domingo, 15 de fevereiro de 2009

Vl. Marlene, eu te amo!

Eu devo estar me mexendo mais do que o normal e falando mais alto do que imagino, porque já estão olhando, deve ser o mp3, tira toda minha noção de volume.

Eu adoro estar aqui, viu?

Adoro ficar esperando 3 horas por um ônibus, é tão gratificante. Obrigada por existir, Vl. Marlene, obrigada por parar na frente do meu prédio e obrigada mais ainda por demorar tanto.

O que mais se pode querer de um ônibus?

Ele pára na frente do meu apartamento, quase entra e me deixa no sofá, o que me impossibilita de pensar em pegar outros ônibus e demora mil anos há passar, que bênção!

Eu gosto tanto, mas TANTO de esperar ônibus que se o mundo fosse justo isso seria a única coisa que faria da vida.

Se as pessoas só fizessem o que gostassem eu passaria a vida ali, vendo os carros passarem, sentindo frio, vendo a chuva cair e casais felizes se agarrarem, sabe?

Se eu pudesse ficaria lá e esperaria o ônibus pro mundo inteiro, assim, quando pessoas que gostam de ler, fazer contas ou tocar piano tivessem que pegar um ônibus seria só entrar nele, porque eu já teria esperado, por todos eles.

Perfeito, não? Pena que o mundo é injusto e eu só posso esperar por mim.

CHEGA VL. MARLENE, eu vou respirar fundo, vou sim.

Pronto, estou respirando fundo, bem devagar, isso, estou legal.

Escutei um barulho de tiro, senti o mesmo passando por dentro da minha barriga, olhei o sangue jorrando, todo mundo saindo dos caros (o farol estava fechado), minhas pernas tremeram e quando eu ia cair morta percebi que tinha inventado essa história pra acabar com meu tédio. Que morbidez!

Mas tudo bem, eu vou aguardar tranqüilamente, viu? Porque eu te amo, Vl. Marlene, eu te amo.

Olha, acabei de assistir um filme angustiante, ontem vi o pior filme da minha vida, estou há dois dias sem teatro e você demora tudo isso por quê? O que eu te fiz? E por que o ônibus da Jenny teve que chegar tão rápido?

Porque, olha, eu poderia estar conversando agora, mas estou aqui. Você é tão injusto.

Por favor Vilinha, por favor, apareça.

APAREÇA!

Por Peter Pan, eu sempre sou paciente, você sabe, por que justo hoje? Eu vou chorar..

Ai, obrigada, obrigada, Vl. Marlene, eu te amo, eu te amo, ok?

Te amo muito:

- Boa noite.

- Boa noite.

Por que o motorista não me dá o troco? Aliás.. que motorista é esse? Eu conheço todos os motoristas do Vl., somos quase amigos, digo, quase conhecidos, se vise-os na rua sem ser a trabalho quase os cumprimentaria e aposto que eles fariam o mesmo. Que esse stranger está fazendo te conduzindo, Vl.?

Aimee Mann é um máximo mesmo, pelo menos tenho ela.

Eu devo estar parecendo deprimida pra caramba. Estou? É que, sei lá, você sabe que às vezes nem quero chegar em casa, que gosto do caminho de casa, mas hoje estou com uma angústia, talvez esse filme, sei lá.. Quero chegar em casa e justo hoje está demorando mais que o normal. O motorista novo não deve saber o caminho direito.

Estranho, essa menina parece conhecê-lo.

Free? Quê? Meu Zeus, como assim? Que liberdade é essa?

Então quer dizer que a última viagem é sem radinho? É "Free"?

Ele pode nos levar pra onde quiser? Pode acionar o botão secreto de vôo do ônibus e nos levar pra um laboratório secreto da NASA que fica no espaço? Ele pode se jogar da ribanceira com a gente no ônibus? ELE PODE NÃO PARAR QUANDO EU DER SINAL?

Céus, que medonho dar liberdade assim pra outro alguém. Eu não quero que ninguém seja tão livre, chega, casinha, chega..

- Moço, logo que virar a esquina da Margarida Gonçalves você pode parar por favor?

- Anh?

- Logo que virar você..

- Ah, paro sim.

- Obrigada, boa noite.

- Boa noite!

Ufa..

2 comentários:

Jenny Souza disse...

Nossa, eu acho que você me dá sorte viu, o meu ônibus nunca vem, nunca, hoje foi a terceira vez que peguei o 25 esse ano eu acho e duas delas eu estava com você, naquele mesmo ponto.¬¬

Eu confesso que também tive medo do motorista com cara de presidiário rancoroso do meu ônibus, ele deu umas três freiadas bizarras que eu jurava que daria em acidente, deu medo mesmo, teve até um momento que olhei por cima do banco para ver se não tinha mais ninguém no onibus. Tinha mais duas pessoas estranhas, ao menos me confortou saber que não morreria sozinha.
Credo eu e essa coisa de morrer, já esta virando caso clinico isso. hehe

Boa semana no teatro, grande beijo.

ps.: lywinti, gostei desse, parece nome elfico.^^

Ferdi disse...

Lywinti, verdade.
Vou dar esse nome a minha filha (se eu fosse ter uma, como não é o caso, darei a algum personagem), ahá!

Ônibus que demoram são coisas feitas pelo coisa ruim. (ass.: evangélica, bjs)

Obrigada, Jenny Jen, boa semana pra você na escola.