sexta-feira, 26 de junho de 2009

Psicose feminina.

Se conheceram como pessoas normais se conheciam, o que não era muito normal pra ela. Numa dessas esquinas da vida um pensou que o outro poderia vir a ser interessante, se ambos frequentavam o mesmo lugar, alguma semelhança tinham. Ele morava na mesma cidade que ela, o que novamente não era nada natural para a mesma. Logo se quisessem se ver, um telefonema resolveria tudo, nada de esperas absurdas e saudades que corroem. Mas, mesmo com as diferenças, ela sempre gostava da mesma forma, era até engraçada a falta de criatividade da mesma. Tudo começava SEMPRE igual, mas já que cada um deles eram diferentes, os finais eram diferentes e sempre mui mui dramáticos - mesmo que não. Então foram as conversas, o incrível jogo de palavras que ela se tornara perita. Sabia como ninguém - mesmo com sua personalidade, aparência e inteligência nada atraentes - falar sobre verdades que a favoreciam, falava também das que não - já que, na cabeça dela e só lá - as pessoas gostavam de desafios. As conversas se estendiam indefinidamente, poderiam ficar anos se falando sem que qualquer um se cansasse. A verdade é que ela realmente falava muito bem e no começo era extremamente agradável, desapegada, divertida, descolada.. alguém que valia a pena gastar algumas horas junto -ou a eternidade. Qualquer garoto cairia e ela sabia disso, nem pensava que devia se sentir humilhada por fazer as pessoas gostarem de alguém que não era ela na verdade, mas não pensava isso - até com alguma razão - porque no começo era realmente agradável, desapegada, divertida e todo o resto, o problema só começava quando começava o gostar e, ah, disso ela sabia, mas pensava: Como uma pessoa pode alertar "olha, assim que você significar qualquer coisa pra mim me tornarei insuportável"? Primeiro que a pessoa - pensava ela - se sentiria muito mal quando ela estivesse legal: "Ah, quer dizer que eu não sou importante?" e segundo que correriam pra longe. Se sentia num beco sem saída, tinha deixado as conversas começarem e irem longe e ele já estava se tornando importante, mas se justificava: "Não, ele eu alertei bem", não que tivesse. Então começou a paranóia.. quando não o encontrava, surtava. Ou se ele não aparecia, ficava até o lugar fechar com esperanças de que ele aparecesse. Se não ligava, pensava: "Bem, que descanse em paz", porque só dessa forma ele poderia ter se esquecido dela. Até que passaram de "apenas bons amigos" para um "caso" e eis que o inferno começou na vida do pobre rapaz que jamais deveria ter gostado do chocolate quente daquela droga de lanchonete. Choros e mais choros, inventava desafetos, ciúme doentio. Mas ele gostava dela de verdade, então, pra provar isso, resolveu pedi-la em namoro. Ela aceitou, a paz se reestabeleceu durante três dias e começou tudo de novo.. Inseguranças, "ele não falou que casaremos um dia hoje". Ciúme, "a irmã dele disse que está com saudade". Afastamento dos amigos, "Não, não dá pra sair, vou ver ele". Possessão, "Então ele precisa de outras pessoas pra ser feliz?". E todas essa carga alegre que a vida romântica trazia na vida da nossa querida personagem, que, aliás, pode ser eu, você ou todos nós. Até que o pobre rapaz (que também pode ser qualquer um de nós), por mais que a amasse, resolveu que precisava viver sem ver ninguém chorar - acusando-o de culpado - todos os dias. E foi-se embora. Ela, como sempre, começou a cercar os amigos dele "ele disse alguma coisa?", depois a apelar, aparecia no trabalho do mesmo e chorava pro patrão dele, quando viu que não deu resultado, fez o de sempre: ligou. - Alô? - Amor, eu quero que você saiba que eu vou te amar pra sempre, apesar de você ter arruinado minha vida. Eu sei que a culpa não foi só sua, e eu mudaria se tivesse tido a chance, mas os homens são assim mesmo, só que agora eu cansei, cansei dessa vida, de amores fracassados, de não ser entendida, de não ser amada, cansei de falsas promessas, cansei de mentirosos, porque é, você é o maior mentiroso que eu conheço, ter a cara de pau de dizer que me ama é o cúmulo, você devia se envergonhar, mas não é sobre seu mau-caráter que quero falar. Na verdade só estou ligando mesmo pra dizer adeus.. pra sempre. *tu tu tu tu tu* - Alô? Pra sempre? Tá tudo bem? *tu tu tu tu* Então ela foi lá, fingiu que tentou se suicidar - aliás era especialista nisso e em auto-piedade - quando notou que ele não foi na casa dela mesmo depois da sua mãe ter ligado pro mesmo falando sobre sua tentativa de suicídio, começou a falar pros amigos dele o quanto ele era repudiável: "E nem assim pra me pedir uma desculpas. Sabe? Não quero mais nada com ele, não mesmo, só que ele me pedisse desculpas". Quando viu que os amigos dele agora pareciam sempre esquecer seus celulares em casa, apelou pra ele de novo e continuou apelando, até receber a notícia - exagerada - que ele estava entrando em depressão, desesperada pensando que eram febres de amor por outra, correu pra casa dele e só quando ele - seis meses depois do término - gritou chorando sinceramente que: "PELO AMOR DE DEUS EU SÓ PRECISO QUE VOCÊ ME DEIXE EM PAZ", foi que ela desistiu. Desistiu de insistir mas não de jurar amor eterno ao mesmo e dizer pra quem quisesse ouvir que "ia esperar" e que "um dia ele se dava conta da bobagem que fez enxotando a mulher da sua vida da mesma e voltava pra ela". Esperou como se espera a morte.. Por três dias. Até outro garoto fazer a bobagem de dar atenção pra ela.

Um comentário:

Scherow disse...

Menina, isso é seríssimo!
Acho que surtei também. ahahaha
Fico insistindo numa coisa e acho que a pessoa só quer que eu a deixe em paz. Mas não me manco... ahahaha
Legal o texto. Gostei mesmo.
Beijos! =D

ps: acho que vc escreveu sobre mim no seu blog sem me conhecer... ahahahaha