificar, de modos que quis morrer mas me justifiquei e fui recobrando minha dignidade. Ele foi embora comigo e ele sorriu olhando pra mim, o olho dele fechava de uma maneira mais bonita e acabava me deixando mais envergonhada do que eu previra.. A voz dele era tão doce quanto ele mostrava que seria enquanto ia se transformando de um garoto ideal de beleza a um garoto com alma diferente, ele foi embora. E desapareceu. E eu não sabia o que fazer na semana seguinte, fiz hora, que não deu tempo e desapareci. Ele reapareceu do outro lado do nosso muro de Berlim, que acaba por nos aproximar por não podermos estar perto. Então me reapareceu aquele sentimento de querer saber, quem ele era, por quê, me reapareceu o sentimento de poder ler o que ele dizia ininterruptamente durante 13 anos e jamais me cansar ou sentir entediada. E eu não verei ele na próxima semana.

2 comentários:

Marcus disse...

...E altamente manipuláveis também! hauhauhauahuahuahau

my life as raquel disse...

caaara! ameeeeeeei! *-*
tipo, me identifiquei muito com o seu texto, é perfeito! amei amei amei mesmo! *---*
adorei seu blog, tá de paarabéns! :D