sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

So like a rose.

Eu as amo e amo tanto que só posso estar radiante. Elas vão viajar, passar muito tempo longe de mim, aprenderão tantas coisas, conhecerão tanta gente nova, tanta vida nova, outros sorrisos, outros humores, outros mundos. Voltarão tão melhores. Eu só posso estar MUITO feliz. Eu já sabia que ela tinha passado: - Dez minutos pra nossos destinos mudarem pra sempre. - Estou ansiosa. Estávamos em uma papelaria, elas queria ir embora, e eu hipnotizada por tudo não atendia ao chamado, elas me deixaram lá e se esconderam. Olhei o relógio: 14:04h. "Deveríamos estar sabendo se sim ou não há quatro minutos. Cadê aquelas malditinhas?" Encontrei-as dentro de uma loja de departamento: - Liga logo. Eu não sei porque estava tão ansiosa se já sabia a resposta. Ela tinha passado. O telefone tocava lento, criando uma falsa expectativa patética, sentia-me uma atriz. - Alô? Hmm.. Ai, ai.. Ela começara a chorar e foi esse o único momento que me senti cheia de esperanças (esperanças de que minha amiga, uma pessoa que eu amava, não tivesse conseguido algo que queria TANTO?), mas tão rápido quanto me veio se foi, lágrimas de alegria, claro, sua burra. Esperanças fugazes são piores que desolações definitivas. Ainda mais em situação assim.. "Eu passei, eu passei.." ela repetia emocionada, não sei concretamente o porquê, mas meu olhos se encheram com mais lágrimas que os dela e eu comecei a soluçar. As três no shopping, pessoas passando, eu queria dizer "Parabéns" e ao mesmo tempo queria detestá-la, ninguém sofre quando alguém que se detesta vai embora.. mas em que mundo seria possível detestar pessoa de olhos tão brilhantes e coração tão colorido? Queria arranjar culpados e culpei todo mundo, minha mãe pelo meu nascimento, a outra amiga por tê-la me apresentado, o chão por nunca ter engolido-me antes que minha Ursa fosse embora, antes que minha Ursa achasse outra Gata.. Nós duas estávamos no quarto dela, sozinhas em casa, eu falava da importância de não deixar-se podar: - Nós somos adolescentes e é maravilhoso que possamos agir como tal. Que dancemos e tenhamos gírias e apelidos imbecis, próprios de adolescentes, nós somos adolescentes, porra! E, veja, adolescentes falam palavrões, wow! Ela ria aquele sorriso que ia até os olhos, que evidenciava ainda mais a quantidade linda e absurda de cílios que aquela menininha possuía: - É, às vezes eu sinto falta de ser ridiculamente adolescente, sabe? De fazer isso que estamos fazendo ou colocar uma música boba e dançar simplesmente. Uma penteava o cabelo da outra alternadamente e eu sugeri que ela colocasse então qualquer música dançante e ela aderiu a sugestão, dançamos. Da maneira mais adolescente possível, caras e bocas, movimentos de Oompa-Loompas, jogadas patéticas de cabelos, por alguns minutos nos permitimos ser o que somos: Adolescentes. E foi maravilhoso. Ouvíamos Garbage e a música que vinha em sequência era "So Like a Rose", ela me mandou prestar atenção na letra. Ela é das poucas pessoas que eu olho bem fundo nos olhos, entendo toda a alma e não sinto medo nenhum, receio nenhum, entrar na alma dela é como entrar na minha própria, é quase natural e não dói, nossos olhos como sendo óbvio acesso a alma começaram a encher-se de lágrimas, então ela pegou minhas mãos, sentamos uma de frente pra outra e ela cantou pra minha existência: "The stars are out tonight (As Estrelas estão saindo essa noite) Only they can hear you breathing (Só elas podem te ouvir respirar) You're so like a rose (Você é como uma rosa) You're so like a rose (Você é como uma rosa) You're so like a rose (Você é como uma rosa) I wish you could stay here (Eu gostaria que você pudesse ficar aqui)" Eu queria gritar que EU ia ficar, eu ficaria pra sempre, eu sempre estaria alí, era ela quem estava indo embora, mas quando ela mesmo me deu, com muito cuidado, a notícia que nossa outra amiga estava indo morar um ano na Holanda dalí menos de um mês, quando ela me viu empalidecer só me pediu pra não sofrer assim na frente dela: "Já é tão duro nos deixar aqui sem que a gente mostre que vai ficar sangrando", parecia que já sabia que seria a próxima. Eu falei que as duas vão com menos de um mês de diferença? Meus portos-seguros, minhas maiores identificações, complementos. Momentos de filme com chuva, todas as bandas, todos os segredos, os medos, as filosofias, eram elas, só elas me entendiam inteiramente, com mágoas e eventuais arranhões eram só elas que estavam sempre ali, meus seguros colos. - Eu vou fazer minha festa de despedida dia 26. - Ah, eu estava pensando em fazer a minha dia 26, porque dia 27 vai ficar mais difícil.. - Podíamos fazer juntas, mas acho que ficaria muita gente, não íamos conseguir dividir as atenções e nem nos despedir. - Pois é.. Eu me sentia um lixo ouvindo aquela conversa das duas: - Eu não vou chamar vocês pra minha festa de despedida, vai ser dia 25, mas não chamo vocês não, vocês são toscas e eu que não chamo gente tosca pra festa minha. - Pra onde você vai? Perguntou confuso o namorado de uma delas: - Ela está brincando. Não consegue conviver com o fato que vamos fazer algo que ela não vai. Seria isso? Seria além da tristeza inveja? Não que eu soubesse, eu não deixaria minha amada São Paulo, não sem levar meu irmão, pelo menos e isso era impossível que eu pudesse carregá-lo pra qualquer lugar, além do mais tinham meus trabalhos, minha peça, a peça que eu estava desenvolvendo. O que ela quis dizer? Fui andando na frente magoada, além do quê o garoto que eu esperava ver não viria, a vida estava uma merda naquela merda de dia. Se eu fumasse teria acendido um cigarro.. Ainda no quarto dela eu tirei meu potinho de fazer bolhinhas de sabão da bolsa e fiz uma bem grande e bonita, disse: - Essa bolha é sua, guarda ela pra sempre. Ela segurou a bolha nas mãos com ternura e disse que guardaria: - Por que você está chorando? Eu vou voltar sempre. - Mas nunca vai ser a mesma coisa, são cinco anos.. Desabei. Você vai encontrar outra pessoa como eu e ela vai ter o mesmo sorriso e humor e vai ser esquisita e falar coisas que não farão sentido nenhum pra quem não conhecer o jeito dela, ela vai se fantasiar ao invés de usar roupa, vai gostar de teatro e ser obcecada por alguma banda freak, ela vai amar artes, todos os filmes que a gente ama, mas ela será ainda melhor, porque além de tudo ela gostará de Radiohead e vai ser tão mais engraçada.. Então você inconscientemente terá outra eu e isso é bom porque minha ausência não vai ser um fardo pra você, eu não quero que ela seja, eu quero que você seja sempre feliz, mas você vai me substituir e eu espero um dia chegar perto de ter alguém tão acolhedor e amável quanto você, eu duvido, mas espero muito, então nossas vidas.. - Pára de falar tudo isso, você não sabe o que eu sinto aqui dentro, você não tem idéia do quanto o que a gente tem é importante. Eu amo outras pessoas mas o que nós temos é único. Você chegou em um momento em que eu me sentia sozinha, excluída, incompreendida e de repente tudo que eu pensava você entendia, nós passamos infâncias iguais, embora sem sabermos da existência uma da outra, você fez minha vida fazer sentido de novo e fala como se uma mudança de cidade fosse apagar nossa amizade. Isso me magoa, Gato, isso realmente me magoa porque eu te amo muito.. Ficamos abraçadas por um tempo e pra cena não ficar dramática demais ela começou a dizer que meu cabelo era liso chato e eu comecei a atribuir poderes ao mesmo, porque na verdade ele realmente é mágico e tem poderes do tipo, se eu quero que ele fique curto e enrolado é só dar ordens mentais e ele até muda de cor e sai voando depois se cola de novo na cabeça e ele é um cabelo super especial, mas ela como uma boa menina de dezessete anos e mentalidade de cinco repetia "Liso chato, liso chato" e me mostrava a língua enquanto a gente parava de chorar.

8 comentários:

Unknown disse...

Estou extasiado. Comigo tbm foi assim, primeiro foi o meu segundo grande amigo, depois o meu primeiro grande amigo e eu fiquei assim sozinho, por mais que eles me visitem não é a mesma coisa e nunca será.

Abraços!

Unknown disse...

Nossa, eu já passei tantas vezes por isso. Eu sempre ia... Vivi tantas partidas tristes e importantes.. A gente nunca se recupera de verdade de algumas idas, mas precisamos aprender a conviver com isso..

Érica disse...

Menina, a gente sabe que certo é torcer, vibrar com a felicidade, com a possibilidade de ver alguém que a gente gosta se dando bem, mas é triste também. Eu bem sei como é... Quando o nosso lado egoísta quer botar as manguinhas de fora, acontece. O bom é o que fica, o que é de verdade não muda com o tempo,nem com a distância.

Beijos

Marcelo Mayer disse...

justamente por isso que tudo morre. flores, rosas, amores... deveriam inventar um amor de plástico... aliás... existe.. rs

Tiburciana disse...

Nossa Fer hj vi que não te sigo !!!
Mas já vou corrigir esse meu erro.
Segundo meu melhor amigo está em Madri trabalhando ele me faz tanta falta nós falamos todo dia por msn e skype mas o colo dele faz falta
Bjso

Érica Ferro disse...

A distância não pode matar o que a memória e coração já fez questão de perpetuar.

"Esperanças fugazes são piores que desolações definitivas."

Que frase, hein?! Amei esse trecho. Muito sábio.

Beijo, Ferdi querida.

Anônimo disse...

é.. tenho uma amiga longe e um cd do Garbage, acho que vou tocar essa musica pra ela..
(volta lilaaaaaa, snif)

Fernanda H.A. disse...

Parece um sonho, digo, a narração é como se você tivesse sonhado isso tudo.
Faz parecer mais aceitável.